Encapuzados e portando armas de fogo, aproximadamente 40 homens, que estavam em motocicletas, atearam fogo no centro administrativo da fazenda Santa Marta, localizada na zona rural do município de Moju, distante 20 quilômetros de Tailândia, no nordeste paraense. A ação criminosa ocorreu por volta das 4h30 de ontem. Ainda segundo o dono da propriedade, o empresário Dario Bernardes, os desconhecidos também sequestraram pelo menos cinco trabalhadores e seus filhos - duas crianças -, cujos paradeiros eram desconhecidos até as 15 horas de ontem.
Dario afirmou que o grupo, que chegou à fazenda em 20 motos, incendiou 33 casas, escola, igreja, ambulatório médico e os dois veículos usados para o transporte dos funcionários e das crianças para o colégio. 'Eles queimaram as casas dos trabalhadores com tudo dentro', disse. O colégio funcionava em convênio com a Prefeitura de Moju. O empresário, que estima o prejuízo em R$ 2 milhões, estava preocupado com o que havia ocorrido com seus trabalhadores, sobre os quais não tinha qualquer informação.
Dario disse que tomou conhecimento da ação dos bandidos às 6h30 e que, pela manhã, esteve na Delegacia-Geral de Polícia Civil, em Belém. Ele afirmou que procurou a direção da instituição, mas só foi recebido pela delegada-assistente da Delegacia de Polícia do Interior, Andreza Franco. De acordo com o empresário, o sistema estava fora do ar e, por esse motivo, ele não conseguiu fazer o boletim de ocorrência (B.O.), para comunicar oficialmente aquela ação criminosa. 'Isso (o sistema fora do ar) no Pará todo. A polícia, hoje, não tem condições de registrar nenhum B.O.', disse ele. Também não possível registrar a ocorrência em Tailândia, que, segundo ele, está sem delegado de polícia desde sábado.
'Virou faroeste', garante proprietário
Dario Bernardes também disse que ligou para o quartel da Polícia Militar de Tailândia. 'Estamos com problema de viatura e só poderemos ir lá com a autorização de alguém superior', foi a resposta que ouviu. 'A segurança pública do Estado está completamente desestruturada. Virou faroeste', disse.
Ele acrescentou que não foram tomadas providências para apurar o ataque à sua fazenda. Também por falta de apoio policial, ele afirmou que não havia como ir à fazenda, para fazer um levantamento detalhado da ação dos bandidos. Na propriedade, de 22 mil hectares, há, ainda, campo de pouso, plantio de seringueira e produção de látex. Também há projetos de manejo na mata que faz parte da reserva florestal. Dario Bernardes disse que tem título de propriedade da fazenda, que está legalizada.
Segundo o empresário, a fazenda é uma das cinco áreas do Estado que estão totalmente legalizadas, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça. 'Está tudo certinho', disse.
Dario Bernardes afirmou que a fazenda já foi invadida outras três vezes - a última em novembro do ano passado, quando os policiais foram recebidos com muitos tiros.
'A polícia atirou, mas eles voltaram no mesmo dia. São marginais que cometem vários crimes e se escondem na fazenda. Eu nem posso mais aparecer por lá, senão me matam. E o pior é que a polícia não toma uma atitude, não sei mais o que fazer, por isso estou chamando a atenção da imprensa', disse.
Polícia desmente informações de Dario
Por meio da assessoria de comunicação da Polícia Civil, a delegada Andreza Franco, assistente da Delegacia de Polícia do Interior (DPI), confirmou ter sido procurada, pela manhã, pelo empresário. Ele queria registrar a ocorrência do fato, porém, em função da ausência do sinal gerado pela Prodepa, a empresa de processamento de dados do Estado, usado pela Polícia Civil para os registros de ocorrência, ele foi orientado a retornar à tarde.
A delegada disse que entrou em contato por telefone com o empresário, à tarde, confirmando que o sistema já estava no ar, e que ele poderia registrar a ocorrência. Uma escrivã foi deixada de aviso, na secretaria da DPI, apenas para fazer o registro. O empresário confirmou com a delegada que iria à DPI à tarde para fazer o boletim de ocorrência, contudo, até o final do expediente, não compareceu nem telefonou para dizer se ainda faria o registro. A DPI ainda está à disposição do empresário para que o caso seja registrado e devidamente apurado, acrescentou a assessoria de comunicação Polícia Civil.
O escrivão Hamilton Rodrigues informou que o gerente da fazenda esteve na Delegacia de Tailândia, ontem pela manhã, para registrar a ocorrência. Mas, depois de falar com alguém por telefone, decidiu não registrar o fato, alegando que esperaria que as próprias vítimas (os trabalhadores que foram levados pelos bandidos) fizessem isso. 'Ele esteve aqui, sim, mas não quis fazer a ocorrência. Disse que os sequestrados viriam aqui mais tarde. Mas não veio ninguém', afirmou o policial. A Polícia Militar também vai averiguar a informação do empresário, de que procurou, em vão, o quartel da corporação em Tailândia. (No Amazônia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário