Por Ana Carolina, jornalista, couchsurfer e autora do blog "Eu moro onde você tira férias":
Minha estadia em Havana com certeza me ensinou algumas coisas. Um aprendizado que, sem dúvida, não se tem normalmente nas escolas e nem nos livros.
Aprendi por exemplo a valorizar mais o tempo. Aqui, as horas passam lentas e a pressa não combina com o estilo de vida cubano.
Tampouco o transporte, as instituições ou mesmo a TV são adeptas dessa prática. Portanto, cada segundo meu, cada hora, cada dia, são aproveitados ao máximo. Coisa da qual não desfrutava há muito tempo, inserida na rotina frenética da vida paulistana.
Aprendi também a apreciar o que tenho. Garanto: nenhum livro de auto-ajuda ou guru espiritual poderia ter feito melhor. Cada cubano cuida de cada pertence seu, cada roupa, sapato, móvel da casa, pois ele sabe o quão difícil lhe é conseguir outro.
As coisas se consertam, se remendam, se reutilizam e se arrumam. E eu, tão acostumada a descartar e comprar outro, pelo simples poder de fazê-lo, aprendi que manter é saudável.
Ao mesmo tempo, entendi que repartir é importante. Não estou falando de caridade, estou falando de união.
Quantas vezes não tive vontade de comer tomate e minha vizinha e amiga repartiu os poucos e raros que tinha comigo.
Quantas vezes não me serviram o café que estava acabando, a comida que era contada, a fruta que seria café da manhã do dia seguinte.
Tentei retribuir, com o coração mais aberto que pude, e devo dizer que valeu a pena, mesmo.
Comecei a valorizar a comida que como. Não aquela de quando ia jantar fora em bons restaurantes, o que sempre adorei fazer, mas a que se põe na mesa todos os dias.
Ver como é difícil para as famílias garantir a refeição de cada dia aqui me deu a certeza de que não vou mais desperdiçar cada prato da tão abençoada e abundante comida que sempre comi no meu país.
Tenho uma grande amiga cubana que sempre diz que o sonho dela é comer arroz cujos grãos estejam inteiros (os que distribuem aqui vêm todos quebrados, os inteiros se compram nos mercados em dólar).
Quando na vida pensei no arroz que comi e agradeci porque estava inteiro? Quando dei valor ao banho quente, água corrente ou dias sem apagões?
Sei que para muitos vão parecer óbvias as conclusões que tirei acima. Outros inclusive vão dizer que sempre souberam disso e sempre deram valor a essas "pequenas" coisas.
Mas acho que cada um de nós, seres humanos, aprende à sua maneira. E posso sem dúvida afirmar que morar em Cuba foi talvez uma das maiores lições que tive na vida.
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