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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O PARÁ NÃO CONHECE O PARÁ

Artigo de Vicente Malheiros da Fonseca – magistrado, professor e compositor

Fala-se que o Tapajós veio na esteira do Carajás... Talvez seja o contrário... Carajás é que veio na esteira do Tapajós, cujo sonho já existe há mais de 200 anos.

Agora de nada adianta chorar o leite derramado.

Nada vai mudar. O Governo do Pará, aliás, o Governo de Belém, vai continuar ignorando o interior do Estado. Sempre foi assim e, infelizmente, sempre será.

Os latifundiários não querem perder um milímetro de sua propriedade, embora não saibam o que fazer com a imensidão de suas terras.

A grandeza do Pará não está no seu tamanho territorial, mas na inteligência e eficiência de sua administração.

É uma pena que o resultado do plebiscito tenha sido tão antidemocrático aos velhos anseios de emancipação de uma região tão socioculturalmente diferente de Belém.

Santarém – minha terra tão querida – vai continuar sendo a "Pérola do Tapajós"... que Belém precisa conhecer... Conhecer a cultura do povo do Oeste do Pará...

Mas não fiquemos tristes, pois o Brasil, como os paulistas, por exemplo, não conhece o resto de nosso país. Tudo um jogo de poder. E quem paga o pato são sempre os amazônidas, especialmente os nossos caboclos, quase índios... Há quem pense que aqui só tem jacarés e onças.

Mas não é bem assim. Tem música, tem belezas naturais, tem folclore... Só não tem mais saúde, segurança e educação porque o Governo (de Belém) praticamente ignora o outro Pará, sempre abandonado, sempre esquecido.

O resultado do plebiscito demonstrou, mais uma vez, essa dura realidade: o Pará não conhece o Pará!

Não foi uma eleição. Não havia candidatos nem partidos políticos. Tratava-se de uma consulta ao povo. E o povo votou contra o povo. Não permitiu, enfim, a emancipação de uma região já emancipada de fato.

O momento me inspiraria a compor um réquiem para a democracia.

Estamos de luto.

Realmente o Pará não conhece o Pará[1].



[1] Veja o artigo “ESTADO DO TAPAJÓS, UM VELHO SONHO”. Revista Amazônida, ed. nº 101 (15.set.-15.out./2011), p. 32-33.

Confira: http://www.revistamazonida.com.br/#/Revista%20Amazonida%20ED.96/32

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