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quarta-feira, 21 de março de 2012

DEMOLIÇÃO DOS GALPÕES DO CAIS DO PORTO

Por Carlos Lisboa de Mendonça, santareno, magistrado aposentado da Justiça do Trabalho, residente no Rio de Janeiro:

Nenhuma notícia na imprensa a despertar o interesse público; nenhuma prévia declaração oficial! Nada sobre motivos ou destino que terá a área. Alguma construção será erguida em seu lugar? Nenhuma? Qual o interesse que promove a demolição? Para “conteiners” áreas imensas existem logo atrás. -- Silêncio total! Mais um fato consumado, a descaracterizar a cidade de Belém. Saído de que cabeça? Sabemos que quanto mais obtuso é o pensamento, mais completa o figurante considera a sua sabedoria. E nisso reside o maior perigo!

Certamente, aqueles galpões não são construções intocáveis. A Estação das Docas constitui um exemplo disso. Porém, alguma satisfação deveria ter sido dada previamente ao povo. Afinal de contas, não se trata de propriedade particular do eventual burocrata, para assumir responsabilidade pelo certo e pelo errado.

Nossa zona portuária é muito mais do que uma construção desativada. Do passado, pelo papel que representou testemunha grandiosa época. No presente, pelo que nos revelam sua extensão descomunal, seu porte imponente, a homogeneidade de suas linhas e o material utilizado em sua construção (o mais nobre da época), conserva-se como exemplar vivo, de época importantíssima de nossa História. Não só quanto a economia, quando o Pará era a locomotiva a conduzir os vinte estados da Federação, mas também quanto aos homens que o governavam (e aos seus auxiliares), imortalizados pelas as obras magistrais que nos deixaram, constituindo até hoje a melhor parte, da evolução de nossa cidade.

A abertura dos bairros do Marco, da Pedreira, do Jurunas e outros, com belas ruas e avenidas, para abrigarem na época, modestas residências das famílias mais pobres da cidade. A construção de verdadeiros palácios, como o Instituto Gentil Bittencourt, e seu congênere no município de Santa Isabel, entregues a freiras, para educação das órfãs, concedendo-lhes novos horizontes, para torná-las a “célula mater” geradora de novas famílias (Dona Umbelina Lobato, casando com abastado seringalista acreano, exemplifica o êxito da iniciativa). O Instituto Lauro Sodré internato e escola profissional, com oficinas bem montadas, a receber os jovens de famílias carentes do Estado. Alfaiates, mecânicos, marceneiros, ferreiros, eletricistas e outros, instruídos por competentes mestres, de lá saiam. Eu conheci remanescentes desses últimos, acabrunhados, encostados, sem função, recém-aposentados (Desvirtuado, o prédio abriga hoje o Tribunal de Justiça do Eatado).

Os prédios da Prefeitura Municipal e Palácio do Governo (lamentavelmente despidos também daqueles predicados), do Teatro da Paz, do Mercado de São Brás, dos mercados da carne e o do peixe no Ver - o - Peso. O bosque Rodrigues Alves (Jardim Botânico), o museu Emílio Goeldi (por ele organizado); o complexo de reservatórios Agua Preta e Bolonha; as praça da República - com o chafaris das sereias, as estátuas e monumentos que a adornam; a de Batista Campos, o largo do Palácio com seu relógio inigualável e o monumento à Guerra do Paraguai e ao General Gurjão. A Caixa d’Agua que ficava por trás da Fabrica Palmeira, verdadeira obra prima, projetada e construída pelo genial Eiffel, imortalizado por sua famosa torre de Paris. E quanta coisa mais!

Toda a área central, incluindo o comércio nobre da João Alfredo, que já foi orgulho, mas hoje jaz abandonada. Prefeitura, Governo do Estado e Tribunal, ja debandaram, tendo sido entregue tudo, propositadamente, aos marreteiros e à camelotagem.

Verdadeira veneração, pelos cuidados que mereceram na sua origem, deveriam merecer essas obras, incluindo os galpões do Cais do Porto que estão desmontando e talvez sejam oferecidos para serem remontados em lugar remoto, despersonalizados com o correr dos anos, desvalorizados, na orfandade. Quando deveriam permanecer onde estão e apenas reinventados, para diferentes funções, como ocorreu com a Casa das Onze Janelas, com o Polo Joalheiro, com o Hangar ou com o Mangal das Garças. E como poderá acontecer com tanta coisa mais, existente e despercebida de nossa cidade, que, porém, descoberta, poderá ser reinventada, se encarregarmos dessa tarefa, alguém com talento ou genialidade.

Então, em vez de demolidas, ou esquecidas pelo remonte em outros lugares, poderão servir de modelo a glorificar administradores mais capazes, que certamente surgirão, pelas obras que realizarem; ou poderão servir de parâmetros, ao povo, para criticar as dilapidações da cidade, cometidas pela mediocridade. Como a do Centro Comercial, por exemplo.

Nada de entregar o seu destino a bisonhos inovadores, sem noção da importância que possui a alma de uma cidade. Respeito e aprovação pública será o mínimo que deveremos exigir. Por acaso, esse complexo portuário não integra o patrimônio cultural de nossa cidade? Não dizem que estamos em uma democracia?

Com que fim e quem será o encarregado do projeto (se é que existe), são pontos muito importantes. Agora mesmo, assistimos a ampliação da Passarela do Samba, na Av. Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, ser acompanhada e aprovada por seu criador original Oscar Niemaier, apesar de seus 93 anos de idade e em cadeira de rodas. Tratando-se de barbaridades, porém, ali também ninguém é consultado.

Da mesma maneira, mesmo sem procuração, chamo atenção para um jovem arquiteto que possuímos: o Dr. Paulo Chaves Fernandes, autor das bem sucedidas intervenções arquitetônicas, nas obras já mencionadas, além de outras. Será uma felicidade para Belém e grande esperança de pleno êxito, se não o deixarem de fora nesses novos desmontes. Raras são as pessoas de talento excepcional que surgem nos países e nas cidades, em cada especialidade. Com sorte, aparece uma a cada 50 ou 100 anos. Não podem ser desperdiçadas, por cegueira administrativa, ciúme profissional ou interesse da politicagem. Mais do que aproveitadas, devemos explorar sua capacidade, até a extrema velhice. Errôneo seria eu não mencioná-lo, por falso pudor. No trato das coisas da Belém antiga e do seu aproveitamento moderno, sem descaracterizá-las, bem demonstrada já está a sua capacidade. O bom senso exige sua participação, para que do atual desmonte, não resulte irreparável dano, como o da Fabrica Palmeira, o do Grande Hotel, o da Caixa d’Água de Eiffel, além de outros, trocados por nada.

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