O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes afirmou nesta
terça-feira que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria a
"central de divulgação" de intrigas contra ele e que a tentativa de
envolver seu nome no esquema do empresário Carlos Augusto Ramos, o
Carlinhos Cachoeira, tem como objetivo "constranger o tribunal" para
"melar o julgamento do mensalão".
"O objetivo [de ligar seu nome ao de Cachoeira] era melar o julgamento
do mensalão. Dizer que o Judiciário está envolvido em uma rede de
corrupção. Era isso. Tentaram fazer isso com o Gurgel e estão tentando
fazer isso agora", afirmou o ministro, fazendo referência às críticas
recebidas pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, por ter
segurado investigação, em 2009, sobre a relação entre Cachoeira e o
senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).
Mendes diz que, durante um encontro com Lula no escritório do advogado
Nelson Jobim, o ex-presidente teria insistido em argumentar que o
mensalão não deveria acontecer neste ano. Após ouvir do ministro do
Supremo que o julgamento deve, de fato, ser realizado em breve, Lula
teria então começado a fazer ilações sobre a possibilidade de Mendes ser
investigado na CPI do Cachoeira.
A assessoria de Lula afirma que ele não vai comentar as declarações de
Mendes feitas hoje. Ontem, o ex-presidente divulgou nota dizendo estar
"indignado" com a versão, que foi relatada pela revista "Veja" e não é
corroborada por Jobim.
Ontem, Gilmar Mendes disse que desde sempre defendeu a
realização do julgamento do mensalão ainda este semestre. "Não era para
efeito de condenação. Todos vocês conhecem as minhas posições em matéria
penal. Eu tenho combatido aqui o populismo judicial e o populismo
penal".
O ministro Gilmar Mendes (dir.), do Supremo, acusa Lula de comandar 'central de divulgação' de intrigas |
"Mas por que eu defendo o julgamento? Porque nós vamos ficar
desmoralizados se não o fizermos. Vão sair dois experientes juízes, que
participaram do julgamento anterior, virão dois novos, que virão
contaminados por uma onda de suspicácia. Por isso, o tribunal tem que
julgar neste semestre e por isso essa pressão para que o tribunal não
julgue", completou.
Visivelmente irritado e com o tom de voz alterado, Mendes diz que foi
alvo de "gângsteres", "chantagistas" e "bandidos", que estavam "vazando"
informações sobre um encontro que teve com Demóstenes, em Berlim, e que
a viagem teria acontecido após Cachoeira disponibilizar um avião ao
senador.
"Não viajei em jatinho coisa nenhuma. Vamos parar com fofoca. A gente
está lidando com gângsters. Vamos deixar claro: estamos lidando com
bandidos que ficam plantando essas informações", disse o ministro, que
apresentou notas e cópias de suas passagens aéreas emitidas na TAM pelo
Supremo Tribunal Federal.
Questionado se o ex-presidente Lula estaria entre os tais bandidos e
gângsters, Mendes apenas respondeu que ele está "sobreonerado" com a
tarefa de adiar o julgamento do mensalão. "Estão exigindo dele uma
tarefa de Sísifo [trabalho que se renova incessantemente]", disse. Ele
não disse quem seriam "eles" a exigir a tarefa.
Mendes afirmou ter dito a Lula que vai a Berlim como o ex-presidente vai
a São Bernardo, que frequenta a cidade europeia desde 1979 e que possui
atualmente uma filha que vive lá.
Segundo o ministro, ele não precisa de "fundo sindical, nem dinheiro de
empresa" para viajar. Mendes citou que apenas um livro seu, o "Curso de
Direito Constitucional", vendeu mais de 80 mil cópias desde 2007 e que
com o dinheiro poderia dar "algumas voltas ao mundo".
"Vamos parar de futrica. Não preciso ficar extorquindo van para obter
dinheiro. O que é isso. Um pouco mais de respeito", afirmou.
O ministro, então, relatou que entre 2010 e 2011 viajou duas vezes para
Goiânia em aviões cedidos por Demóstenes Torres, mas que tais fatos são
públicos. Segundo Gilmar Mendes, mesmo se, na ocasião de Berlim, o
senador goiano tivesse oferecido uma carona, isso não seria um problema. "Eu poderia aceitar tranquilamente. Estava me relacionando com o senador
que tinha o mais alto conceito na República. Até pouco tempo nós
discutíamos com ele todos os projetos".(Folha.com)
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