De tempos em tempos, a família real
é acusada de onerar demasiadamente os cofres públicos da Grã-Bretanha.
De fato, manter as imensas propriedades reais demanda uma quantia em
dinheiro considerável a cada ano. Somente o Palácio de Buckingham -
residência oficial da rainha e onde está localizado seu escritório, em
Londres - abriga nada menos que 775 cômodos em uma colossal estrutura de
77.000 metros quadrados (o equivalente a 8,5 campos de futebol). Mais
de 800 funcionários circulam pelo local em funções que variam das mais
comuns, como limpeza e manutenção, até algumas impensáveis, a exemplo
dos responsáveis pela limpeza de lareiras e pelo hasteamento de
bandeiras. Em um ano normal, a rainha abre suas portas para mais de
50.000 pessoas, em banquetes, almoços, jantares e recepções. Calcule-se,
por baixo então, que mais de 3 milhões de convidados já tenham sido
recebidos por Elizabeth II em seus 60 anos de reinado - completados este ano.
Elizabeth II e seu marido, príncipe Philip
Para arcar com todos esses custos, há quatro fontes públicas de renda
para financiar a rainha, seus familiares e funcionários: a Lista Civil,
que atende às necessidades da monarca como chefe de estado e da
Comunidade Britânica (Commonwealth); um fundo destinado exclusivamente
aos gastos públicos e pessoas da realeza; um fundo especial do governo
para a manutenção dos palácios reais; e, por fim, um fundo especial do
governo para viagens, incluindo custos aéreos e ferroviários para
deslocamentos associados a compromissos oficiais.
Mas esses é apenas o ônus de se manter a família real mais tradicional e
conhecida do mundo. Mas é também esse status de celebridade conferido a
ela que abre caminho para um bônus ainda maior a todo o país. Segundo
um estudo divulgado no início desta semana pela consultoria britânica
Brand Finance - especializada em avaliação e gestão de marcas -, o valor
comercial da realeza britânica já supera 44,5 bilhões de libras (mais
de 139 bilhões de reais). A pesquisa sugere que, se fosse colocada à
venda como qualquer outro negócio, a monarquia valeria mais do que as
redes de supermercado locais Tesco (33 bilhões de libras) e Marks &
Spencer (7,4 bilhões de libras) juntas, por exemplo. Assim, a coroa não
só devolve todos os seus gastos aos cofres públicos como também leva uma
série de benefícios ao país, principalmente em forma de turismo,
hospedagem e publicidade gratuita em torno de sua imagem.
Visitantes passeiam perto do Palácio de Buckingham em Londres
Somente Festa de Jubileu da rainha - que teve início ontem, sábado
e segue até terça-feira - deve representar um lucro em turismo de 924
milhões de libras (quase 2,9 bilhões de reais). Do valor total da
"marca" família real, 18 bilhões de libras (56 bilhões de reais)
cobririam o valor das joias da coroa e das propriedades reais,
considerados bens materiais por ora intocáveis. Já os outros 26,5
bilhões de libras (82,9 bilhões de reais) referem-se aos benefícios
econômicos imediatos, ao impulsionar o turismo e a indústria local. "A
monarquia é um poderoso apoio para marcas de indivíduos, de empresas e
do próprio país. Ela contribui de forma significativa para impulsionar o
crescimento econômico da Grã-Bretanha em sua tentativa de tirar o país
da recessão", destacam os especialistas responsáveis pelo relatório.
Segundo David Haigh, presidente-executivo da Brand Finance, a realeza -
ao ser colocada dentro dos círculos das finanças corporativas com valor
de capitalização de mercado - é visto como uma das marcas mais valiosas
do país. O documento analisa desde ativos físicos - como a coleção de
obras de arte que sozinha vale 10 bilhões de libras - e intangíveis -
como resultado da publicidade gratuita feita no exterior (cerca de 500
milhões de libras por ano). Somado, esse montante supera em muito os
valores gastos em segurança (3,3 bilhões de libras), na Lista Civil (461
milhões de libras), em viagens (195 milhões de libras), entre outros.
"Tudo isso é compensado pela sua contribuição à economia da
Grã-Bretanha, especialmente durante grandes eventos reais, como o casamento de William e Kate no ano passado e o Jubileu neste ano", acrescenta o estudo. É compreensível, portanto, que a rainha Elizabeth II esteja contabilizando popularidade recorde em um país onde 70% da população acredita que o país estaria pior sem a monarquia.
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