Por Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado, foi secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo e presidente da OAB-SP.
A advocacia passa por uma grave crise de valorização, de respeito e
de credibilidade marcada pela incompreensão sobre o seu papel
institucional e social.
A sociedade desconhece a razão de
ser da advocacia; a mídia propositadamente a confunde com o cliente e há
quem lhe impute responsabilidade até pelas mazelas do Poder Judiciário.
Como participantes da administração da Justiça, parece que nós
advogados apenas somos tolerados porque nosso mister tem previsão constitucional.
Não obstante, imploram a nossa
presença e a reconhecem como indispensável quando estão às voltas com
conflitos individuais ou quando as prerrogativas inerentes às suas
instituições estão em risco.
Apesar do grande empenho de inúmeros e destacados líderes para a plena revalorização da profissão, a crise perdura e cresce.
Note-se que alguns dirigentes da OAB se
satisfizeram em ostentar os respectivos cargos, mas consideraram o seu
exercício um fardo insuportável e nada fizeram. Outros os transformaram
em um palco propício à exploração midiática e à promoção pessoal.
Ademais, há dirigentes preocupados exclusivamente com temas distantes
daqueles de interesse da advocacia, que ficam relegados ao esquecimento.
Cumpre à OAB o trabalho de revalorização da profissão. Para que
ela possa cumprir esse papel, é preciso que seus diretores,
conselheiros e membros das comissões estejam imbuídos do ideal de
servir, com desprendimento e olhos postos nas reais necessidades da
advocacia.
Assim, a OAB não pode ser vista ou tratada como um clube recreativo ou social, como mera ação entre amigos ou como um espaço para conquistas no campo profissional.
A
postulação aos cargos se justifica dentro dos limites traçados pela
vontade de servir e pela coerência com ideias e ideais. Sem a exposição
sincera de um ideário claro e objetivo, deve-se desconfiar das intenções
daquele que postula.
Aprendi a fazer política de classe em
uma época em que se acreditava na advocacia como agente transformador da
sociedade, como uma via de aperfeiçoamento do Judiciário e como um
instrumento eficaz para a construção de um país melhor. Esforços
não eram poupados por nós, como porta vozes dos anseios, das aspirações
e das angustias de uma profissão já em crise e de uma sociedade carente
de canais transmissores de suas reivindicações. Éramos meio quixotescos, inconformados, rebeldes, insatisfeitos, perseguíamos utopias para transformá-las em sonhos, em realidade.
Nos
dias de hoje, embora muitos militantes da política de classe se
conduzam daquela forma, parece haver uma tendência ao individualismo e
ao pragmatismo.
O apoio a uma das chapas em disputa
fica na dependência do cargo oferecido. Pouco importam o programa de
gestão e as soluções propostas para os
problemas específicos. Inúmeras questões relevantes não são
consideradas, desde que os interesses individuais sejam satisfeitos.
Não se trata de pessimismo, trata-se de uma análise realista, mas não derrotista.
Sua reversão vai depender, de um lado, do desprendimento e do espírito público daqueles que se dispuserem a dirigir a OAB e,
de outro, dos eleitores, que deverão discernir e escolher os que
estiverem efetivamente comprometidos com o bem comum da advocacia. Será
preciso colocar o joio bem distante do trigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário