"(...) Nós, jornalistas, agimos, sim, como abutres. Agimos assim muitíssimas vezes. Gostamos, sim, de dar prevalência ao negativo. Sobretudo quando o negativo é, como dizemos, uma notícia que vende, que rende. Muitíssimas vezes, levamos à enésima potência aquele conceito errôneo de que jornalista só é jornalista - independente, invendível e intangível na sua honorabilidade - se viver por aí sentando a pua em tudo e todos, proclamando ao mundo que todos e tudo é um lixo. Ao contrário, há coleguinhas que acham, ou melhor, têm certeza de que jornalista, se fizer um elogiozinho só, está vendido, é venal, é um sacripanta de marca maior ou é um chenzeiro (é assim que se escreve?), assim denominados os que pegam chen (é assim?), a gíria no jornalismo equivalente ao jabá no rádio e na televisão, ambos significando um dinheirinho por fora para publicar notícias. Abutres que parecemos, nós, jornalistas, não gostamos de ser chamados: preferimos alguma coisa com os paladinos que defendem a sociedade. Somos os tais auditores da sociedade. Todos - ou quase todos - nos consideramos os intocáveis, os vigilantes, que estão sempre atrás de uma porta para gritar "te peguei" quando descobrem alguma coisa de imoral, de ilegal ou que engorda. Mas se nós, jornalistas, reconhecêssemos nossa propensão natural para abutres, talvez fôssemos menos abutres. E mais jornalistas". (Paulo Bemerguy, jornalista - Blog Espaço Aberto)
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