Por Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro - Jornal do Brasil:
Este mês de agosto,
a mãe Igreja dedica-o às vocações. Na primeira semana contemplamos a vocação
para o ministério ordenado: diáconos, padres e bispos. A proximidade das festas
de São João Maria Vianney e de São Lourenço, diácono e mártir, marcam essa
orientação. Mas gostaria de me ater hoje à vocação à vida sacerdotal, que tem
aumentado em nosso país. A figura e o exemplo do Cura d’Ars abre este mês
vocacional.
Em 2009-2010 foi celebrado o Ano Sacerdotal em função do
150º aniversário da morte do Cura d’Ars. O santo padre Bento XVI apresenta-o
como um modelo para os sacerdotes de hoje. Como tem de ser um
padre, hoje, na cena deste mundo em grande transformação? O presbítero é o homem
da Palavra de Deus, o homem do sacramento, o homem do “mistério da
fé”. Os padres, como nos ensina o Concílio, “têm o dever
primário de proclamar o evangelho de Jesus a todos os homens” (Presbyterorum
ordinis, 4). Mas, nesta proclamação, está o dever também de levar cada
homem e cada mulher deste mundo a um encontro pessoal com
Cristo.
Hoje, mais do que antes, devemos proporcionar
possiblidades para que cada pessoa possa fazer esta experiência do encontro com
Deus, e o devemos fazer com uma renovada esperança, mesmo nas adversidades de um
mundo extremamente secularizado, hedonista, materialista, ateísta e
indiferente. As pessoas devem perceber no sacerdote um algo
maravilhoso, ao qual ele está a serviço — o que chamamos na teologia de
configuração com Cristo.
Nesta dimensão, encerra-se a sua vital presença na
celebração eucarística, ápice da vida espiritual da Igreja, em que o sacerdote
age na pessoa de Cristo. Em suma, o sacerdote deve ser um homem que está em
contato permanente com Deus, e que nos leva a fazer a mesma experiência de
santidade. A mais sublime missão do sacerdote hoje é, sem dúvida,
ser um Cristo agora. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e
sempre”.
O grande salto qualitativo na vida de qualquer padre
seria uma autêntica renovação, que é possível e necessária, e também uma grande
afeição a uma plena e radical fidelidade à Palavra de Deus e à tradição da
Igreja, aos quais ele serve no seu ministério. O sacerdote é chamado a ser um místico, e
que, ao mesmo tempo, se interessa pelas coisas do mundo, pela vida do homem nas
suas angústias e alegrias, para que elas se tornem algo sagrado e agradável ao
Senhor. O sacerdote deve trazer as pessoas, em singular
atitude de viva expressão da fé, ao essencial e ao decisivo de uma autêntica
caminhada de espiritualidade cristã — discurso este que se torna complicado num
mundo do descartável e do superficial.
Espero e peço a Deus que possamos, assim como
o santo padre Bento XVI, na oração para o Ano Sacerdotal, repetir junto com
todos os nossos padres, e com o mesmo fervor do Santo Cura D’Ars, as palavras
que ele costumava rezar: “Eu te amo, Senhor, e meu único desejo é amar-te até o
último suspiro da minha vida”.
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