Gurgel, procurador-geral da República, pediu a prisão de 36 dos 38 réus
O potencial beneficiário de alegadas falhas no trabalho do Ministério
Público Federal é o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, apontado
como "mentor intelectual" do que Gurgel chamou de "mais atrevido caso de
corrupção e desvio de recursos no Brasil com o objetivo de comprar
parlamentares".
A corte está dividida. Alguns ministros do Supremo usarão o que
consideram fragilidades da acusação para votar pela absolvição dos
principais réus do processo, que começou a ser julgado na quinta-feira,
2. Outros magistrados, mesmo com reprovações à peça acusatória,
mostram-se dispostos a condenar os protagonistas do escândalo que abalou
o governo Luiz Inácio Lula da Silva em 2005.
Denúncia. "É uma denúncia para a galera", disse uma
autoridade que acompanha o caso desde o início. Segundo ela, o erro da
acusação foi não ter imputado a Dirceu o crime de lavagem de dinheiro - o
ex-ministro responde por corrupção ativa e formação de quadrilha. No
início, acrescentou, acreditava-se que tinha sido "bobeada" do
Ministério Público Federal, do então procurador-geral Antonio Fernando
de Souza, autor da denúncia.
Além de Dirceu, na avaliação de especialistas, deveriam ser
denunciados formalmente por lavagem de dinheiro o ex-presidente do PT
José Genoino e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares - ambos assinaram
empréstimos com o Banco Rural que o Ministério Público afirma serem de
fachada, feitos para não serem pagos e o dinheiro, usado no pagamento de
compra de votos no Congresso."Os que tinham o domínio financeiro do esquema ficaram de fora da
lavagem de dinheiro. Formação de quadrilha, apesar de apelo midiático,
não leva a nada", disse outra autoridade que acompanha de perto o
processo.
Assim como Dirceu, também Genoino e Delúbio respondem por formação de
quadrilha e corrupção ativa. Ambos ficaram de fora do enquadramento por
lavagem de dinheiro, atribuído aos deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e
Pedro Henry (PP-MT) e ao ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil
Henrique Pizzolato.
O crime antecedente à lavagem - requisito obrigatório para
caracterizar o crime - foi o desvio de dinheiro público, segundo
autoridades que participaram das investigações sobre o esquema. "A
lavanderia foi pensada por eles. O PT se viu na necessidade de criar um
sistema financeiro. Dirceu precisava de uma estrutura de lavagem de
dinheiro. Delúbio tinha domínio, Dirceu tinha domínio, Genoino tinha
domínio, eles não tinham que responder por lavagem de dinheiro?",
questiona um técnico que assessorou do início ao fim a CPI dos Correios.
Para esse técnico, prender no auge da investigação o empresário
Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do mensalão,
seria o tiro no coração do esquema. "Ele (Marcos Valério) não resistiria. Havia motivos para a
prisão, estava destruindo provas, foi flagrado. Mas a prisão do Marcos
Valério não foi decretada", lamenta o técnico. (Estadão)
Nenhum comentário:
Postar um comentário