PROFECIA
“Sei que vou morrer - não sei o dia:
Levarei saudades da Maria.
Sei que vou morrer – não sei a hora:
Levarei saudades da Aurora”.
As palavras que ficaram atrás
São de Ataulfo Alves,
O soberano dos compositores negros.
Agora, as minhas,
O proletário dos profetas brancos:
Eu sei que vou morrer – mas não sei quando –
E deixo esse palpite tão nefando:
De tudo quanto vi, ouvi, apreciei
Na pátria amada, sem moral, sem lei,
Concluo – pé na cova – e aqui anoto.
Eu sempre quis o meu Brasil perfeito,
Mas esta droga velha não tem jeito!
Só bomba atômica ou terremoto
Que acabe tudo, que a pó reduza tudo
Para um Cabral nos descobrir, de novo
Pode criar o meu país perfeito!
O resto é... corrupção e vexame,
Impunidade, roubo, safadeza.
Nasci, vivo e morrerei.
Na infernal nação da desonestidade!
Olavo Bilac, o poeta ingênuo,
Ensinou, há dez milhões de anos:
“Criança!
Não verás país nenhum como este!
Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste!”
Não há, de fato, nenhuma pátria como esta...
Amar tanta sem-vergonhice, com fé e orgulho,
É obra de idiotas, de doidos varridos.
Viva o Brasil brasileiro,
Terra de samba e pandeiro,
Malandro e trambiqueiro!
Tenho pressa de descansar em paz,
No meu caixão, na minha sepultura,
No Céu!
Bye, bye, Brasil!
(Emir Bemerguy - janeiro/1989)
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