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segunda-feira, 1 de julho de 2013

EMIR BEMERGUY - UM SÁBIO!

Texto de Vicente José Malheiros da Fonseca

EMIR HERMES BEMERGUY (filho de Vidal Macedo Bemerguy e Raimunda Ribatejo Bemerguy) nasceu no Vale do Tapajós (Fordlândia, Pará), em 4 de março de 1933 e reside em Santarém há mais de meio século. Começou a estudar em Belterra (PA) e prosseguiu os estudos no Colégio Dom Amando (Santarém) e no Colégio Nazaré (Belém). Graduou-se em Odontologia (1956) e exerceu a profissão por 30 anos. Em 1958, casou-se com Berenice Maria de Souza Bemerguy – sua colega de turma na Universidade Federal do Pará – com quem teve seis filhos: Emir Filho, Vidal Antônio, Telma Suely (falecida), Márcia Regina, Lúcio Ércio e Lila Rosa, além de Socorro (adotiva), que lhes deram os netos Vitor, Maitê, Rafael, Marcos, Tiago, Telma, Mateus, Mauri e Maria Clara. Durante 25 anos exerceu o magistério nos Colégios Santa Clara e Dom Amando, ministrando aulas de Física, Química, Biologia, Higiene, Ciências Naturais, Puericultura, Francês e Português; e também foi professor de Estudos dos Problemas Brasileiros nas Faculdades Integradas do Tapajós (FIT), em Santarém. Seresteiro, tocador de violão, apreciador da boa música e compositor, manteve por vários anos o programa “Poemas e Canções”, na Rádio Rural de Santarém. Dedicou-se ainda à literatura, como escritor e poeta. Escreveu inúmeras crônicas, contos, romances e possui mais de vinte livros de prosas e poesias (cerca de 700 poemas), quase todos inéditos. É autor dos livros “Aquarela Mocoronga” (1984), coletânea de poemas sobre a magia, as lendas, a natureza e aspectos humanos da vida santarena; “Diário de um Convertido” (2000); “Momentos Poéticos” (2007) e “Santarenices – Coisas de Santarém” (2010), estes últimos editados pelo Instituto Cultural Boanerges Sena e apoio da Prefeitura Municipal de Santarém (Governo Maria do Carmo Martins Lima). O seu quarto livro reúne crônicas escritas originariamente para o antigo Jornal de Santarém, no período de 1966 a 1998, inclusive os perfis de diversas personalidades da história da cidade, como Aloysio Melo, Osmar Simões, Francisco Coimbra Lobato, Wilson Fonseca (maestro Isoca, meu pai), Carlos Meschede, Everaldo Martins, Manoel de Jesus Moraes, Zeca BBC, Vicente Malheiros (meu avô materno) e outros. Foi organizador da “Antologia dos Poetas Santarenos”, edição comemorativa dos 337 anos de Fundação de Santarém (1661-1998), Prefeitura Municipal de Santarém – Coordenadoria de Cultura, Gráfica e Editora Tiagão, 1998. Há 30 anos escreve em jornais de Santarém (“Jornal do Baixo Amazonas”, “Hiléia Amazônica”, “Tapajós” e outros). Publicou artigos dominicais (mais de 700) no jornal “O Liberal”, de Belém, desde 1977, e foi colaborador dos Diários Associados.

É autor de uma dezena de composições próprias e de mais de uma centena de letras de músicas compostas por Wilson Fonseca (maestro Isoca), inclusive hinos de diversas instituições, como o Hino da Festa de N. S. da Conceição (1971). Em 1993, recebeu o “Troféu Felisbelo Sussuarana”, prêmio máximo da literatura santarena, concedido pela Associação de Poetas e Escritores do Oeste do Pará. Por muitos anos coordenou a comissão organizadora da Revista do Programa da Festa de N. S. da Conceição, onde escreveu numerosos artigos.

Artigo especial para o Programa da Festa de N. S. da Conceição, Santarém (PA), 2010. Desembargador Federal do Trabalho, Professor na Universidade da Amazônia (UNAMA) e Compositor.
É membro efetivo e vitalício da Academia de Letras e Artes de Santarém, na Cadeira nº 38, cujo patrono é o Bispo Dom Tiago Ryan, em sucessão ao Bispo Dom Lino Vombommel.
O poeta Emir Bemerguy é parceiro musical de três gerações da família Fonseca. De parceria com meu avô José Agostinho da Fonseca (1886-1945), Emir escreveu, em 1970, a letra da Canção do Forasteiro (samba) – adaptação da música O Relógio (parte integrante da revista teatral “Eu Vou Telegrafar”, de Felisbelo Sussuarana, de 1925); e a letra, em 1986, do schottisch Idílio do Infinito (1906), a primeira composição musical escrita em Santarém (PA).


Aliás, a Canção do Forasteiro foi cantada por mim, acompanhado do Conjunto “Os Mocorongos”, na gravação do LP “Santarém do Meu Coração” (6ª faixa do lado B), que registra músicas executadas na memorável “Semana de Santarém”, realizada no Theatro da Paz, em Belém (PA), em outubro de 1972. Confira no livro “José Agostinho da Fonseca – O Músico-Poeta” (Wilmar Dias da Fonseca), Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1978, Belém/Santarém (PA), p. 152. Eram integrantes do Conjunto “Os Mocorongos”: Wilson Fonseca (piano), José Agostinho da Fonseca Neto (órgão e contrabaixo), Vicente Fonseca (violão), Djalma Vasconcelos (bateria) e Conceição Fonseca (ritmista).

E quanto ao Idílio do Infinito, transcrevo o registro que fiz na biografia que venho elaborando sobre meu avô José Agostinho da Fonseca: “A sua primeira composição, o schottish Idílio do Infinito (1906), foi executada pela Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, na Casa da Cultura, em Santarém (PA), em 17 de novembro de 2006, com arranjo orquestral elaborado por seu neto Vicente José Malheiros da Fonseca, especialmente escrito para comemorar o centenário desta peça, considerada a primeira música escrita na Pérola do Tapajós, durante o lançamento da coletânea ‘Meu Baú Mocorongo’ (Wilson Fonseca – Maestro Isoca), editada pelo Governo do Estado do Pará, data em que também ocorreu a inauguração, pela Infraero, do busto do seu filho no Aeroporto de Santarém (PA) – ‘Maestro Wilson Fonseca’ (Lei Federal nº 11.338, de 03.08.2006 – DOU 04.08.2006)”.

Emir Bemerguy escreveu diversos textos poéticos para músicas compostas por meu pai Wilson Fonseca (1912-2002), que se tornaram clássicos do cancioneiro santareno: Adeus, Vera-Paz; Cabocla Tapajônia; Canção da Vera-Paz; Curupira; Feira Santarena; Hino da Festa de N. S. da Conceição; Peixada na Praia; Quando Canta o Uirapuru; Saudade da Seresta; Sonho Predileto; Triunfal Consagração; Hino do Colégio Santa Clara e tantas outras.
Confrade na Academia de Letras e Artes de Santarém, Emir Bemerguy é também meu parceiro em 15 obras musicais, como autor de belos textos poéticos. A parceria se iniciou com a música Queixumes do Fim, que completou, em 2008, 40 anos. Na ocasião, universitário de Direito, eu estava em Santarém passando férias. Em seguida, veio a Missa Popular, tocada nas missas celebradas pelo Padre Raul Tavares de Sousa, na Casa da Juventude (onde morei quando universitário), em Belém. Foi cantada na missa de Colação de Grau das Pedagogistas de 1970, no Colégio Santa Clara, de Santarém, de que faziam parte minha irmã Maria da Conceição e Maria Zuíla Lima Dutra, colega de magistratura trabalhista e esposa do jornalista Manuel Dutra. [Compus outras peças sacras, como a Ave Maria (dedicada ao Papa Bento XVI); Cânticos em homenagem a Santíssima Trindade (letra: Padre Ronaldo Menezes); e Maria – Ave Maria dos Migrantes (Coro a 4 vozes mistas e Órgão), vencedora no Concurso Nacional de Composição de Música Sacra (2010), promovido pela Paróquia Nossa Senhora de Boa Viagem – Igreja Matriz de São Bernardo do Campo (SP)].
O Hino do Coral de Santarém tem parceria tríplice: Emir, Wilson Fonseca e eu. Fiz a introdução e a 1ª parte. Meu pai, o estribilho e o arranjo para coro. A Praça da Matriz é a quarta música de nossa parceria. Depois vieram o samba Jóia de Deus, o Hino das Olimpíadas do Colégio Dom Amando, Lenda da Vitória-Régia, Lenda da Mãe D’Água (estas duas cantadas pelo Coro Carlos Gomes, em Belém, sob regência da maestrina Maria Antônia Jimenez), a valsa Eliane (para os 15 anos da homenageada, filha de Wilmar Frazão, no Centro Recreativo), o samba-enredo Tempos de Criança (encomendado pelo artesão e cantor Laurimar Leal, dirigente da Escola de Samba Ases do Samba, para o carnaval santareno de 1978), o Hino ao Centenário do Theatro da Paz (dedicado ao maestro Waldemar Henrique, a quem entreguei a partitura para canto e piano; depois escrevi outros arranjos, inclusive para orquestra sinfônica) e a canção Saudade Perfumada (que subintitulei de Elegia para Telminha, sua filha).

Falemos um pouco da Praça da Matriz. Em 1975, o poeta Emir Bemerguy enviou-me um belo soneto, escrito em 1970. Seu título: Praça da Matriz. Compus então a marcha-rancho, gravada pelo cantor Ray Brito e o Conjunto Os Hippies (de Odilson Matos), onde tocava o meu irmão José Agostinho (Tinho). A música tornou-se muito conhecida em Santarém. Meu pai (Isoca) elaborou um arranjo, tocado pela Banda (atual Filarmônica) Municipal Prof. Agostinho. Desse arranjo sobraram apenas as partes individuais de alguns instrumentos, segundo me disse o primo João Paulo, filho de Wilde Fonseca (tio Dororó), dirigente da banda. Resolvi fazer outro arranjo para orquestra, ainda inédito. Elaborei diversos arranjos para a Praça da Matriz, um deles gravado em CD pelo Coral da FIT-Faculdades Integradas do Tapajós, sob regência da maestrina Ádrea Taiana Figueira Lopes.

Por ocasião dos 348 anos da fundação da Pérola do Tapajós (22.06.2009), como parte integrante da programação do Projeto Produção de Réplicas e Catalogação dos Prédios Históricos da cidade, realizado pelas Faculdades Integradas do Tapajós, foi afixada uma placa, na Praça da Matriz, que contém a letra e a partitura musical da Praça da Matriz, cantada pelo Coral da FIT. Não pude ir a Santarém, mas enviei um texto de agradecimento. Na verdade, a obra musical constitui homenagem do poeta e do compositor à secular Praça da Matriz de Santarém.

Na década de 70, já magistrado, toquei a Praça da Matriz na Banda Prof. José Agostinho, no coreto da praça, durante a Festa de N. S. da Conceição, em companhia de pedreiro, alfaiate, tratorista, biscateiro, pescador e outros operários humildes. Todavia, naquele grupo musical não estava o magistrado, mas o executante de sax-horn e barítono, todos sob a direção de meu pai e meu tio Dororó. Que saudade daquele tempo: ‘pedaços coloridos de uma vida’., como diz o belo poema de Emir. Naquela época, Emir me escreveu uma cartinha em que alertava: “Diz o Eclesiastes que, na vida ‘chega a hora para tudo’.. Percebo, encantado, que soou, nos relógios de Deus, o momento de o jovem e talentoso amigo ser acometido por uma bendita, crescente e incurável febre criativa, em termos de música! Não tome qualquer chá, nem se sujeite a benzeduras: deixe que a moléstia o envolva inteiramente, para o deleite de todos nós! ‘Praça da Matriz’.. Linda marcha-rancho!” Digo eu: lindo poema! Quando me recuperava de uma intervenção cirúrgica, em agosto de 2000, Presidente do TRT-8ª Região, duas coisas eu fazia todos os dias, em convalescência: a leitura do livro “Diário de um Convertido”, de Emir Bemerguy; e a audição da 9ª Sinfonia, de Beethoven, uma de minhas músicas preferidas (especialmente, o maravilhoso Adágio), agradáveis companhias, que certamente ajudaram na minha cura. Salve o grande poeta e parceiro Emir Bemerguy. Um sábio!
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VICENTE JOSÉ MALHEIROS DA FONSECA é desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, músico e compositor. É filho do saudoso Maestro Wilson Fonseca, o Isoca.
Leia mais aqui >Cantinho do Emir
E aqui >Saudade Perfumada

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