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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O belo nascimento do menino Miguel

Por Elio Gaspari, jornalista - O Globo
Foi o poeta João Cabral de Melo Neto quem disse: “Não há melhor resposta que o espetáculo da vida”. É raro que ocorram episódios comoventes na esfera privada de políticos brasileiros. A imediata divulgação pelo governador Eduardo Campos, de que seu quinto filho nasceu com a síndrome de Down, e a forma com que ele e sua mulher, Renata, lidaram com isso justificam a transcrição da mensagem que postaram na quarta-feira:

“Hoje, os médicos confirmaram o que já estava pré-diagnosticado há algum tempo. Miguel, entre outras características que o fazem muito especial, chegou com a Síndrome de Down. Seja bem-vindo, querido Miguel. Como disse seu irmão, você chegou na família certa! Agora, todos nós vamos crescer com muito amor, sempre ao seu lado”.

Esse tipo de comportamento revela não só o afeto de uma família, como serve de exemplo. Crianças nascidas com essa síndrome às vezes inibem os pais, infelicitando-lhes as vidas. Houve época em que eram raros os casos como o de Charles De Gaulle, cuja filha Anne nasceu com ela.

Eduardo Campos e Miguel, seu filho. Foto: Aluisio Moreira / Divulgação

O general que liderou a Resistência francesa e governou o país por mais de dez anos, até 1969, era conhecido por sua reserva pessoal. Raramente ria ou brincava, salvo se estivesse com Anne. Com ela até cantava, fazia teatrinhos e tomava beliscões nas bochechas. Nunca se afastou da menina e levou-a consigo para a Inglaterra quando a França se rendeu à Alemanha. A moça morreu em 1948. Vinte e dois anos depois, quis ser sepultado ao seu lado.

Conduta muito diferente de Joseph, o patriarca da família Kennedy. Ele educou seus filhos num padrão de competitividade doentia. Quando Rosemary, a filha mais velha, mostrou-se depressiva e lenta no aprendizado (nada mais que isso), submeteu-a a uma lobotomia experimental. Deu tudo errado. Aos 23 anos, ela perdeu a fala e andava com dificuldade. Esconderam-na num asilo e os pais não a visitaram. Rosemary terminou seus dias em 2005, aos 86 anos, tendo sobrevivido a três irmãos homens e a uma irmã que se tornara marquesa.

Felizmente, no Brasil, ocorreram mudanças exemplares. Em 2011, Romário levou sua filha Ivy a um evento contra a discriminação. O mesmo fez o ministro Dias Toffoli, do STF, com seu irmão José Eduardo.

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