O plenário do Senado aprovou montem (27), em dois turnos,
emenda constitucional que prevê a expropriação de terras rurais e em
cidades quando for confirmada a prática de trabalho escravo. Na
expropriação, não haverá indenização ao proprietário do imóvel, e as
terras serão destinadas à reforma agrária e a programas de habitação
popular. Apesar da iniciativa dos parlamentares, será preciso aprovar
uma nova lei regulamentando exatamente o que é “escravidão”.
Atualmente, o Código Penal detalha “condições análogas à escravidão” e
as define como situações em que o trabalhador é sujeitado a trabalhos
forçados ou a jornada exaustiva, a condições degradantes de trabalho e a
restrições de locomoção por conta de dívidas contraídas com o
empregador. Para os senadores, porém, a falta de uma lei específica para
tipificar o crime de escravidão dificulta que a PEC do Trabalho
Escravo, aprovada ontem, produza efeito imediato.
Pelo texto aprovado, uma lei posterior precisará elencar
as características de exploração do trabalho escravo para que haja a
expropriação de terras e imóveis urbanos e para que irregularidades
diversas, como infrações trabalhistas, não seja confundidas com
escravidão. O senador Romero Jucá (PMDB-RR) é relator do projeto de lei
que deve delimitar o conceito aplicável ao trabalho escravo e minimizar
os riscos de não haver uma base jurídica clara sobre o assunto.
Nem mesmo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem uma
definição clara sobre o que é escravidão. A Convenção 29 da OIT, por
exemplo, faz referência a trabalho forçado ou obrigatório no caso de
“trabalho ou serviço exigido de um indivíduo sob ameaça de qualquer
penalidade e para o qual ele não se ofereceu de espontânea vontade”. A
exemplo do Código Penal, a Convenção 105 da OIT, por sua vez. fala
apenas em “condições análogas à escravidão”.
“Há a preocupação de estados com atividades econômicas calcadas no
campo que não vai haver nenhuma expropriação de forma irresponsável. Uma
lei vai definir de forma clara o que é trabalho escravo”, disse o
senador Jayme Campos (DEM-MT). “Não tem no mundo quem concorde com
trabalho escravo. Essas pessoas [empregadores] não são protegidas pelo
Senado. Aquele que pratica escravidão merece ser punido radicalmente”,
afirmou a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO).
De acordo com o senador Romero Jucá, a lei para definir o que é escravidão e trabalho escravo pode ser votada na próxima semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário