Detalhe do exoesqueleto desenvolvido pelo cientista
brasileiro Miguel Nicolelis, com a bola oficial da Copa do Mundo, a
brazuca
Minutos antes do jogo entre Brasil e Croácia desta quinta-feira, um jovem paraplégico, usando uma armadura robótica comandada pelo cérebro, vai entrar em campo, caminhar e dar o chute inicial do campeonato. A estrutura que será exibida no estádio Itaquerão é uma demonstração de como a união entre a neurociência e as máquinas poderão, em breve, fazer com que pessoas que perderam os movimentos estejam caminhando nas ruas.
Exoesqueleto desenvolvido pelo cientista brasileiro Miguel
Nicolelis: em menos de dez anos, equipamentos assim, compostos de
diversos sensores, ajudarão paraplégicos a andar
Para fazer o robô, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis reuniu uma equipe de 156 pessoas (entre cientistas, técnicos e pessoal de apoio) de 25 nacionalidades. Com o nome Andar de Novo, o projeto recebeu financiamento de 33 milhões de reais do governo brasileiro. Os testes foram iniciados em novembro, com oito jovens entre 20 e 40 anos. Um deles dará o pontapé inicial.Realidade virtual — Batizada de BRA-Santos Dumont 1, a veste robótica que apoia os movimentos ainda não foi descrita em detalhes em artigos científicos. A equipe de Nicolelis, cientista da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, onde dirige um laboratório de neuroengenharia desde 1994, divulga as informações sobre as etapas do projeto em uma página no Facebook e no Portal da Copa.
O exoesqueleto, como é chamado o robô, é uma interface cérebro-máquina (ICM) que vai ler os comandos cerebrais e dirigir o robô. Para aprender a andar com ele, os oito jovens, pacientes da Associação de Assistência à Criança Deficientes (AACD), reaprenderam os comandos mentais que dirigem os movimentos em um ambiente de realidade virtual construído em laboratório. Com sensores de eletroencefalograma (EEG) acoplados à cabeça, os paraplégicos fizeram com que um avatar caminhasse por meio do pensamento. Assim, lentamente, o cérebro refez as conexões para dirigir o exoesqueleto. O treinamento também simulou o estádio com os gritos da plateia, como se fosse o dia do início da Copa.
Quase seis meses depois do início dos testes, um dos pacientes conseguiu dar doze passos com o exoesqueleto dentro do laboratório. Em 3 de junho, Nicolelis afirmou que o exoesqueleto completou com sucesso o teste no gramado do Itaquerão.
Como se fosse uma parte do corpo — Uma das inovações propostas pelo cientista, ao lançar o projeto, em 2011, foi prever sensores especiais que providenciassem um feedback tátil. Por meio deles, o corpo paraplégico teria a sensação de tato dos membros paralisados. Essa percepção é importante para caminhar porque é ela que envia ao cérebro informações fundamentais para a localização espacial, coordenação, equilíbrio e força.
No exoesqueleto, essa sensação seria captada por placas flexíveis de circuitos integrados ao pé do robô, que a transmitiria a eletrodos acoplados ao braço do paraplégico, que os envia aos neurônios. Com o tempo, o cérebro aprenderia a entender esses sinais como se eles viessem do corpo — ou seja, como se o exoesqueleto fosse mais um membro do organismo. "É a primeira vez que um exoesqueleto é controlado por atividade cerebral e oferece feedback aos pacientes", declarou Nicolelis à agência de notícias France Presse.
Mais aqui > Paraplégico 'vestindo' robô dará chute inicial; saiba como funciona
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