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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Geriatra revela como melhora a vida de pacientes com doenças incuráveis

Para a geriatra Ana Claudia Quintana Arantes (foto) a busca pelo sentido da vida não é uma questão retórica, mas algo que ela persegue incansavelmente todos os dias. E isso vale não só para ela mesma, mas também – e principalmente – para os pacientes que atende. Especializada em medicina paliativa, a doutora Ana cuida de pessoas que têm doenças incuráveis e em franca progressão. Mas não pense que ela encara a morte de seus pacientes, que é iminente, como derrota. Ao contrário. “Em medicina paliativa você sabe que fez um bom trabalho quando vai dar o atestado de óbito e os familiares estão de olhos vermelhos e em paz”, diz , com tranquilidade.

Lidar com a morte com naturalidade – e tirar disso muita beleza e significado – foi um processo longo e difícil para essa paulistana que acaba de completar 46 anos. Percurso que custou a ela dois episódios depressivos – um quando estava na faculdade e outro, depois de formada. A própria história de vida de Ana, que conviveu com uma irmã deficiente e cuidou dela em seus momentos finais, certamente contribuiu para que ela se tornasse a médica que é hoje.

Atualmente, Ana se divide entre dois mundos bem distintos: atende no Hospice Jaçanã, instituição da zona norte paulistana ligada ao Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo (USP), que tem dez leitos subsidiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e também atende no Hospital Israelita Albert Einstein, que é considerado um dos melhores do país. “Sou uma médica privilegiada porque passo parte do meu dia no Einstein e outra no SUS”, conta, com o sorriso largo, que é sua marca registrada.

Manto protetor
Cuidado paliativo é uma área da assistência à saúde que cuida das pessoas quando elas estão diante de uma doença grave, incurável, sem possibilidade de tratamento e de controle e que ameaça a continuidade da vida. O cuidado paliativo também se aplica ao diagnóstico de uma doença desse porte, mas que ainda não está em uma progressão, em que ainda não há o risco de morte. Nesse caso, a atuação é no sentido de minimizar o sofrimento provocado pela doença. Paliativo vem do latim pallium, que quer dizer manto. O pallium é o manto que os cavaleiros das cruzadas usavam para se proteger das intempéries. Cuidado paliativo é o cuidado de proteção contra o sofrimento que a doença traz, já que não é possível mudar o curso dela.
Além do corpo
O cuidado paliativo oferece uma assistência multidimensional, porque cuida não só do sofrimento físico, mas também do emocional, do espiritual, do familiar e do social. Trata-se de uma assistência multidisciplinar também, já que envolve vários profissionais (psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, fisioterapeutas etc.).

O paciente que está sob cuidados paliativos recebe uma assistência muito mais completa do que se só recebesse cuidados para a doença em si. Isso implica em qualidade de vida com sentido e significado. Porque está cheio de gente que tem qualidade de vida, que tem onde morar, o que comer e o que vestir, mas leva uma vida completamente sem sentido. Qualidade de vida tem de necessariamente estar atrelada a sentido de vida. No caso desses pacientes, por exemplo, se eles chegaram aonde chegaram, precisam saber exatamente por que estão aqui e para que ainda vão viver, porque eles têm pouco tempo pela frente. Para eles, essa questão é ainda mais premente do que para qualquer outra pessoa.
Verdade é remédio
Ainda há quem acredite que não se deve contar a verdade ao paciente porque ele não vai aguentar. Como não vai aguentar se a doença está nele? Agir assim é deixar o paciente alienado, tratá-lo como criança.

A verdade é como remédio, se você der uma dose alta, ela é tóxica. Ela tem de ser bem dosada, dita com cuidado. Eu não chego para o paciente e digo: “Você vai morrer”. Contar para alguém sobre seu estado de saúde é um processo.

Do momento em que os pacientes chegam ao Hospice até eles falecerem a média é de 15 dias. Eles chegam aqui naquela fase em que a doença está em franca progressão e sem possibilidade de controle. Já tive casos de pessoas que chegaram e morreram duas horas depois e outras que viveram por mais três ou quatro meses.

Quando o paciente dá entrada no Hospice, sempre pergunto se ele tem curiosidade de saber o que está acontecendo. Já teve gente que me pediu para conversar com os parentes – mas é raro. Na verdade, vou explorando o que o paciente já sabe. Quase todas as vezes, só confirmo o que ele pergunta: “Eu tenho câncer, não é, doutora?”. “E tenho pouco tempo de vida, não é?” Meu papel é acompanhar os pacientes nesse processo, porque eles já tiraram suas conclusões.

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