Uma área quase cinco vezes maior do que a cidade do Rio de Janeiro foi destruída na Amazônia Legal entre agosto de 2012 e julho de 2013. Os dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que a devastação da mata foi 29% maior do que no período anterior. Trata-se do primeiro aumento do índice nos últimos quatro anos. Ambientalistas temem que o desmatamento ganhe novo pique a partir de agora. Segundo o mapeamento, 5.891km² da cobertura florestal foram derrubados, comparados aos 4.571km² desparecidos entre 2011 e 2012. O aumento do desflorestamento já havia sido diagnosticado em um documento prévio, em novembro do ano passado.
— Se o próximo levantamento confirmar o aumento da devastação da cobertura vegetal, podemos ter um sério problema para retomar o seu controle — alerta Paulo Moutinho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). — Mas, mesmo que não haja esse crescimento, não podemos nos contentar com um corte de mais de 5 mil quilômetros quadrados de floresta. Ela vai acabar do mesmo jeito, mais rápida ou mais lentamente.
Francisco Oliveira, diretor do Departamento de Apoio de Política para o Combate ao Desmatamento na Amazônia, órgão do Ministério do Meio Ambiente, admite que é necessário aumentar as operações de fiscalização e de regularização fundiária. Segundo ele, além de prender os grileiros encontrados no campo, é preciso identificar os mandantes das devastações.
— Dois dos problemas no Pará são a especulação imobiliária e a grilagem em estradas — revela Oliveira. — O aumento do preço do ouro no mercado internacional também aumentou o garimpo na região. No Norte do Mato Grosso, onde estão os grandes produtores de soja, temos que lidar com a expansão da pecuária.
Para Moutinho, a transformação da floresta em pasto é motivada pela demanda internacional por commodities. Há, no entanto, outras questões ignoradas pelo governo.
— Os investimentos em infraestrutura estão sendo realizados sem salvaguardas ambientais — protesta. — Os PACs, as estradas, as hidrelétricas avançam sem essa preocupação.
— Se o próximo levantamento confirmar o aumento da devastação da cobertura vegetal, podemos ter um sério problema para retomar o seu controle — alerta Paulo Moutinho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). — Mas, mesmo que não haja esse crescimento, não podemos nos contentar com um corte de mais de 5 mil quilômetros quadrados de floresta. Ela vai acabar do mesmo jeito, mais rápida ou mais lentamente.
Francisco Oliveira, diretor do Departamento de Apoio de Política para o Combate ao Desmatamento na Amazônia, órgão do Ministério do Meio Ambiente, admite que é necessário aumentar as operações de fiscalização e de regularização fundiária. Segundo ele, além de prender os grileiros encontrados no campo, é preciso identificar os mandantes das devastações.
GRILAGEM, COMMODITIES E OBRAS
O diretor destaca que, embora a Amazônia Legal seja composta por nove estados, 59,1% do desmatamento mapeado ocorreram em apenas dois: Pará e Mato Grosso. — Dois dos problemas no Pará são a especulação imobiliária e a grilagem em estradas — revela Oliveira. — O aumento do preço do ouro no mercado internacional também aumentou o garimpo na região. No Norte do Mato Grosso, onde estão os grandes produtores de soja, temos que lidar com a expansão da pecuária.
Para Moutinho, a transformação da floresta em pasto é motivada pela demanda internacional por commodities. Há, no entanto, outras questões ignoradas pelo governo.
— Os investimentos em infraestrutura estão sendo realizados sem salvaguardas ambientais — protesta. — Os PACs, as estradas, as hidrelétricas avançam sem essa preocupação.
Os atrasos na implementação do Código Florestal e da reforma agrária, assim como a falta de incentivo à agricultura familiar, também contribuem para a destruição da Amazônia.
— A previsão de investimentos do biênio 2013-2014 na agricultura foi de mais de R$ 130 bilhões, enquanto que na agricultura sustentável ficou em torno de R$ 4 bilhões — critica.
— Existe essa tendência de crescimento, não é apenas um ponto fora da curva — alerta Fonseca, que acusa as grandes obras de infraestrutura: — O projeto das obras das hidrelétricas previa a criação de unidades de conservação no entorno, e isso não avançou. Pelo contrário, elas têm sido reduzidas para garantir novos investimentos em infraestrutura. Existe uma sensação de impunidade.
Em agosto, O GLOBO destacou que, desde a ditadura militar, esta será a primeira vez que um presidente (no caso, Dilma Rousseff) encerrará um mandato sem ter criado uma única unidade de conservação na Amazônia. Na região do Rio Tapajós, cinco áreas protegidas foram reduzidas para acomodar projetos de hidrelétricas.
Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou, no ano passado, que apenas 4% das UCs da Amazônia têm alto grau de implementação, ou seja, a estrutura adequada para visitação, turismo, exploração sustentável de madeira e manutenção de sua área.
Oliveira confirma a atuação de grileiros em terras indígenas e unidades de conservação. As invasões seriam responsáveis por até 7% da destruição da cobertura vegetal da Amazônia.
Em novembro, o Ministério do Meio Ambiente admitiu que a taxa de desmatamento da Amazônia cresceria, após quatro anos de queda. No entanto, o governo previa índice de 20%, que foi superado.
O governo federal se comprometeu a baixar, até 2020, a taxa anual de desmatamento para 3.925km² anuais. A meta é considerada crucial para o país cumprir seu objetivo de redução das emissões de gases do efeito estufa.
De acordo com especialistas, a devastação da Amazônia seria mais um reflexo da perda de fôlego da agenda ambiental do governo.
— O primeiro mandato do governo Lula avançou nos mecanismos de controle, no pagamento de serviços ambientais e nas metas de redução das emissões de gases-estufa — lembra Moutinho. — Mas estas medidas foram perdendo fôlego, e o Brasil hoje vive uma situação de certa acomodação. Os últimos avanços foram muito tímidos, o que torna a redução do desmatamento uma coisa ainda frágil.
A taxa de desmatamento é verificada com base em 216 imagens detectadas pelo satélite americano Landsat 8/OLI. O Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal, do Inpe, avalia a devastação em áreas maiores que 6,25 hectares, onde ocorreu a remoção completa da cobertura florestal, chamado corte raso. (O Globo)
— A previsão de investimentos do biênio 2013-2014 na agricultura foi de mais de R$ 130 bilhões, enquanto que na agricultura sustentável ficou em torno de R$ 4 bilhões — critica.
TENDÊNCIA DE AUMENTO
A ONG Imazon também acompanha, de forma independente, o desmatamento da Amazônia e divulga o boletim conhecido como SAD. Pesquisador da entidade, Antônio Fonseca explica que o balanço de agosto de 2013 a julho de 2014 apontou para um avanço de 2% da perda de cobertura florestal em comparação com o período anterior. — Existe essa tendência de crescimento, não é apenas um ponto fora da curva — alerta Fonseca, que acusa as grandes obras de infraestrutura: — O projeto das obras das hidrelétricas previa a criação de unidades de conservação no entorno, e isso não avançou. Pelo contrário, elas têm sido reduzidas para garantir novos investimentos em infraestrutura. Existe uma sensação de impunidade.
Em agosto, O GLOBO destacou que, desde a ditadura militar, esta será a primeira vez que um presidente (no caso, Dilma Rousseff) encerrará um mandato sem ter criado uma única unidade de conservação na Amazônia. Na região do Rio Tapajós, cinco áreas protegidas foram reduzidas para acomodar projetos de hidrelétricas.
Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou, no ano passado, que apenas 4% das UCs da Amazônia têm alto grau de implementação, ou seja, a estrutura adequada para visitação, turismo, exploração sustentável de madeira e manutenção de sua área.
Oliveira confirma a atuação de grileiros em terras indígenas e unidades de conservação. As invasões seriam responsáveis por até 7% da destruição da cobertura vegetal da Amazônia.
Em novembro, o Ministério do Meio Ambiente admitiu que a taxa de desmatamento da Amazônia cresceria, após quatro anos de queda. No entanto, o governo previa índice de 20%, que foi superado.
O governo federal se comprometeu a baixar, até 2020, a taxa anual de desmatamento para 3.925km² anuais. A meta é considerada crucial para o país cumprir seu objetivo de redução das emissões de gases do efeito estufa.
De acordo com especialistas, a devastação da Amazônia seria mais um reflexo da perda de fôlego da agenda ambiental do governo.
— O primeiro mandato do governo Lula avançou nos mecanismos de controle, no pagamento de serviços ambientais e nas metas de redução das emissões de gases-estufa — lembra Moutinho. — Mas estas medidas foram perdendo fôlego, e o Brasil hoje vive uma situação de certa acomodação. Os últimos avanços foram muito tímidos, o que torna a redução do desmatamento uma coisa ainda frágil.
A taxa de desmatamento é verificada com base em 216 imagens detectadas pelo satélite americano Landsat 8/OLI. O Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal, do Inpe, avalia a devastação em áreas maiores que 6,25 hectares, onde ocorreu a remoção completa da cobertura florestal, chamado corte raso. (O Globo)
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