Por Eliane Cantanhêde - Estadão
Três acontecimentos muito estranhos, todos na sexta-feira (22), mexem com os nervos do governo, com a imaginação da oposição e com a curiosidade geral. O clima é tenso, há interrogações demais e respostas de menos em Brasília. A crise econômica, política e a ética estão, aparentemente, descambando para uma crise dentro do próprio governo.
Primeiro acontecimento: antes do anúncio dos cortes no Orçamento, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de manhã, fora da agenda e na Granja do Torto, local distante do Palácio da Alvorada e da cúpula política do governo, inclusive do vice Michel Temer. E o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, participou. Nada disso é usual.
Segundo: o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, simplesmente não apareceu na entrevista sobre o contingenciamento gigante, deixando a missão para o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, seu companheiro de agruras econômicas e adversário de disputas internas.
Terceiro: Lula voltou a São Paulo em tempo hábil, mas não deu as caras na reunião do Diretório do PT que discutiu a convenção nacional do partido, no mês que vem. Ok, a reunião foi um fiasco, com a maior parte das cadeiras vazias, mas Lula não aparecer?
Conclusão: aí tem! E o eixo da crise é Levy, tido por Arminio Fraga como "uma ilha de competência num mar de mediocridade". Mesmo que não seja questão de competência e mediocridade, é questão de turma. Levy não é da turma que gravita em torno do PT e está por toda parte na economia: Planejamento, BNDES, CEF, BC, BB, Petrobrás. Logo, uma ilha ele é, ou um peixe fora d'água.
Ao se atirar na condução da política econômica, nas estafantes discussões internas sobre rumos e nas muitas vezes inócuas negociações do ajuste fiscal com a base aliada, Levy sustenta-se num só pilar: a presidente da República. Se ela lhe faltar, não sobra nada. E ela pode ter começado a lhe faltar.
Quando dois petistas assinaram o manifesto de quarta-feira atacando o ajuste fiscal como recessivo, de certa forma, pediram a cabeça de Levy. Tudo bem com a assinatura de Paulo Paim, porque condiz com o personagem dele. Mas nem tudo bem assim com a de Lindbergh Farias. Pergunta que não quer calar no Congresso: ele agiu sozinho ou por orientação de Lula?
Mas o pior foi nos cortes do Orçamento. Levy tinha anunciado uma tesourada entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões, mas o número final ficou em R$ 69,9 bilhões, estrategicamente abaixo do limite mínimo que ele assumira publicamente. Essa diferença, pequena diante do todo, foi mera implicância? Foi um aceno para as bases petistas? Ou foi um recado para o isolado ministro da Fazenda? Gripado ele estava, mas isso não o impediria de dedicar meia dúzia de palavras ao País, ao mundo, numa hora assim, diante de uma decisão grave como essa.
Afinal, o governo do PT e de Dilma passou a tesoura até mesmo na Saúde e na Educação da tal "pátria educadora", minou os alicerces do tão estratégico PAC e atingiu até mesmo o emblemático Minha Casa Minha Vida. Aliás, depois do esfarelamento dos recursos do Pronatec e do Fies, só faltava cortar os do Minha Casa. É o último bastião da campanha a ruir.
Então, embolou tudo: um corte brutal do Orçamento, a previsão oficial de queda de 1,2% do PIB neste ano, o maior fechamento de empregos formais de um abril desde 1992. E nada de aprovação do ajuste fiscal e do fim das desonerações pelo Congresso. Parece cada vez mais difícil.
Dilma, Levy e Temer só têm esta semana para aprovar as medidas provisórias que mudam regras trabalhistas e previdenciárias e, assim, garantir o ajuste fiscal, ou ao menos algum ajuste fiscal. Como o prazo de vigência de ambas é 1.º de junho, segunda-feira da próxima semana, é agora ou nunca. E há uma dramática coincidência entre o prazo do ajuste e o prazo de vigência do próprio Levy.
Três acontecimentos muito estranhos, todos na sexta-feira (22), mexem com os nervos do governo, com a imaginação da oposição e com a curiosidade geral. O clima é tenso, há interrogações demais e respostas de menos em Brasília. A crise econômica, política e a ética estão, aparentemente, descambando para uma crise dentro do próprio governo.
Primeiro acontecimento: antes do anúncio dos cortes no Orçamento, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de manhã, fora da agenda e na Granja do Torto, local distante do Palácio da Alvorada e da cúpula política do governo, inclusive do vice Michel Temer. E o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, participou. Nada disso é usual.
Segundo: o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, simplesmente não apareceu na entrevista sobre o contingenciamento gigante, deixando a missão para o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, seu companheiro de agruras econômicas e adversário de disputas internas.
Terceiro: Lula voltou a São Paulo em tempo hábil, mas não deu as caras na reunião do Diretório do PT que discutiu a convenção nacional do partido, no mês que vem. Ok, a reunião foi um fiasco, com a maior parte das cadeiras vazias, mas Lula não aparecer?
Conclusão: aí tem! E o eixo da crise é Levy, tido por Arminio Fraga como "uma ilha de competência num mar de mediocridade". Mesmo que não seja questão de competência e mediocridade, é questão de turma. Levy não é da turma que gravita em torno do PT e está por toda parte na economia: Planejamento, BNDES, CEF, BC, BB, Petrobrás. Logo, uma ilha ele é, ou um peixe fora d'água.
Ao se atirar na condução da política econômica, nas estafantes discussões internas sobre rumos e nas muitas vezes inócuas negociações do ajuste fiscal com a base aliada, Levy sustenta-se num só pilar: a presidente da República. Se ela lhe faltar, não sobra nada. E ela pode ter começado a lhe faltar.
Quando dois petistas assinaram o manifesto de quarta-feira atacando o ajuste fiscal como recessivo, de certa forma, pediram a cabeça de Levy. Tudo bem com a assinatura de Paulo Paim, porque condiz com o personagem dele. Mas nem tudo bem assim com a de Lindbergh Farias. Pergunta que não quer calar no Congresso: ele agiu sozinho ou por orientação de Lula?
Mas o pior foi nos cortes do Orçamento. Levy tinha anunciado uma tesourada entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões, mas o número final ficou em R$ 69,9 bilhões, estrategicamente abaixo do limite mínimo que ele assumira publicamente. Essa diferença, pequena diante do todo, foi mera implicância? Foi um aceno para as bases petistas? Ou foi um recado para o isolado ministro da Fazenda? Gripado ele estava, mas isso não o impediria de dedicar meia dúzia de palavras ao País, ao mundo, numa hora assim, diante de uma decisão grave como essa.
Afinal, o governo do PT e de Dilma passou a tesoura até mesmo na Saúde e na Educação da tal "pátria educadora", minou os alicerces do tão estratégico PAC e atingiu até mesmo o emblemático Minha Casa Minha Vida. Aliás, depois do esfarelamento dos recursos do Pronatec e do Fies, só faltava cortar os do Minha Casa. É o último bastião da campanha a ruir.
Então, embolou tudo: um corte brutal do Orçamento, a previsão oficial de queda de 1,2% do PIB neste ano, o maior fechamento de empregos formais de um abril desde 1992. E nada de aprovação do ajuste fiscal e do fim das desonerações pelo Congresso. Parece cada vez mais difícil.
Dilma, Levy e Temer só têm esta semana para aprovar as medidas provisórias que mudam regras trabalhistas e previdenciárias e, assim, garantir o ajuste fiscal, ou ao menos algum ajuste fiscal. Como o prazo de vigência de ambas é 1.º de junho, segunda-feira da próxima semana, é agora ou nunca. E há uma dramática coincidência entre o prazo do ajuste e o prazo de vigência do próprio Levy.
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