Um documento conhecido como testamento vital tem atraído atenção daqueles preocupados com a autonomia no final da vida. Ele serve para registrar vontades relativas a tratamentos médicos para situações em que o paciente já não tiver mais perspectiva de cura. Ou seja, pode ser utilizado por quem quer garantir a suspensão de procedimentos, como a reanimação ou certas cirurgias. Ou também pode ser usado justamente para garantir essas intervenções.
Outra possibilidade é o mandato duradouro, em que o paciente nomeia um procurador para tomar decisões em seu nome na eventualidade de uma doença terminal.
Segundo dados do Colégio Notarial do Brasil, em 2010, apenas 50 testamentos vitais foram registrados em cartórios. Em 2015, esse número passou de 600 no ano.
Um fator determinante para esse aumento foi uma regulamentação de 2012 do Conselho Federal de Medicina que afirma a obrigação dos médicos de aceitarem o documento como legítimo.
A advogada e doutora em ciência da saúde Luciana Dadalto diz, porém, que a regulamentação do conselho não garante que a vontade do paciente será respeitada.
Isso porque a norma se refere apenas às responsabilidades dos médicos, excluindo qualquer outro profissional de saúde, e não garante validade legal ao documento. "Sempre vai cair no arbítrio do Judiciário, por não haver uma legislação específica. Um juiz poderá falar que é válido e outro que não é", diz.
Dadalto criou um site (testamentovital.com.br) que oferece auxílio para a criação desse tipo de documento. O serviço é gratuito e gera um código de acesso que pode ser compartilhado com uma pessoa de confiança do solicitante.
"A principal importância do testamento vital é transferir para o paciente um direito que é dele, que é a decisão sobre como viver seus últimos dias de vida", afirma ela.
Especialmente polêmica é a inserção de doação de órgãos no testamento vital, porque a lei de doação no Brasil o reconhece como uma decisão da família, não do paciente.
Além da questão legal, um obstáculo para a popularização do testamento vital é a dificuldade de tratar do tema.
Para a advogada de família Renata Guimarães, alguns brasileiros têm entraves culturais para lidar com questões ligadas à morte. Mesmo assim, ela vê um aumento nos últimos três anos de documentos nesse sentido.
"Tais documentos têm em foco a situação de incapacidade civil de uma pessoa e costumam abordar a gestão do patrimônio, cuidados pessoais e de saúde e diretrizes de não manutenção artificial de vida em casos terminais e irreversíveis. Já as formas de enterro, velório ou cremação costumam ser descritas em outro documento, denominado codicilo", diz Guimarães.
Professora de biologia por 30 anos, ateia e entusiasta do darwinismo, ela diz lidar bem com a morte. "Bonita ou não, esta é a reta de chegada. Não tenho mais do que dez anos de vida útil", afirma.
Decidiu pela doação do corpo para estudos acadêmicos e já tem os papéis preenchidos no Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Doou o cérebro de sua mãe para a faculdade de medicina da USP e diz ver nessas ações uma forma de cidadania.
Vovó Neuza, como gosta de ser chamada, tem seu testamento vital assinado pelos dois filhos. O documento também foi incluído em seu prontuário no Hospital das Clínicas da USP, porque ela considera que será atendida lá em alguma emergência.
"Eu sou muito fria nisso, minha formação ajuda. Eu sei que num acidente qualquer vão perguntar para quem estiver comigo: entuba ou não entuba? Estou dizendo nesse documento: não entuba. Porque depois de dois ou seja lá quantos anos for, ninguém vai ter coragem de desentubar e aí fica aquela confusão."
Vovó Neuza trabalha com oficinas de resgate de memória no projeto Amigo do Idoso do Hospital Universitário da USP. A ação foca em objetos que marcaram a vida da pessoa. Para ela, seu sofá todo florido é um objeto de memória precioso, com seus mais de 60 anos de história.
A professora se aposentou aos 50 anos, porque quis sair do trabalho no auge. Ela diz querer o mesmo da vida: "Eu quero sair bem da vida."
Outra possibilidade é o mandato duradouro, em que o paciente nomeia um procurador para tomar decisões em seu nome na eventualidade de uma doença terminal.
Segundo dados do Colégio Notarial do Brasil, em 2010, apenas 50 testamentos vitais foram registrados em cartórios. Em 2015, esse número passou de 600 no ano.
Um fator determinante para esse aumento foi uma regulamentação de 2012 do Conselho Federal de Medicina que afirma a obrigação dos médicos de aceitarem o documento como legítimo.
A advogada e doutora em ciência da saúde Luciana Dadalto diz, porém, que a regulamentação do conselho não garante que a vontade do paciente será respeitada.
Isso porque a norma se refere apenas às responsabilidades dos médicos, excluindo qualquer outro profissional de saúde, e não garante validade legal ao documento. "Sempre vai cair no arbítrio do Judiciário, por não haver uma legislação específica. Um juiz poderá falar que é válido e outro que não é", diz.
Dadalto criou um site (testamentovital.com.br) que oferece auxílio para a criação desse tipo de documento. O serviço é gratuito e gera um código de acesso que pode ser compartilhado com uma pessoa de confiança do solicitante.
"A principal importância do testamento vital é transferir para o paciente um direito que é dele, que é a decisão sobre como viver seus últimos dias de vida", afirma ela.
Especialmente polêmica é a inserção de doação de órgãos no testamento vital, porque a lei de doação no Brasil o reconhece como uma decisão da família, não do paciente.
Além da questão legal, um obstáculo para a popularização do testamento vital é a dificuldade de tratar do tema.
Para a advogada de família Renata Guimarães, alguns brasileiros têm entraves culturais para lidar com questões ligadas à morte. Mesmo assim, ela vê um aumento nos últimos três anos de documentos nesse sentido.
"Tais documentos têm em foco a situação de incapacidade civil de uma pessoa e costumam abordar a gestão do patrimônio, cuidados pessoais e de saúde e diretrizes de não manutenção artificial de vida em casos terminais e irreversíveis. Já as formas de enterro, velório ou cremação costumam ser descritas em outro documento, denominado codicilo", diz Guimarães.
Em seu testamento vital, Neuza de Carvalho afirma que quer doar o corpo para estudos acadêmicos
ALERTA NO RG - Neuza Guerreiro de Carvalho, 85, não teve dificuldade para tratar do assunto. Ela anda com seu testamento vital na bolsa. No RG, há um recado: "Na pasta cor-de-rosa da bolsa está meu testamento vital". Professora de biologia por 30 anos, ateia e entusiasta do darwinismo, ela diz lidar bem com a morte. "Bonita ou não, esta é a reta de chegada. Não tenho mais do que dez anos de vida útil", afirma.
Decidiu pela doação do corpo para estudos acadêmicos e já tem os papéis preenchidos no Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Doou o cérebro de sua mãe para a faculdade de medicina da USP e diz ver nessas ações uma forma de cidadania.
Vovó Neuza, como gosta de ser chamada, tem seu testamento vital assinado pelos dois filhos. O documento também foi incluído em seu prontuário no Hospital das Clínicas da USP, porque ela considera que será atendida lá em alguma emergência.
"Eu sou muito fria nisso, minha formação ajuda. Eu sei que num acidente qualquer vão perguntar para quem estiver comigo: entuba ou não entuba? Estou dizendo nesse documento: não entuba. Porque depois de dois ou seja lá quantos anos for, ninguém vai ter coragem de desentubar e aí fica aquela confusão."
Vovó Neuza trabalha com oficinas de resgate de memória no projeto Amigo do Idoso do Hospital Universitário da USP. A ação foca em objetos que marcaram a vida da pessoa. Para ela, seu sofá todo florido é um objeto de memória precioso, com seus mais de 60 anos de história.
A professora se aposentou aos 50 anos, porque quis sair do trabalho no auge. Ela diz querer o mesmo da vida: "Eu quero sair bem da vida."
Nenhum comentário:
Postar um comentário