Supersticiosa, a presidente Dilma Rousseff contou ontem (31) que entrará em 2016 carregando no pulso esquerdo sua antiga pulseira de olho grego, poderoso talismã para espantar o mau olhado e as energias negativas. Diante da economia em frangalhos, com a popularidade em queda e sob grave crise política, a presidente – que tem medo de avião – sabe que enfrentará muito mais turbulências neste ano novo. A todos com quem conversa, porém, ela diz que o processo de impeachment não vingará.
“Não acharam nem vão achar uma vírgula que possa me incriminar”, afirma Dilma. Quando interlocutores querem saber o seu estado de ânimo, a inquilina do Palácio do Planalto responde: “Tem gente que quer que o céu caia sobre a minha cabeça, mas eu aguento bem a pressão. A única pessoa que pode derrotar você é você mesma”.
Apesar da retórica de resistência, Dilma teve momentos de depressão neste primeiro ano do segundo mandato. Dezessete quilos mais magra por causa da rigorosa dieta Ravenna, ela já esperava que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desse a largada para o impeachment, mas não escondeu o abatimento quando, no último dia 8, o plenário da Casa elegeu uma chapa com maioria oposicionista para a Comissão Especial que analisará o pedido de afastamento.
“Quer dizer que vamos perder tudo?”, perguntou Dilma, incrédula, a ministros do núcleo político do Planalto. A presidente já havia sido alertada de que a estratégia usada por Cunha, com a adoção do voto secreto, favorecia a traição dos aliados. Mesmo assim, ficou surpresa quando viu que o governo tinha conseguido apenas 199 votos, uma margem muito estreita, levando-se em conta que, para barrar o processo no plenário, são necessários 171 deputados.
O alívio veio nove dias depois, com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que derrubou o rito estabelecido por Cunha e deu ao Senado – Casa com maioria governista – a palavra final sobre o impeachment. O voto do ministro Dias Toffoli, no entanto, foi recebido como um tiro no Planalto. Subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva e ex-advogado do PT, Toffoli irritou Dilma. “Se um presidente não tem apoio de 1/3 dos deputados, fica difícil a governabilidade”, afirmou ele, ao votar contra o governo.
Kombi. No ano em que a Operação Lava Jato revelou a corrupção na Petrobrás, pesos pesados do PT foram presos, o vice Michel Temer escancarou divergências com Dilma, o PMDB ameaçou abandonar o barco e Joaquim Levy deixou a Fazenda acusando o governo de ter “medo de reformas”, Dilma promoveu várias reuniões secretas.
Em pelo menos duas ocasiões, ministros do PT chegaram ao Palácio da Alvorada “escondidos” no banco de trás de peruas Kombi, para “despistar” a imprensa. Embora até Lula incentivasse um acordo com Cunha – acusado de manter contas na Suíça com dinheiro desviado da Petrobrás –, a certa altura ficou evidente que a abertura do impeachment seria inevitável.
Lula reclamou de sua “criatura” a vários amigos. Disse que ela não o ouvia e só dava “notícia ruim”, deixando o ajuste fiscal e a Lava Jato dominarem a agenda do País. “Eu não posso falar mal dela, mas também não tenho motivos para falar bem”, afirmou o ex-presidente a um deputado aliado, pouco antes de constatar, em reunião com religiosos, que tanto ele como a sucessora estavam “no volume morto”. Dilma ficou furiosa.
O inferno da presidente ganhou contornos mais dramáticos quando o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitou o balanço de 2014 do governo, em 7 de outubro, abrindo caminho para o impeachment. A reprovação das contas teve como base as pedaladas fiscais, manobras que consistiam em atrasar repasses do Tesouro aos bancos para pagamento de programas sociais.
Antes disso, em 12 de setembro, dez ministros se reuniram para traçar estratégias de reação ao agravamento da crise. Dilma estava preocupada com a inflação, o desemprego, o “pibinho” e a perda do grau de investimento. A versão divulgada foi a de que se discutia ali um corte nas contas do governo para cobrir o déficit de R$ 30,5 bilhões no Orçamento. Na prática, porém, o tema do encontro foi a tentativa da oposição, com apoio de uma ala do PMDB, de tirar a presidente do Planalto.
Nem mesmo a reforma ministerial, anunciada em 2 de outubro, conseguiu amenizar as dificuldades. Dilma cortou oito pastas, mas entregou sete ministérios ao PMDB e o “coração” do Planalto a homens da confiança de Lula, como Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Casa Civil). Dois meses depois, o PT anunciou que não salvaria Cunha no Conselho de Ética, o impeachment foi aberto e Temer apareceu flertando com o PSDB.
“Mas o que é isso?”, indagou Dilma, no último dia 7, ao ler uma carta escrita pelo vice. Eram 18h30 quando o envelope lacrado, com a correspondência de Temer, foi entregue a ela, no Planalto. No texto, o vice dizia cumprir papel “decorativo” e se queixava da “absoluta desconfiança” da presidente e do seu entorno em relação a ele e ao PMDB. “Que coisa estranha!”, exclamou Dilma.
Ministros do PT interpretaram a carta como um pretexto para Temer se divorciar de Dilma. “Não aceito a pecha de conspirador”, reagiu o vice. O desfecho desta história, no entanto, ficou para 2016. No Planalto, dizem que há muito olho grego para rolar embaixo da ponte.
“Não acharam nem vão achar uma vírgula que possa me incriminar”, afirma Dilma. Quando interlocutores querem saber o seu estado de ânimo, a inquilina do Palácio do Planalto responde: “Tem gente que quer que o céu caia sobre a minha cabeça, mas eu aguento bem a pressão. A única pessoa que pode derrotar você é você mesma”.
Apesar da retórica de resistência, Dilma teve momentos de depressão neste primeiro ano do segundo mandato. Dezessete quilos mais magra por causa da rigorosa dieta Ravenna, ela já esperava que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desse a largada para o impeachment, mas não escondeu o abatimento quando, no último dia 8, o plenário da Casa elegeu uma chapa com maioria oposicionista para a Comissão Especial que analisará o pedido de afastamento.
“Quer dizer que vamos perder tudo?”, perguntou Dilma, incrédula, a ministros do núcleo político do Planalto. A presidente já havia sido alertada de que a estratégia usada por Cunha, com a adoção do voto secreto, favorecia a traição dos aliados. Mesmo assim, ficou surpresa quando viu que o governo tinha conseguido apenas 199 votos, uma margem muito estreita, levando-se em conta que, para barrar o processo no plenário, são necessários 171 deputados.
O alívio veio nove dias depois, com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que derrubou o rito estabelecido por Cunha e deu ao Senado – Casa com maioria governista – a palavra final sobre o impeachment. O voto do ministro Dias Toffoli, no entanto, foi recebido como um tiro no Planalto. Subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva e ex-advogado do PT, Toffoli irritou Dilma. “Se um presidente não tem apoio de 1/3 dos deputados, fica difícil a governabilidade”, afirmou ele, ao votar contra o governo.
Kombi. No ano em que a Operação Lava Jato revelou a corrupção na Petrobrás, pesos pesados do PT foram presos, o vice Michel Temer escancarou divergências com Dilma, o PMDB ameaçou abandonar o barco e Joaquim Levy deixou a Fazenda acusando o governo de ter “medo de reformas”, Dilma promoveu várias reuniões secretas.
Em pelo menos duas ocasiões, ministros do PT chegaram ao Palácio da Alvorada “escondidos” no banco de trás de peruas Kombi, para “despistar” a imprensa. Embora até Lula incentivasse um acordo com Cunha – acusado de manter contas na Suíça com dinheiro desviado da Petrobrás –, a certa altura ficou evidente que a abertura do impeachment seria inevitável.
Lula reclamou de sua “criatura” a vários amigos. Disse que ela não o ouvia e só dava “notícia ruim”, deixando o ajuste fiscal e a Lava Jato dominarem a agenda do País. “Eu não posso falar mal dela, mas também não tenho motivos para falar bem”, afirmou o ex-presidente a um deputado aliado, pouco antes de constatar, em reunião com religiosos, que tanto ele como a sucessora estavam “no volume morto”. Dilma ficou furiosa.
O inferno da presidente ganhou contornos mais dramáticos quando o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitou o balanço de 2014 do governo, em 7 de outubro, abrindo caminho para o impeachment. A reprovação das contas teve como base as pedaladas fiscais, manobras que consistiam em atrasar repasses do Tesouro aos bancos para pagamento de programas sociais.
Antes disso, em 12 de setembro, dez ministros se reuniram para traçar estratégias de reação ao agravamento da crise. Dilma estava preocupada com a inflação, o desemprego, o “pibinho” e a perda do grau de investimento. A versão divulgada foi a de que se discutia ali um corte nas contas do governo para cobrir o déficit de R$ 30,5 bilhões no Orçamento. Na prática, porém, o tema do encontro foi a tentativa da oposição, com apoio de uma ala do PMDB, de tirar a presidente do Planalto.
Nem mesmo a reforma ministerial, anunciada em 2 de outubro, conseguiu amenizar as dificuldades. Dilma cortou oito pastas, mas entregou sete ministérios ao PMDB e o “coração” do Planalto a homens da confiança de Lula, como Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Casa Civil). Dois meses depois, o PT anunciou que não salvaria Cunha no Conselho de Ética, o impeachment foi aberto e Temer apareceu flertando com o PSDB.
“Mas o que é isso?”, indagou Dilma, no último dia 7, ao ler uma carta escrita pelo vice. Eram 18h30 quando o envelope lacrado, com a correspondência de Temer, foi entregue a ela, no Planalto. No texto, o vice dizia cumprir papel “decorativo” e se queixava da “absoluta desconfiança” da presidente e do seu entorno em relação a ele e ao PMDB. “Que coisa estranha!”, exclamou Dilma.
Ministros do PT interpretaram a carta como um pretexto para Temer se divorciar de Dilma. “Não aceito a pecha de conspirador”, reagiu o vice. O desfecho desta história, no entanto, ficou para 2016. No Planalto, dizem que há muito olho grego para rolar embaixo da ponte.
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