O Globo
Após dar como perdida a batalha para manter o PMDB na base aliada, o governo decidiu fazer um mapeamento dos cargos hoje ocupados por apadrinhados peemedebistas — o objetivo é redistribuir esse espólio a outros partidos que possam dar votos para salvar a presidente Dilma Rousseff do processo de impeachment no Congresso.
Até dias atrás, a estratégia do governo era tentar enfraquecer o vice-presidente Michel Temer para evitar que obtivesse uma vitória unânime na reunião do Diretório Nacional, amanhã, em prol do rompimento. Mas, com a avaliação de que a batalha está perdida junto ao PMDB, a ordem no Palácio do Planalto passou a ser identificar os cargos ocupados por peemedebistas e começar as exonerações, abrindo espaço para aqueles mais suscetíveis a uma composição com o governo em troca de benefícios na máquina pública. Foi o que já aconteceu com o aliado de Temer Henrique Pires, exonerado da presidência da Funasa na última quinta-feira. O mesmo deverá ocorrer com os cargos da autarquia nos estados, muitos dos quais também controlados por indicados do PMDB.
Nesse raciocínio, cresceu no Planalto a pressão para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assuma um cargo de assessoria no governo para executar essa articulação. Uma fonte ligada ao governo dá o tom da estratégia para sobreviver ao impeachment:
— Vai ser varejo total, é balcão de feira. O governo vai facilitar a liberação de recursos e atuar com promessa de cargos na estrutura federal para tentar barrar o impeachment na comissão. E sabemos que quem tem voto são deputados e senadores. O foco do governo agora é ir em cima de quem tem voto. Seria gastar energia à toa trabalhar para desmobilizar o PMDB, porque a onda orgânica no partido está muito forte — diz um auxiliar governista.
O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que ainda defende a permanência no governo, vê como natural a decisão do Planalto de redistribuir os cargos caso o partido de fato deixe a base. Mas acredita que, internamente, deve haver tolerância com os ministros que ainda não se decidiram e que optarem por apoiar individualmente Dilma e não deixar os cargos.
— Se o partido decidir pela saída, o governo deve promover a saída dos peemedebistas que têm cargos. Mas o PMDB tem que respeitar as circunstâncias individuais dos filiados — defende.
Com o diálogo com as lideranças cada vez mais restrito no Congresso e sem poder contar com a força de ministros sobre as bancadas, a aposta do governo será cada vez mais na negociação direta com cada deputado. Os governistas já sinalizam a aliados que quem ficar terá mais espaço no governo.
— Quem quer a cassação não vai permanecer no governo. Não tem essa de um pé em cada canoa. Saindo, vamos reestruturar o governo com aqueles que são contra esse golpe — afirma o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Efeito dominó - No Congresso, os governistas já trabalham com espaços que serão deixados pelos peemedebistas para dar fôlego à presidente. O objetivo é tentar conter o efeito dominó em partidos da base como PP, PR e PSD. Apesar de o governo dar como certa a saída do PMDB da base, entre os deputados petistas a sensação é que nem todos seguirão a Executiva Nacional.
— Não vejo uma saída em massa, uma debandada, como anunciada por aqueles que defendem o golpe. Acho que teremos alguns nomes que sairão do governo, mas ainda teremos o apoio de parte do PMDB — avalia Teixeira.
Um deputado petista que faz parte da comissão do impeachment, mas prefere não se expor, afirma que o governo já iniciou o trabalho no varejo junto a pequenos partidos para tentar garantir o apoio necessário para manter Dilma. Ele diz que a ideia é usar cargos de quem está desembarcando para tentar garantir outros aliados: — Tem que tirar o cargo dos infiéis e repassar diretamente para a nova base. Isso já está em curso.
Um líder da base, no entanto, afirma que a tendência é de os grandes partidos seguirem a mesma direção do PMDB e passarem a apoiar o impeachment. A avaliação é que o governo perdeu condições de reagir. Para tentar refluir o movimento, restaria ao governo acelerar negociações pontuais para tentar manter ao menos núcleos governistas em cada legenda, evitando o desembarque completo.
— Tem que ser algo customizado, individualizado, para que você possa, para cada situação, atender a determinadas demandas. Mas o movimento está muito forte, e está difícil para todo deputado manter um apoio ao governo neste momento — diz o líder.
No domingo, Dilma voltou de Porto Alegre, onde passou o feriado, e recebeu à noite o ministro Jaques Wagner (chefia de gabinete) no Alvorada. O ministro é um dos principais articuladores da defesa do governo no Congresso.
Até dias atrás, a estratégia do governo era tentar enfraquecer o vice-presidente Michel Temer para evitar que obtivesse uma vitória unânime na reunião do Diretório Nacional, amanhã, em prol do rompimento. Mas, com a avaliação de que a batalha está perdida junto ao PMDB, a ordem no Palácio do Planalto passou a ser identificar os cargos ocupados por peemedebistas e começar as exonerações, abrindo espaço para aqueles mais suscetíveis a uma composição com o governo em troca de benefícios na máquina pública. Foi o que já aconteceu com o aliado de Temer Henrique Pires, exonerado da presidência da Funasa na última quinta-feira. O mesmo deverá ocorrer com os cargos da autarquia nos estados, muitos dos quais também controlados por indicados do PMDB.
Nesse raciocínio, cresceu no Planalto a pressão para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assuma um cargo de assessoria no governo para executar essa articulação. Uma fonte ligada ao governo dá o tom da estratégia para sobreviver ao impeachment:
— Vai ser varejo total, é balcão de feira. O governo vai facilitar a liberação de recursos e atuar com promessa de cargos na estrutura federal para tentar barrar o impeachment na comissão. E sabemos que quem tem voto são deputados e senadores. O foco do governo agora é ir em cima de quem tem voto. Seria gastar energia à toa trabalhar para desmobilizar o PMDB, porque a onda orgânica no partido está muito forte — diz um auxiliar governista.
O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que ainda defende a permanência no governo, vê como natural a decisão do Planalto de redistribuir os cargos caso o partido de fato deixe a base. Mas acredita que, internamente, deve haver tolerância com os ministros que ainda não se decidiram e que optarem por apoiar individualmente Dilma e não deixar os cargos.
— Se o partido decidir pela saída, o governo deve promover a saída dos peemedebistas que têm cargos. Mas o PMDB tem que respeitar as circunstâncias individuais dos filiados — defende.
Com o diálogo com as lideranças cada vez mais restrito no Congresso e sem poder contar com a força de ministros sobre as bancadas, a aposta do governo será cada vez mais na negociação direta com cada deputado. Os governistas já sinalizam a aliados que quem ficar terá mais espaço no governo.
— Quem quer a cassação não vai permanecer no governo. Não tem essa de um pé em cada canoa. Saindo, vamos reestruturar o governo com aqueles que são contra esse golpe — afirma o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Efeito dominó - No Congresso, os governistas já trabalham com espaços que serão deixados pelos peemedebistas para dar fôlego à presidente. O objetivo é tentar conter o efeito dominó em partidos da base como PP, PR e PSD. Apesar de o governo dar como certa a saída do PMDB da base, entre os deputados petistas a sensação é que nem todos seguirão a Executiva Nacional.
— Não vejo uma saída em massa, uma debandada, como anunciada por aqueles que defendem o golpe. Acho que teremos alguns nomes que sairão do governo, mas ainda teremos o apoio de parte do PMDB — avalia Teixeira.
Um deputado petista que faz parte da comissão do impeachment, mas prefere não se expor, afirma que o governo já iniciou o trabalho no varejo junto a pequenos partidos para tentar garantir o apoio necessário para manter Dilma. Ele diz que a ideia é usar cargos de quem está desembarcando para tentar garantir outros aliados: — Tem que tirar o cargo dos infiéis e repassar diretamente para a nova base. Isso já está em curso.
Um líder da base, no entanto, afirma que a tendência é de os grandes partidos seguirem a mesma direção do PMDB e passarem a apoiar o impeachment. A avaliação é que o governo perdeu condições de reagir. Para tentar refluir o movimento, restaria ao governo acelerar negociações pontuais para tentar manter ao menos núcleos governistas em cada legenda, evitando o desembarque completo.
— Tem que ser algo customizado, individualizado, para que você possa, para cada situação, atender a determinadas demandas. Mas o movimento está muito forte, e está difícil para todo deputado manter um apoio ao governo neste momento — diz o líder.
No domingo, Dilma voltou de Porto Alegre, onde passou o feriado, e recebeu à noite o ministro Jaques Wagner (chefia de gabinete) no Alvorada. O ministro é um dos principais articuladores da defesa do governo no Congresso.
Posicionamento conjunto - Do outro lado da batalha, Temer passou este domingo em telefonemas com peemedebistas e manterá hoje agenda intensa de reuniões para buscar a união em torno do desembarque. Segundo seus mais próximos auxiliares, se conseguir o consenso, Temer deve participar da reunião na expectativa de aclamação pelo rompimento com o governo, o que o fortaleceria como liderança.
A bancada do PMDB na Câmara irá se reunir hoje para tentar um posicionamento conjunto, mas a tendência é que os defensores da permanência no governo sequer compareçam ao encontro do Diretório Nacional.
— Se a decisão for de fato sair do governo, tem que ser estabelecido um prazo para os ministros. Tem que ter responsabilidade, não se deixa ministério do dia para a noite. Tem que prevalecer o bom senso. Se decide sair, tem que dar 30 dias, quando já estará definido se tem ou não impeachment. O governo pode até querer substituir antes, pode trocar se quiser, mas o partido deve esperar esses 30 dias — afirma um peemedebista alinhado ao governo.
Até o momento, dos sete ministros do PMDB no governo, apenas Kátia Abreu (Agricultura), que se filiou ao partido há menos de três anos, tem sinalizado que pode deixar a legenda. Kátia pode retornar ao PSD, legenda comandada por seu filho, o deputado Irajá Abreu, em seu estado, o Tocantins. Os demais ministros, avalia a cúpula do PMDB, devem optar por ficar no partido e sair do governo.
— O governo faz bem em redistribuir esses cargos. Se tenho uma sociedade com alguém e esse alguém diz que não quer mais, muito bem, que vá embora. O filho da Kátia vai ser candidato a governador pelo PSD, e ela pode aproveitar para voltar para lá. Ela sempre foi outsider no PMDB, foi colocada ali pela presidente — afirma um dirigente peemedebista.
Em outra frente, o governo também pretende trabalhar o discurso de que os atuais ministros não terão espaço em eventual governo Temer e que terão de enfrentar a militância petista nas ruas protestando contra o que consideram um golpe. Há expectativa de grande mobilização nesta quinta-feira, dia 31, organizada pelo PT para intimidar os apoiadores do impeachment.
— Michel Temer, para poder governar, vai ter que fazer ampla coalizão, e é muita gente para pouco cargo. E o PT faria do governo dele um inferno. O partido está mobilizando todos os esforços em uma marcha para intimidar Temer e meter pressão sobre a Câmara. Muitos deputados fraquejam na hora de defender o governo, apesar de terem cargos, por causa da pressão popular. O PT quer botar pressão popular do outro lado para equilibrar o jogo — resume um petista.
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