Editorial - Folha de SP
"Vou completar 90 anos daqui a pouco", afirmou Fidel Castro no discurso de encerramento do 7º Congresso do Partido Comunista Cubano, realizado nesta semana em Havana. "Em breve serei como todos os outros. O tempo vem para todos nós, mas as ideias dos comunistas cubanos vão permanecer", completou. Vão mesmo? Max Planck, um dos mais importantes físicos do século 20, certa vez disse que a ciência avança de funeral em funeral. Haveria um limite para quanto cientistas mais velhos conseguem reformular a visão de mundo à que se habituaram. Isso, porém, não basta para deter o avanço de novas ideias; estas circulam entre os mais jovens –e um dia os mais idosos morrem.
O comunismo tem muito pouco de científico, mas isso não impede que ele, pelo menos em sua versão cubana, evolua no modelo previsto por Planck. Os resultados do congresso partidário mostram que a velha guarda procura encastelar-se nas posições mais importantes da organização.
Raúl Castro, 84, o irmão de Fidel, deixará o comando do país em 2018, mas foi contemplado com mais um mandato de cinco anos como primeiro-secretário do partido, um posto tão poderoso quanto.
José Ramón Machado Ventura, 85, um dos fundadores da agremiação, voz da ultraortodoxia comunista, manteve-se como segundo-secretário. Vários outros membros da gerontocracia conservaram seus lugares no Politburo, que ganhou mais três cadeiras.
Para não dizer que não houve mudanças significativas, estabeleceu-se nova regra para promoções. Por ela, nenhum dos atuais membros com mais de 70 anos poderá ascender ao posto de primeiro-secretário depois de Raúl.
Com isso, confirma-se como estrela ascendente a figura de Miguel Díaz-Canel, 56, que já ocupa o posto de vice-presidente de Cuba. Mais jovem, ele subiu na hierarquia porque soube exibir a dose certa de ortodoxia.
Há quem afirme que, uma vez no comando, Díaz-Canel se revelará mais pragmático, mas é uma aposta não calcada em evidências.
Fora da burocracia partidária, todavia, ideias que nada têm a ver com os postulados comunistas circulam cada vez mais fortes. A recente reaproximação com os EUA tende a intensificar ainda mais o processo de abertura do regime, que já vinha ocorrendo mesmo sob a direção dos irmãos Castro.
Na pior das hipóteses, os cubanos terão de esperar um funeral a mais para sepultar os últimos vestígios da ditadura sob a qual vivem há quase seis décadas.
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