Em entrevista ao jornal O Estado de SP (Estadão), Jefferson, de 62 anos, dispara que Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente da Câmara, é o "bandido" que ele diz mais gostar, pois "foi o adversário mais à altura do Lula", que "nunca esperou encontrar um bandido da mesma qualidade moral, intelectual que ele". Afirma que sua "preocupação" hoje é com a prisão da mulher e filha de Cunha. "São mulheres bonitas, cheirosas", que vão ser assediadas por companheiras de cela, "vão apanhar na cara".
O sr. tinha conhecimento do esquema de corrupção na Petrobrás?
Não soube dessas coisas da Petrobrás na época. Sempre foi a empresa
elite dos partidos mais poderosos. As estatais no Brasil são o braço
financeiro das corporações sindicais e partidos. Quem financia partido
são as estatais. Se queremos país moderno, vamos ter que fazer
privatização, porque não vai permitir a concentração da corrupção. A
estatal é a semente da corrupção no Brasil. Partidos disputam cargos nas
estatais para seu financiamento. O que vão assaltar nos seis meses
enquanto durar o processo de impeachment é uma loucura. Vai todo mundo
querer fazer caixa, porque ela cai em seis meses. 'Cobra 100% de
comissão aí!'.
O PTB pleiteou alguma diretoria ou gerência importante na Petrobrás?
Nunca, éramos muito pequenos. O PTB teve a presidência da Eletronorte, a
diretoria do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e aquela diretoria
dos Correios.
E Furnas?
Uma diretoria nos foi oferecida pelo Lula, para compensar a não
transferência dos recursos nas eleições em que PT fechou acordo com o
PTB. O PTB fechou uma grande aliança com o PT nas capitais, a Marta
(Suplicy) foi eleita com apoio do PTB em São Paulo. Eles ofereceram R$
20 milhões para financiamento do PTB e deram R$ 4 milhões. Foram os R$ 4
milhões que o Marcos Valério (empresário do mercado publicitário preso
após julgamento do mensalão) levou. Como não cumpriram os R$ 16 milhões e
no PTB ficamos com uma grave dívida e uma crise interna, Lula tentou
montar para o PTB um caminho de financiamento para suprir esse gasto, a
diretoria de Furnas onde estava o Dimas Toledo (ex-diretor de Engenharia
de Furnas nomeado no governo FHC). Mas não se concretizou.
O que aconteceu? Havia um esquema anterior?
Havia. Soube disso quando indicamos Francisco Spirandel para o lugar do
Dimas. Recebi contato do Zé Dirceu para que fosse conversar com ele na
Casa Civil. Ele disse: 'em vez de trocar o Dimas, por que a gente não
faz um acordo, você mantém o Dimas e ele passa a ajudar o PTB?'. Eu
disse: 'da minha parte, sem problema'. Dimas foi à minha casa conversar.
Dimas disse: 'minha diretoria rende de apoio R$ 3 milhões por mês, mas
tenho comprometidos R$ 1 milhão com o PT de Minas, R$ 1 milhão com o PT
nacional, dou R$ 600 mil a 12 deputados do PSDB, R$ 50 mil a cada um,
eles apoiam de vez em quando o governo federal. E R$ 400 mil para a
diretoria.
O sr. foi indiciado pela polícia do Rio por corrupção e lavagem de dinheiro relacionado a Furnas. Como responderá?
Pedi ao Ministério Público para me ouvir. Uma delegada pediu meu
indiciamento indireto sem me ouvir. Não me furto a nada. Ela disse que
confessei. Nós não recebemos. Pensei que a lei punisse só fato
consumado. Nunca vi a lei punir intenção. O PTB nunca recebeu nenhum
recurso de Furnas, do Dimas Toledo, ele não chegou a ajudar o PTB. Vou
esclarecer. Faz parte da vida. Tive que me eviscerar para dar essa
partida, para tirar a máscara da face do PT, botar o rei nu.
Como a Operação Lava Jato e mensalão se conectavam?
Quando o PT encontra resistência em uma direção partidária, dissolve
aquele partido, pega um grupo, faz outro partido. Quem se manteve firme e
não se fragmentou foi o PMDB. Quando o PMDB viu que o PT estava
tentando esfacelar o partido, criando esse PSD com o ex-prefeito de São
Paulo (Gilberto Kassab), começou ali a reação. Eduardo Cunha vem
reagindo a partir dali. Essa janela que abriram agora (para troca de
partido) é mensalão de novo. Os caras que se aproximavam para conversar
pediam luvas de R$ 1 milhão, R$ 600 mil e mensalão de R$ 30 mil, R$ 40
mil, R$ 50 mil por mês. É a mesma coisa do mensalão. Aconteceu tem dez
dias. O PTB foi assediado.
Por quem?
Teve gente que me procurou. "Preciso de R$ 1 milhão". Eu disse: 'aqui no
PTB não se paga mensalão para ninguém'. Eram deputados de outra legenda
que vinham com essa conversa para passar para o PTB. Perdemos alguns
deputados e sei que cantaram na orelha deles.
Por que o PTB não tinha espaço na Petrobrás?
O PTB nunca esteve em direção de qualquer empresa desse porte. Não sou
santo nem quero fingir que sou. Mas sempre tive limites, nunca passei da
linha amarela. Quando sentava um empreiteiro na minha frente, eu dizia:
'leve em consideração três coisas para ajudar do PTB: primeiro, o
interesse da empresa estatal; segundo, o interesse da sua empresa;
terceiro, o que você puder dar'. Ele perguntava: 'como o senhor quer
receber?'. Dizia: 'como você quiser dar ao PTB, por dentro, por fora'.
Acredita que haverá condenações e prisões na Lava Jato como houve no mensalão?
Penso que Lula não vai escapar. O mensalão parou na antessala dele, na
Casa Civil. Mas o petrolão entrou dentro do Palácio (do Planalto). Ou
esse (Marcelo) Odebrecht fala ou vai levar 30 anos na cadeia. Marcos
Valério levou uma martelada de 40 anos. O processo do petrolão é
diferente do mensalão. O mensalão surgiu do embate político, da denúncia
que fiz. No petrolão não tem nem voz da oposição. A oposição está em
silêncio porque muito dos seus estão comprometidos, tem muita gente da
oposição enroscada nas empreiteiras.
Eduardo Cunha tem legitimidade para presidir a Câmara no momento em que está em curso o processo de impeachment?
Tem. Ele responde a vários inquéritos, tem que ter cuidado. Minha
preocupação é que a prisão humilha muito. Para ele a situação vai
complicar. Vai levantar de manhã cedo, chinelo de dedo, bermuda azul,
camiseta branca. Está lá no coletivo dos presos, aquele cheiro de gente
doente, com tuberculose, com Aids. Banheiro com cheiro terrível, banho
frio. De manhã cedo, todo mundo em fila. 'Senhor Roberto Jefferson!'.
'Presente, senhor'. Cabeça baixa, mão para trás. De noite, o 'confere',
aquela averiguação que se faz. É duro. Dinheiro contadinho, R$ 100 por
semana para comprar na cantina. E quem tem R$ 100 tem que comprar para
todo mundo. Se furar a bola, tem que dar uma bola nova. Tem que aturar
isso. Limpar privada, varrer o chão. O que me preocupa são as filhas e a
esposa, mulheres bonitas, cheirosas, entram lá naquele meio, vão ser
assediadas. Vão acordar com aquelas mulheres deitadas na cama, vão
apanhar na cara, vão denunciar, vão apanhar de novo. O cara vai ter que
aturar isso. O ambiente prisional é muito duro, muito triste, muito
pesado. O cara não pode expor a esposa, a filha. Não ataca a Justiça,
não ataca o Ministério Público. Respeita. O cara tem 20 contas no
exterior, nunca declarou. Gastos milionários em cartão de crédito. Traz
para si, tira a esposa e a filha. Ele não pode permitir a filha e a
esposa passarem por isso. É a preocupação que tenho.
É possível Cunha responder aos inquéritos e continuar no comando da Câmara?
Ele foi o adversário mais à altura do Lula, que nunca esperou encontrar
um bandido da mesma qualidade moral, intelectual que ele. O bandido pelo
qual eu mais torço é o Eduardo Cunha. Vai puxar a barba do Rasputin
(Grigori, místico russo amigo do czar Nicolas II, morto em 1916).
Gelado, frio, equilibrado. O Lula, o PT e esse Fórum de São Paulo
(conferência de partidos de esquerda latino-americanos) são bandidos da
laia do Cunha, topam tudo. Como Deus faz as coisas. Botou um cara ali
que qualquer jogo ele joga, qualquer parada ele topa e sabe onde aperta o
calo do outro bandido. Pega o outro bandido na esquina. Dudu é o
bandido que eu mais gosto, o vilão que eu torço por ele, o vilão da
minha novela. E estou doido para ele puxar a barba do Rasputin.
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