Por Dom Orani Tempesta
Recordo-me que assim começa a regra de São Bento: “escuta filho”. Assim também rezamos sempre no “salmo invitatório” da Liturgia das Horas: “se hoje escutardes sua voz”. A buscar por falar, desabafar supõe que haja quem escute, quem ouça com o coração aberto e iluminado pelo Espírito Santo.
Porém, para escutar o outro necessitamos primeiro escutar o Senhor nosso Deus. O primeiro passo de uma pastoral da escuta, antes mesmo de técnicas de escuta, é sermos pessoas que aprenderam a escutar a voz de Deus em suas vidas.
Estamos constatando algo na nossa sociedade contemporânea. Sociedade esta das: inovações, das descobertas, da tecnologia e da era digital. Nesta sociedade, percebo que cada vez mais aumentam no coração humano as agitações interiores e exteriores. O nosso grande mal é a falta de escutar. O escutar aqui é ao próprio Deus, aos outros e à natureza.
É claro: estamos no período contemporâneo e temos que cada vez mais avançar, mas avançar sem perder de vista as qualidades deixadas pelo passado, ou seja, pela história. Assim, já dizia Cícero: “Historia, magistra vitae” (recordo aqui de meu antigo professor de história). Na História, podemos aprender com o Antigo Testamento que fortalece o mandato de Deus do escutar-Shemá. “Ouve, Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Deuteronômio 6,4).
O Povo de Israel vai viver esta máxima de escutar e estar sempre atento à voz do Senhor que fala. O seu falar é através da voz, dos sinais ou de pessoas que foram enviadas (profetas). Quantos profetas souberam de sua missão porque souberam ouvir a Voz de Deus! Ouviram por que se colocaram em silêncio. Quantos no mundo atual repudiam o silêncio! Acham que silêncio é coisa exclusive de monge. Não, o silêncio serve para todos nós, sobretudo neste mundo tão agitado em que vivemos, onde o que impera é o barulho. Às vezes nos perdemos no barulho e nos esquecemos de ouvir o Senhor.
Encontramos muitos textos que assim nos exortam sobre o silêncio e a escuta. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10,27). “Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não o ouvem porque não pertencem a Deus" (Jo 8,47). “Então ele disse: O Deus dos nossos antepassados o escolheu para conhecer a sua vontade, ver o Justo e ouvir as palavras de sua boca” (At 22,14). “O Senhor lhe disse: "Saia e fique no monte, na presença do Senhor, pois o Senhor vai passar". Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave. Então veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do Senhor, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Quan¬do Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à entrada da caverna. E uma voz lhe perguntou: “O que você está fazendo aqui, Elias”? (1Reis, 19,11-13).
Será importante que nós comecemos a refletir a respeito do valor do silêncio e da escuta. Nesse sentido, os círculos bíblicos, com o modo de “Lectio divina”, se inserem nesse contexto, quando depois de ouvir, acolher, meditar, partilhamos o que o Senhor nos falou. Porém, temos que aprender a nos silenciar. A liturgia prescreve alguns momentos de silêncio, que nem sempre observamos. Este silêncio não é fazer nada, mas este silêncio é a oportunidade de calar a minha voz para deixar a Voz de Deus falar em meu coração e em minha vida. Em vez de agitação, recolhamos ao silêncio para escutar o Senhor. Escutar o outro que às vezes está quase gritando para ser notado e compreendido.
Deus fala, em primeiro lugar, por meio da sua Palavra. Mas não somente. Fala também através de outros meios e sinais. Alguns são evidentes, como as palavras do Papa Francisco, sempre certeiras, que nos comovem e fazem refletir. E pode falar através do comentário de uma pessoa, de algo que vivenciamos, ouvimos ou lemos aparentemente "por acaso". Seria excelente se dedicássemos alguns momentos a fazer um breve "retiro", no qual nos aplicássemos sem pressa a abrir-nos ao que Deus possa querer nos dizer. São famosos os retiros de silêncio da Espiritualdiade Inaciana e muitos hoje os procuram. Podemos começar a vivenciar indo à Missa; passar também um tempo em adoração diante do Santíssimo; caminhar ou sentar-nos em meio a uma bela paisagem, talvez no jardim de algum convento ou parque.
E, para orar, selecionar alguma passagem bíblica, talvez um dos textos da liturgia do dia, por exemplo, ou seu trecho favorito. Também é possível aproveitar alguma mensagem do Papa; participar de algum retiro na paróquia ou comunidade religiosa, ou inclusive fazê-lo pela internet.
Segundo Santo Agostinho, “escutar a palavra de Deus é como se alimentar de Cristo”. Ele explicava que há duas mesas na Igreja: a mesa da Eucaristia e a mesa da Palavra. Com isso, ele patenteava que a Palavra de Deus é um alimento espiritual. Quem bem se nutria desta refeição santificadora era Maria, a irmã de Marta e Lázaro, elogiada por Jesus pelo fato de escutá-Lo atentamente, deixando todos os outros afazeres.
Como dito no início, neste Ano Santo Jubilar da Misericórdia, nossa Arquidiocese está empenhada na Pastoral da Escuta. Aprendendo a escutar o Senhor, portanto a rezar, a orar, poderemos também nos dedicar a ouvir os irmãos em suas necessidades de partilha e desabafos, muitas vezes trazendo corações feridos pela vida e pela história. Para isso, supõe-se a caridade e a fraternidade de quem ama a Deus e ao próximo. Muitas vezes as pessoas acabam colocando seus sentimentos em público, e até mesmo pelas mídias sociais, de tão necessitadas de partilha. Porém, a partilha na fé dá outra dimensão e nos remete ao encontro com o Senhor, que quer falar ao coração de cada um. Por isso, o grande trabalho de quem escuta é ajudar a abrir o ouvido do interlocutor para escutar o que Deus lhe está falando. Escutar o próximo é um belíssimo ato de misericórdia, e nos abre para a graça do serviço generoso aos que precisam desabafar e encontrar-se com a Trindade Santa.
Porém, para escutar o outro necessitamos primeiro escutar o Senhor nosso Deus. O primeiro passo de uma pastoral da escuta, antes mesmo de técnicas de escuta, é sermos pessoas que aprenderam a escutar a voz de Deus em suas vidas.
Estamos constatando algo na nossa sociedade contemporânea. Sociedade esta das: inovações, das descobertas, da tecnologia e da era digital. Nesta sociedade, percebo que cada vez mais aumentam no coração humano as agitações interiores e exteriores. O nosso grande mal é a falta de escutar. O escutar aqui é ao próprio Deus, aos outros e à natureza.
É claro: estamos no período contemporâneo e temos que cada vez mais avançar, mas avançar sem perder de vista as qualidades deixadas pelo passado, ou seja, pela história. Assim, já dizia Cícero: “Historia, magistra vitae” (recordo aqui de meu antigo professor de história). Na História, podemos aprender com o Antigo Testamento que fortalece o mandato de Deus do escutar-Shemá. “Ouve, Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Deuteronômio 6,4).
O Povo de Israel vai viver esta máxima de escutar e estar sempre atento à voz do Senhor que fala. O seu falar é através da voz, dos sinais ou de pessoas que foram enviadas (profetas). Quantos profetas souberam de sua missão porque souberam ouvir a Voz de Deus! Ouviram por que se colocaram em silêncio. Quantos no mundo atual repudiam o silêncio! Acham que silêncio é coisa exclusive de monge. Não, o silêncio serve para todos nós, sobretudo neste mundo tão agitado em que vivemos, onde o que impera é o barulho. Às vezes nos perdemos no barulho e nos esquecemos de ouvir o Senhor.
Encontramos muitos textos que assim nos exortam sobre o silêncio e a escuta. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10,27). “Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não o ouvem porque não pertencem a Deus" (Jo 8,47). “Então ele disse: O Deus dos nossos antepassados o escolheu para conhecer a sua vontade, ver o Justo e ouvir as palavras de sua boca” (At 22,14). “O Senhor lhe disse: "Saia e fique no monte, na presença do Senhor, pois o Senhor vai passar". Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave. Então veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do Senhor, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Quan¬do Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à entrada da caverna. E uma voz lhe perguntou: “O que você está fazendo aqui, Elias”? (1Reis, 19,11-13).
Será importante que nós comecemos a refletir a respeito do valor do silêncio e da escuta. Nesse sentido, os círculos bíblicos, com o modo de “Lectio divina”, se inserem nesse contexto, quando depois de ouvir, acolher, meditar, partilhamos o que o Senhor nos falou. Porém, temos que aprender a nos silenciar. A liturgia prescreve alguns momentos de silêncio, que nem sempre observamos. Este silêncio não é fazer nada, mas este silêncio é a oportunidade de calar a minha voz para deixar a Voz de Deus falar em meu coração e em minha vida. Em vez de agitação, recolhamos ao silêncio para escutar o Senhor. Escutar o outro que às vezes está quase gritando para ser notado e compreendido.
Deus fala, em primeiro lugar, por meio da sua Palavra. Mas não somente. Fala também através de outros meios e sinais. Alguns são evidentes, como as palavras do Papa Francisco, sempre certeiras, que nos comovem e fazem refletir. E pode falar através do comentário de uma pessoa, de algo que vivenciamos, ouvimos ou lemos aparentemente "por acaso". Seria excelente se dedicássemos alguns momentos a fazer um breve "retiro", no qual nos aplicássemos sem pressa a abrir-nos ao que Deus possa querer nos dizer. São famosos os retiros de silêncio da Espiritualdiade Inaciana e muitos hoje os procuram. Podemos começar a vivenciar indo à Missa; passar também um tempo em adoração diante do Santíssimo; caminhar ou sentar-nos em meio a uma bela paisagem, talvez no jardim de algum convento ou parque.
E, para orar, selecionar alguma passagem bíblica, talvez um dos textos da liturgia do dia, por exemplo, ou seu trecho favorito. Também é possível aproveitar alguma mensagem do Papa; participar de algum retiro na paróquia ou comunidade religiosa, ou inclusive fazê-lo pela internet.
Segundo Santo Agostinho, “escutar a palavra de Deus é como se alimentar de Cristo”. Ele explicava que há duas mesas na Igreja: a mesa da Eucaristia e a mesa da Palavra. Com isso, ele patenteava que a Palavra de Deus é um alimento espiritual. Quem bem se nutria desta refeição santificadora era Maria, a irmã de Marta e Lázaro, elogiada por Jesus pelo fato de escutá-Lo atentamente, deixando todos os outros afazeres.
Como dito no início, neste Ano Santo Jubilar da Misericórdia, nossa Arquidiocese está empenhada na Pastoral da Escuta. Aprendendo a escutar o Senhor, portanto a rezar, a orar, poderemos também nos dedicar a ouvir os irmãos em suas necessidades de partilha e desabafos, muitas vezes trazendo corações feridos pela vida e pela história. Para isso, supõe-se a caridade e a fraternidade de quem ama a Deus e ao próximo. Muitas vezes as pessoas acabam colocando seus sentimentos em público, e até mesmo pelas mídias sociais, de tão necessitadas de partilha. Porém, a partilha na fé dá outra dimensão e nos remete ao encontro com o Senhor, que quer falar ao coração de cada um. Por isso, o grande trabalho de quem escuta é ajudar a abrir o ouvido do interlocutor para escutar o que Deus lhe está falando. Escutar o próximo é um belíssimo ato de misericórdia, e nos abre para a graça do serviço generoso aos que precisam desabafar e encontrar-se com a Trindade Santa.
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