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quarta-feira, 1 de junho de 2016

Basta de toma lá dá cá

Editorial - Estadão
Este jornal noticiou que o “Congresso só apoia pacote de Temer com alterações”, dando conta, com base em declarações de líderes dos sete maiores partidos representados no Parlamento, de que senadores e deputados não querem se comprometer prévia e incondicionalmente com a pauta econômica do presidente em exercício Michel Temer, especialmente com as duas medidas consideradas prioritárias: o teto dos gastos públicos e a reforma da Previdência. Por óbvio, não chega a ser notícia o fato de que parlamentares estejam dispostos a, antes de votar, examinar e discutir projetos apresentados pelo governo. É para isso também que senadores e deputados são eleitos.

Não foi, portanto, a obviedade da declaração que chamou a atenção dos repórteres que levantaram o assunto. O que não escapou aos jornalistas habituados ao trato de questões políticas complexas e controvertidas foi a intenção sutilmente implícita naquilo que disseram as lideranças partidárias: os parlamentares não pretendem entregar de bandeja ao Planalto os votos nos quais muitos já estão colocando preço, até mesmo antes de conhecer precisamente o conteúdo de projetos que ainda nem lhes foram apresentados. Nenhuma novidade. É assim, infelizmente, que funciona esse Parlamento em que as preocupações dos representantes eleitos pelos cidadãos raramente vão além do controle que pretendem manter sobre seus redutos eleitorais e seu patrimônio material.

Mais do que ninguém, senadores e deputados deveriam saber que o Brasil vive um momento extremamente delicado, de uma crise econômica e social grave – para não falar na crise política e moral – que exige de todos, principalmente dos governantes e representantes do povo, competência, determinação e desprendimento. É hora de colocar de lado interesses pessoais e de grupos para concentrar-se no objetivo, que deveria ser comum, de criar condições objetivas para o saneamento das contas públicas e a aprovação de medidas estruturantes que propiciem a retomada do crescimento, condição indispensável para a garantia e ampliação dos direitos dos cidadãos e das conquistas sociais. Não é hora, portanto, de espertezas para garantir vantagens em nefasto toma lá dá cá.

A atitude que se espera de lideranças políticas responsáveis, no momento em que os parlamentares vão votar medidas, muitas delas impopulares, urgentes e indispensáveis para a correção dos erros praticados pelo tsunami populista do lulopetismo, é de inequívoca disposição de fornecer ao governo os instrumentos de que ele acredita necessitar para enfrentar o desafio que tem pela frente. Não significa, é claro, que os parlamentares devam entregar a Michel Temer um cheque em branco. Ninguém imagina que as medidas que o governo vai propor não possam ser eventualmente corrigidas e aperfeiçoadas pelo bom debate, que tenha como objetivo o bem comum e não interesses mesquinhos.

Melhor serviço teriam prestado ao Brasil os líderes partidários ouvidos pelo Estado – todos de legendas aliadas ao Planalto – se, sem renunciar às prerrogativas inerentes ao mandato parlamentar, tivessem dado ênfase à intenção de ajudar o governo a fazer o que for necessário para enfrentar a crise, assumindo patrioticamente a corresponsabilidade pelo programa de austeridade. Isso seria política sadia.

A responsabilidade de assumir essa postura construtiva de que o futuro do País depende deveria ser liderada pelo PMDB que, afinal, é o partido do presidente em exercício. Se assumiram o poder e pretendem mantê-lo pelos menos até 2018, Michel Temer e seus companheiros devem se compenetrar de que as mudanças pelas quais o País anseia passam necessariamente pela moralização das práticas políticas. Acordos e alianças fazem parte do jogo democrático. No momento, são indispensáveis para garantir apoio parlamentar às mudanças importantes e polêmicas que o governo precisa implementar porque a Nação exige mudanças. Mas existe uma enorme diferença entre formar maioria na defesa de interesses nacionais e vender voto, no varejo ou no atacado, pagos em pixulecos. Os tempos mudaram e com eles devem mudar os costumes. Basta de toma lá dá cá.

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