A conversa, de cerca de uma hora de duração, ocorreu no avião (foto) que o levava da Armênia para Roma. Já virou praxe das viagens internacionais do papa esse tipo de abordagem informal. Na volta da viagem que fez ao Brasil, em 2013, por exemplo, ele chegou a comentar "quem sou eu para condenar os gays?".
Na viagem deste domingo, quando um repórter mencionou o atentado que deixou 49 mortos em uma boate gay em Orlando, na Flórida, o sumo pontífice ficou claramente triste. Recordando ensinamentos cristãos, o papa Francisco afirmou que os homossexuais "não devem ser discriminados". "Eles devem ser respeitados, acompanhados pastoralmente".
"Acho que a igreja não deve apenas pedir desculpas a uma pessoa gay a quem ofendeu, mas também deve pedir desculpas aos pobres, bem como às mulheres que foram exploradas, às crianças que foram exploradas por trabalho forçado. Deve pedir desculpas por ter abençoado tantas armas."
Para o sociólogo e biólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o discurso de Francisco é uma continuidade dos anteriores, não só deles, mas de seus antecessores também. “Isso já vem de muito tempo na Igreja: o respeito é a acolhida à pessoa homossexual. É diferente, é claro, sobre a discussão da ideologia de gênero; o que a Igreja prega é a acolhida à pessoa”, contextualiza. “A novidade em Francisco é sua maneira de falar. E sua capacidade de fazer uma autocrítica à Igreja.”
Ribeiro comenta que Francisco parece estar, em muitas ocasiões, frisando: “não estou dizendo que a Igreja está errada, mas estou dizendo que ela não trabalhou bem com isso no passado”. E isto tem um poder de cativar, de encantar o público.
O papa também opinou que "as intenções de Martinho Lutero não eram equivocadas", disse o sumo pontífice, sobre o teólogo responsável pela cisão da Igreja. "Ele deu um remédio à Igreja", comentou o papa, frisando que na época a instituição católica estava perdida no poder, no dinheiro e na corrupção.
"As intenções de Martinho Lutero não era equivocadas. Ele era um reformador. Talvez alguns métodos não fossem os justos, mas naquele tempo a Igreja não era realmente um modelo a imitar. Havia corrupção na Igreja, havia mundanidade, obsessão com o dinheiro, o poder", afirmou.
"Lutero era inteligente, deu um passo adiante e justificando por que fazia isso. Deu um remédio à IGreja, mas depois esse remédio foi consolidado em um estado de coisas, em uma disciplina, em um modo de fazer crer, um modo litúrgico", afirmou. Francisco vai viajar à Suécia para participar dos 500 anos da Reforma Protestante, encabeçada por Martinho Lutero. “Não é de hoje que a Igreja Católica apresenta um esforço para recuperar os vínculos com os protestantes. E até o reconhecimento da contribuição deles para o cristianismo”, comenta Ribeiro.
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