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sábado, 18 de junho de 2016

Sem direito a visto, 4ª geração de japoneses tenta até casamento falso

Akira Ota (nome fictício), 27, comerciante, quer se mudar para o Japão. Quer tanto que está até disposto a se casar apenas para isso. Como é bisneto de japoneses –da quarta geração, portanto– ele não tem mais direito ao visto de longa permanência, que permite viver e trabalhar no país.

Por isso, Ota está de casamento marcado com uma brasileira, neta de japoneses. Em troca do documento, ele irá pagar R$ 1.200 por mês à mulher quando chegarem ao Japão, por três anos, até a primeira renovação do visto.

Para convencer o consulado, o casal tem até um álbum de fotos no Facebook, que inclui festas falsas com parentes e beijinhos. "Nos encontramos pouco, só pra fazer as fotos", conta o comerciante.

"Minha meta é ir para o Japão. Encontrei um meio de conseguir, talvez o único", diz. "No Japão, o plano é cada um ter sua vida e sua casa separadas. É um acordo mesmo."

Assim como o comerciante, outros yonseis brasileiros ("yon" quarta e "sei" geração) têm encontrado as portas do país de seus antepassados fechadas.

A última mudança na legislação japonesa para facilitar a entrada de brasileiros descendentes de imigrantes foi na década de 1990, quando a economia do Japão estava aquecida e precisava de mão de obra. Foi então aprovada portaria que estendeu os direitos de cidadania à terceira geração.

O cenário mudou radicalmente a partir de 2008, quando a economia do país entrou em recessão, e a entrada dos imigrantes ficou mais complicada. "Os empregadores passaram a exigir fluência em japonês dos imigrantes, o que não acontecia antes", diz o advogado Masato Ninomiya, que lidera o movimento pelo reconhecimento dos yonseis brasileiros pelo governo japonês.

Entidades ligadas à comunidade japonesa no Brasil preparam um documento que será entregue ainda neste mês ao embaixador do Japão pedindo a inclusão dos yonseis na lista dos imigrantes que têm direito ao visto de longa permanência.

Segundo o advogado, a esperança é que as obras públicas previstas para a Olimpíada de 2020 em Tóquio aqueçam o mercado de trabalho no país e facilitem a entrada dos imigrantes.

A atendente Christyellen Oji, 18, também sofre por ser yonsei. Ela conta que morou durante seis anos na província de Shiga, para onde se mudou ainda criança com a mãe. Há sete anos, elas tiveram que voltar ao Brasil e, desde então, Christyellen tenta tirar o visto de longa permanência para retornar ao país que considera seu lar. "A minha casa é no Japão e essa espera é desesperadora."

A espera também é angustiante para o microempresário Herbert Sizilo, 27. Ele tenta migrar desde 2009 para o Japão, onde mora toda a sua família. "Saí de lá em 2008 por causa da crise para tentar abrir meu negócio no Brasil. Hoje, me arrependo e quero voltar."

Assim como ele, outros bisnetos de imigrantes japoneses recorrem às agências de viagem que fazem a ponte entre o consulado e os imigrantes para emitir os vistos. "Recebo quase todos os dias jovens que têm bisavôs japoneses mas não conseguem o visto para morar no Japão", diz o agente Cori Passos.

A estudante Bruna Mayumi, 16, é uma de suas clientes que aguarda a permissão para ir morar com a mãe, que vive no Japão. Atualmente, ela vive com a avó em São Paulo. "Fico ansiosa, quero estudar e fazer a minha vida no Japão."

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