Editorial - Folha de SP
Não bastassem a deterioração do ambiente político e a persistência da grave recessão, somam-se ainda aos infortúnios deste 2016 notícias nada animadoras na área da segurança pública. Levantamento realizado por esta Folha aponta um aumento considerável no registro de roubos e furtos, em especial de celulares e veículos, em todas as regiões do país. A análise compilou dados de secretarias de segurança de nove Estados, os únicos que disponibilizam números atualizados de crimes contra o patrimônio.
Rio de Janeiro encabeça a lista, com alta de 36% nos roubos de janeiro a setembro deste ano, em relação a 2015. Paraná e Rondônia vêm logo em seguida, com 29% e 23%, respectivamente.
Entre as capitais pesquisadas, Porto Alegre registrou a maior variação (27%). Rio (22%) e Porto Velho (18%) também compõem esse pódio lamentável. Em São Paulo, ainda que em índices menores, também verificou-se elevação nesse tipo de crime, tanto no Estado (6%) quanto na capital (4%).
Especialistas em segurança argumentam que o acréscimo pode ser resultado de maior eficácia na notificação dos delitos. Os governos estaduais, por sua vez, atribuem os números deploráveis ao cenário de crise econômica e desemprego em massa. A proeminência de Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul nessas estatísticas, de fato, pode sugerir relação entre a escalada na criminalidade e a recessão, uma vez que ambos os Estados passam por situação de calamidade financeira.
Embora não se deva excluí-la ao se analisar os casos, essa hipótese pode soar como desculpa para mascarar deficiências crônicas dos Estados no combate ao crime.
São baixíssimos os índices de investigações bem-sucedidas no país. Em São Paulo, por exemplo, a Polícia Civil esclarece apenas 2% dos roubos. O quadro tende a se agravar, tendo em vista que o efetivo da corporação vem encolhendo desde 2009.
Não espanta, portanto, a desconfiança do brasileiro em relação ao desempenho das polícias. Como mostrou recente pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apenas 52% consideram a civil eficiente e somente 50% acreditam que a militar garante a segurança da sociedade.
Nas circunstâncias adversas atuais, faz-se ainda mais premente a busca por eficiência. Aprimorar os métodos de investigação é imprescindível para reverter o incremento dos crimes e o ceticismo da população.
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