Em depoimento sigiloso obtido pela Folha, um sobrevivente do massacre que deixou dez mortos no sudeste do Pará, na última quarta (24), disse que os sem-terra já estavam dominados quando foram mortos a tiros por policiais.
Segundo relato ao Ministério Público, os agentes chegaram por volta das 7h ao acampamento, em área invadida da fazenda Santa Lúcia, no município de Pau d'Arco (867 km ao sul de Belém). Em seguida, os 28 sem-terra do grupo se dispersaram correndo.
Parte deles, incluindo a testemunha, teria se escondido em um matagal próximo e, por causa da chuva, se abrigado sob uma lona. Neste momento, a polícia os alcançou e começou a disparar, diz o relato.
Ele novamente correu e se escondeu a cerca de 70 metros de onde estava abrigado. Dali, escutou uma sequência de xingamentos e aparentemente chutes seguidos por disparos. "Logo tudo era repetido com outra pessoa".
Por vezes, ainda de acordo com a versão do sem-terra, um policial perguntava antes de disparar: "Vira pra cá, vagabundo. Cadê os outros?". A ação teria durado cerca de duas horas. Ao final, teria ouvido "gritos e gargalhadas, como se estivessem festejando".
O depoente admitiu que havia armas no acampamento, incluindo o fuzil mais tarde apresentado pela polícia, mas disse que não houve revide.
Ele prestou depoimento sob a condição de anonimato e foi encaminhado ao programa de proteção a testemunhas.
O relato contradiz a versão do governo do Pará, segundo a qual 24 policiais civis e militares foram recebidos a tiros quando chegaram ao local.
MAIS SOBREVIVENTES
Ao menos outros três sobreviventes foram localizados. Um deles levou um tiro na nádega e está internado num hospital da cidade de Redenção. Os Ministérios Públicos Federal e Estadual solicitaram proteção à Polícia Federal, mas o pedido não havia sido respondido até esta sexta (26).
Ele e a sua mulher, que também escapou, já prestaram depoimento à polícia. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública paraense disse que o teor do relato está sob sigilo.
O terceiro sobrevivente localizado também testemunhou. A Folha apurou que ele disse não ter visto a ação por ter fugido para longe do local.
A operação policial teria o objetivo de cumprir quatro mandados de prisão relacionados ao assassinato de um segurança da fazenda invadida, no dia 30 de abril.
Em decisão criticada pelo Ministério Público Federal, os corpos foram retirados do local por policiais civis e militares antes da perícia, contaminando a cena do massacre.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a alteração do local das mortes está sob apuração da própria Polícia Civil. A Folha solicitou entrevistas com o secretário da pasta, Jeannot Jansen, e o chefe da Delegacia de Conflitos Agrários de Redenção (PA), Valdivino Miranda. Os dois pedidos foram negados.
"O depoimento fortalece as dúvidas sobre a versão da polícia surgidas após a visita ao local", afirma a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, que vistoriou o local na quinta. Para o presidente do CNDH (Conselho Nacional dos Direitos Humanos), Darci Frigo, que também esteve na região, todas as informações disponíveis até agora indicam que não houve confronto. "A dúvida é: por que se usou tanta violência nessa operação?"
Segundo relato ao Ministério Público, os agentes chegaram por volta das 7h ao acampamento, em área invadida da fazenda Santa Lúcia, no município de Pau d'Arco (867 km ao sul de Belém). Em seguida, os 28 sem-terra do grupo se dispersaram correndo.
Parte deles, incluindo a testemunha, teria se escondido em um matagal próximo e, por causa da chuva, se abrigado sob uma lona. Neste momento, a polícia os alcançou e começou a disparar, diz o relato.
Ele novamente correu e se escondeu a cerca de 70 metros de onde estava abrigado. Dali, escutou uma sequência de xingamentos e aparentemente chutes seguidos por disparos. "Logo tudo era repetido com outra pessoa".
Por vezes, ainda de acordo com a versão do sem-terra, um policial perguntava antes de disparar: "Vira pra cá, vagabundo. Cadê os outros?". A ação teria durado cerca de duas horas. Ao final, teria ouvido "gritos e gargalhadas, como se estivessem festejando".
O depoente admitiu que havia armas no acampamento, incluindo o fuzil mais tarde apresentado pela polícia, mas disse que não houve revide.
Ele prestou depoimento sob a condição de anonimato e foi encaminhado ao programa de proteção a testemunhas.
O relato contradiz a versão do governo do Pará, segundo a qual 24 policiais civis e militares foram recebidos a tiros quando chegaram ao local.
MAIS SOBREVIVENTES
Ao menos outros três sobreviventes foram localizados. Um deles levou um tiro na nádega e está internado num hospital da cidade de Redenção. Os Ministérios Públicos Federal e Estadual solicitaram proteção à Polícia Federal, mas o pedido não havia sido respondido até esta sexta (26).
Ele e a sua mulher, que também escapou, já prestaram depoimento à polícia. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública paraense disse que o teor do relato está sob sigilo.
O terceiro sobrevivente localizado também testemunhou. A Folha apurou que ele disse não ter visto a ação por ter fugido para longe do local.
A operação policial teria o objetivo de cumprir quatro mandados de prisão relacionados ao assassinato de um segurança da fazenda invadida, no dia 30 de abril.
Em decisão criticada pelo Ministério Público Federal, os corpos foram retirados do local por policiais civis e militares antes da perícia, contaminando a cena do massacre.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a alteração do local das mortes está sob apuração da própria Polícia Civil. A Folha solicitou entrevistas com o secretário da pasta, Jeannot Jansen, e o chefe da Delegacia de Conflitos Agrários de Redenção (PA), Valdivino Miranda. Os dois pedidos foram negados.
"O depoimento fortalece as dúvidas sobre a versão da polícia surgidas após a visita ao local", afirma a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, que vistoriou o local na quinta. Para o presidente do CNDH (Conselho Nacional dos Direitos Humanos), Darci Frigo, que também esteve na região, todas as informações disponíveis até agora indicam que não houve confronto. "A dúvida é: por que se usou tanta violência nessa operação?"
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