A atuação de Eliana Calmon como corregedora-geral do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), entre os anos de 2010 e 2012, foi
marcada pela empreitada a favor da transparência e pela atuação contra
benefícios irregulares que, atrelados aos vencimentos de magistrados e
servidores do Judiciário, não raro, faziam com que os rendimentos desses
profissionais ultrapassassem o teto constitucional. Ao Estado de SP, a ex-ministra, hoje advogada, observa que “nada mudou” no Judiciário. A seguir, leia os principais trechos da entrevista.
Transparência
Nada mudou. Esse tema veio à tona quando veio a Lei de Acesso à
Informação. O ministro (Carlos) Ayres Britto tomou posição, com apoio da
Corregedoria da qual eu estava à frente, para que colocássemos a
remuneração dos magistrados no banco de dados do CNJ. Ayres baixou
portaria, mas isso não foi cumprido. E acho difícil a ministra Cármen
Lúcia cumprir.
Caixas-pretas
Existe uma
resistência muito grande por parte dos tribunais. Porque desembargadores
ganham absurdos, muito além do teto constitucional. Talvez quem ganhe
menos sejam os ministros dos tribunais superiores. Os tribunais do Rio
de Janeiro e de São Paulo são verdadeiras caixas-pretas. Não se tem
noticia e eles não querem que tenha porque existem muitos penduricalhos,
gratificações e formas de remuneração chamadas de indenização altamente
benéficas porque sobre elas não incidem o Imposto de Renda.
Teto constitucional
Se
é indenização, não soma para o teto. E a ideia que se tem é que tudo
tem que vir à tona para que seja feita a triagem entre o que é
indenização e o que não é. Porque muita coisa é chamada de indenização e
na realidade não é. São ‘penduricalhos’. Isso tudo precisaria vir à
tona. Se o contribuinte paga a remuneração dos servidores e está no
sistema Siaf, não é possível que exista um Poder que tenha um biombo
sobre toda essa parte considerável do serviço público.
Penduricalhos
Cada
órgão vai inventando um penduricalho diferente: auxílio moradia para
toda a magistratura, que chegam a mais de 4 mil, auxílio-paletó,
auxílio-creche, para compra de livros. Já encontrei gratificação de
férias pagas a desembargadores aposentados. A Escola Superior da
Magistratura é uma grande válvula de escape. Não é possível uma aula
custar R$ 10 mil. São coisas assim que ficam camufladas e isso acaba
acontecendo por causa do colegiado.
Poder do CNJ
O CNJ tem
poder censório, mas tem perdido sua força na medida em que são colocados
conselheiros muito jovens, por indicações políticas. Desta forma, ficam
vulneráveis atendendo a pedidos políticos.
Posição do Supremo
No
Supremo existem ministros que vêm da magistratura e não querem essa
investigação, principalmente no Rio e em São Paulo. O STF termina sendo
conivente diante das decisões que dão para não haver fiscalização nos
tribunais. Na minha gestão no CNJ, por exemplo, duas liminares impediram
a investigação em São Paulo. Depois as liminares caíram, mas, enquanto
eu estava lá, elas impediram a investigação.
Recebeu retroativo
Quando isso foi votado no Conselho Administrativo do STJ eu fui contra.
Eu fui vencida e terminei recebendo o auxílio-alimentação. Eu podia
devolver o dinheiro? O importante é que no meu voto eu dei minhas
razões, mas fui vencida.
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