Por Eliane Cantanhêde - Estadão
A sensação não só no Planalto como em toda Brasília é que Temer vai enfrentar solavancos, mas conseguirá atravessar a pinguela, avançar na pauta legislativa e concluir o mandato. A questão é saber como Temer fica, com quem e para quê.
Boa parte das respostas está nas planilhas da votação pela qual a Câmara barrou a denúncia da PGR contra Temer por corrupção passiva. Há vitórias e vitórias. Foram 263 votos contra a denúncia, 227 a favor, 19 ausências e duas abstenções, resultado suficiente para manter o mandato, não para garantir as reformas. Não foi um banho.
O PT se dividiu quanto à estratégia de dar ou não quórum, mas aproveitou bem a exposição em horário nobre, votou em bloco com a oposição pela continuação do processo contra Temer no Supremo e condenou a reforma da Previdência. Um populismo irresponsável, mas que anima a militância e serve de isca para pescar votos, por exemplo, do funcionalismo em 2018.
Já os partidos governistas fizeram a farra e tiveram de tudo, enquanto o PSDB rachou exatamente ao meio: 22 pró-Temer e 21 contra, apesar da orientação do líder, Ricardo Tripoli, homem de Geraldo Alckmin no Congresso.
O Planalto lembra que faltaram “só” 45 votos para os 308 necessários em mudanças constitucionais, como a reforma da Previdência, que volta com tudo à pauta nacional. E espera que muitos aliados que votaram contra Temer anteontem agora votem a favor das reformas, até mesmo da Previdência.
É o caso do PSDB, que vai ficar até o final do ano com Aécio Neves fingindo que é só um presidente licenciado e Tasso Jereissati encenando o presidente “interino”, mas ambos, como as bancadas na Câmara e no Senado, já anunciam apoio às reformas. Os tucanos racham diante de tudo, mas se unem a favor da modernização das regras trabalhistas (já aprovada) e previdenciárias (a ser votada).
O dilema do PSDB, porém, não é apenas diante de Temer, de denúncias, de cargos e de reformas. É uma crise de identidade, de lideranças e de indefinição quanto ao futuro. Fora do poder, eles já estão se matando; imagine se voltarem ao poder...
Se o PSDB reboca o DEM (ex-PFL) desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, não está descartada a migração de parte dos tucanos para o novo partido que o DEM articula com os dissidentes do PSB. À frente, o prefeito de Salvador, ACM Neto, para quem o céu é o limite, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, um dos raríssimos políticos em ascensão nesse ambiente de terra arrasada.
Maia cresceu na crise, conquistou o respeito de seus pares e da mídia, esfregou sua lealdade na cara de Temer e dos palacianos. E não se pode esquecer que ele é de um Estado em que, entre mortos e feridos, muito poucos se salvam. Depois de explodir Sérgio Cabral, os escândalos começaram ontem a se aproximar do ex-prefeito Eduardo Paes.
Para Temer, porém, a balança neste momento é entre o PSDB, o aliado chique e temperamental, e o Centrão, nada chique e muito pragmático. Quanto mais o PSDB escapulir, mais o Centrão vai entrar no governo. Mas o que realmente interessa é que todos eles, juntos, vão embalar a reforma da Previdência.
Janot. Rodrigo Janot foi derrotado? Nem tanto. Os que votaram contra a denúncia justificaram com a economia, raramente contra o conteúdo. E a autorização da Câmara é justamente para isso: contrabalançar a motivação jurídica com a conveniência política (até do País).
Entre mortos e feridos
Balanço da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer pela Câmara: o governo ganha um recomeço, o PSDB foi o que mais perdeu, o PT demonstrou que tem sobrevida, o DEM foi o maior vencedor. E o “povo”? Não estava nem aí. A sensação não só no Planalto como em toda Brasília é que Temer vai enfrentar solavancos, mas conseguirá atravessar a pinguela, avançar na pauta legislativa e concluir o mandato. A questão é saber como Temer fica, com quem e para quê.
Boa parte das respostas está nas planilhas da votação pela qual a Câmara barrou a denúncia da PGR contra Temer por corrupção passiva. Há vitórias e vitórias. Foram 263 votos contra a denúncia, 227 a favor, 19 ausências e duas abstenções, resultado suficiente para manter o mandato, não para garantir as reformas. Não foi um banho.
O PT se dividiu quanto à estratégia de dar ou não quórum, mas aproveitou bem a exposição em horário nobre, votou em bloco com a oposição pela continuação do processo contra Temer no Supremo e condenou a reforma da Previdência. Um populismo irresponsável, mas que anima a militância e serve de isca para pescar votos, por exemplo, do funcionalismo em 2018.
Já os partidos governistas fizeram a farra e tiveram de tudo, enquanto o PSDB rachou exatamente ao meio: 22 pró-Temer e 21 contra, apesar da orientação do líder, Ricardo Tripoli, homem de Geraldo Alckmin no Congresso.
O Planalto lembra que faltaram “só” 45 votos para os 308 necessários em mudanças constitucionais, como a reforma da Previdência, que volta com tudo à pauta nacional. E espera que muitos aliados que votaram contra Temer anteontem agora votem a favor das reformas, até mesmo da Previdência.
É o caso do PSDB, que vai ficar até o final do ano com Aécio Neves fingindo que é só um presidente licenciado e Tasso Jereissati encenando o presidente “interino”, mas ambos, como as bancadas na Câmara e no Senado, já anunciam apoio às reformas. Os tucanos racham diante de tudo, mas se unem a favor da modernização das regras trabalhistas (já aprovada) e previdenciárias (a ser votada).
O dilema do PSDB, porém, não é apenas diante de Temer, de denúncias, de cargos e de reformas. É uma crise de identidade, de lideranças e de indefinição quanto ao futuro. Fora do poder, eles já estão se matando; imagine se voltarem ao poder...
Se o PSDB reboca o DEM (ex-PFL) desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, não está descartada a migração de parte dos tucanos para o novo partido que o DEM articula com os dissidentes do PSB. À frente, o prefeito de Salvador, ACM Neto, para quem o céu é o limite, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, um dos raríssimos políticos em ascensão nesse ambiente de terra arrasada.
Maia cresceu na crise, conquistou o respeito de seus pares e da mídia, esfregou sua lealdade na cara de Temer e dos palacianos. E não se pode esquecer que ele é de um Estado em que, entre mortos e feridos, muito poucos se salvam. Depois de explodir Sérgio Cabral, os escândalos começaram ontem a se aproximar do ex-prefeito Eduardo Paes.
Para Temer, porém, a balança neste momento é entre o PSDB, o aliado chique e temperamental, e o Centrão, nada chique e muito pragmático. Quanto mais o PSDB escapulir, mais o Centrão vai entrar no governo. Mas o que realmente interessa é que todos eles, juntos, vão embalar a reforma da Previdência.
Janot. Rodrigo Janot foi derrotado? Nem tanto. Os que votaram contra a denúncia justificaram com a economia, raramente contra o conteúdo. E a autorização da Câmara é justamente para isso: contrabalançar a motivação jurídica com a conveniência política (até do País).
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