Editorial - Folha de SP
Foi enfática, como seria de esperar, a reação de membros do Supremo Tribunal Federal ao conteúdo das conversas recém-reveladas entre o dono da JBS, Joesley Batista, e seu assessor Ricardo Saud.
Num clima de pastosa serenidade, os dois, autores da mais impactante delação já feita contra uma autoridade pública brasileira, discorrem a respeito da suposta influência que conseguiriam exercer sobre magistrados do STF.
Falavam em pressionar o ex-titular da Justiça do governo Dilma, José Eduardo Cardozo, que seria capaz de "entregar", nas palavras de Joesley, o Supremo Tribunal.
A presidente da corte, Cármen Lúcia, além dos ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, são citados —sem nenhuma menção a ato ilícito— em meio a comentários de variada natureza, os quais incluem pitorescos projetos de infidelidade conjugal.
O gelo que se ouve entrechocar nos copos não serviu para arrefecer, naturalmente, o calor das respostas suscitadas pelo diálogo.
Em pronunciamento gravado, Cármen Lúcia considerou agredida "de maneira inédita na história do país, a dignidade institucional deste Supremo Tribunal e a honorabilidade de seus integrantes". Foi secundada, na mesma linha, por Celso de Mello.
Menos contido, o ministro Luiz Fux já declarou, antes de qualquer pedido oficial do Ministério Público, seu desejo de ver Joesley e Saud passarem "do exílio nova-iorquino para o exílio da Papuda".
Sabe-se até onde pode ir o STF quando exposto a insinuações tão constrangedoras. Em 2015, numa decisão sem precedentes, determinou a prisão de um senador, Delcídio Amaral (PT-MS), que se jactava de ter conversado com dois ministros e de poder influir sobre outros, em favor de investigados pela Lava Jato.
Suas declarações, no entender do Supremo, tipificavam o crime de obstrução da Justiça.
Mais grave, entretanto, do que as especulações de Joesley Batista e Saud é o que se depreende do despacho veiculado pelo procurador-geral, Rodrigo Janot.
Defendendo que fosse revisto o acordo de delação premiada com os executivos da JBS, Janot argumentou, textualmente, que as novas gravações "indicam a omissão dolosa de crimes praticados pelos colaboradores, terceiros e outras autoridades, envolvendo inclusive o Supremo Tribunal Federal".
Divulgado antes da íntegra do áudio, o texto permitiu, evidentemente, a interpretação de que algo de concreto contra os ministros do STF haveria a investigar.
Não havia nada, exceto os enevoados planos de Joesley Batista, e os crescentes sintomas de insegurança exibidos por Rodrigo Janot, abalado pela participação de um assessor seu, Marcello Miller, no "entourage" dos delatores.
Num clima de pastosa serenidade, os dois, autores da mais impactante delação já feita contra uma autoridade pública brasileira, discorrem a respeito da suposta influência que conseguiriam exercer sobre magistrados do STF.
Falavam em pressionar o ex-titular da Justiça do governo Dilma, José Eduardo Cardozo, que seria capaz de "entregar", nas palavras de Joesley, o Supremo Tribunal.
A presidente da corte, Cármen Lúcia, além dos ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, são citados —sem nenhuma menção a ato ilícito— em meio a comentários de variada natureza, os quais incluem pitorescos projetos de infidelidade conjugal.
O gelo que se ouve entrechocar nos copos não serviu para arrefecer, naturalmente, o calor das respostas suscitadas pelo diálogo.
Em pronunciamento gravado, Cármen Lúcia considerou agredida "de maneira inédita na história do país, a dignidade institucional deste Supremo Tribunal e a honorabilidade de seus integrantes". Foi secundada, na mesma linha, por Celso de Mello.
Menos contido, o ministro Luiz Fux já declarou, antes de qualquer pedido oficial do Ministério Público, seu desejo de ver Joesley e Saud passarem "do exílio nova-iorquino para o exílio da Papuda".
Sabe-se até onde pode ir o STF quando exposto a insinuações tão constrangedoras. Em 2015, numa decisão sem precedentes, determinou a prisão de um senador, Delcídio Amaral (PT-MS), que se jactava de ter conversado com dois ministros e de poder influir sobre outros, em favor de investigados pela Lava Jato.
Suas declarações, no entender do Supremo, tipificavam o crime de obstrução da Justiça.
Mais grave, entretanto, do que as especulações de Joesley Batista e Saud é o que se depreende do despacho veiculado pelo procurador-geral, Rodrigo Janot.
Defendendo que fosse revisto o acordo de delação premiada com os executivos da JBS, Janot argumentou, textualmente, que as novas gravações "indicam a omissão dolosa de crimes praticados pelos colaboradores, terceiros e outras autoridades, envolvendo inclusive o Supremo Tribunal Federal".
Divulgado antes da íntegra do áudio, o texto permitiu, evidentemente, a interpretação de que algo de concreto contra os ministros do STF haveria a investigar.
Não havia nada, exceto os enevoados planos de Joesley Batista, e os crescentes sintomas de insegurança exibidos por Rodrigo Janot, abalado pela participação de um assessor seu, Marcello Miller, no "entourage" dos delatores.
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