Por Ruy Castro - Folha de SP
Um amigo meu, de 70 anos, resolveu se aposentar e preparou-se para o suplício a que o Brasil submete seus filhos que têm essa ideia esdrúxula. Meu amigo sempre foi um correto profissional e não sonhava com que essa aposentadoria lhe garantisse uma vida de nababo, como a reservada aos ex-presidentes, governadores, deputados, senadores e juízes quando vão para casa. Como todo aposentado comum, ele é só um sujeito que passou a vida trabalhando e espera que os caraminguás que lhe serão destinados sirvam para complementar os rendimentos pelos quais, aposentado ou não, terá de continuar batalhando.
O suplício de meu amigo envolveu várias idas a postos do INSS, senhas e contrassenhas e horas de espera ao lado de pessoas com quem trocou ideias na fila, das quais saiu com a sensação de que ser brasileiro deveria tornar-se modalidade olímpica, com grandes chances de conquistarmos medalhas de ouro. Afinal, ninguém consegue passar por tantas humilhações e continuar sendo tão brasileiro quanto o brasileiro.
Por algum motivo, meu amigo, com mais de 50 anos de trabalho real, não conseguiu comprovar igual tempo de “contribuição”. Daí foi aposentado por idade, uma benesse que o sistema oferece aos que preferem envelhecer aos poucos em vez de morrer logo. Com isso, o dinheiro a que fará jus é menor ainda do que esperava, suficiente apenas para, segundo ele, suas compras mensais de supermercado —se ele não abusar muito do açafrão espanhol, da manteiga trufada e do caviar de esturjão apaixonado.
O primeiro salário ainda nem entrou em sua conta e meu amigo já começou a receber telefonemas de bancos e de toda espécie de instituições financeiras oferecendo-lhe crédito. São pelo menos dez telefonemas por dia. De repente, todos querem lhe emprestar dinheiro. A cada telefonema, meu amigo imagina ver um abutre pousado em sua varanda.
O suplício de meu amigo envolveu várias idas a postos do INSS, senhas e contrassenhas e horas de espera ao lado de pessoas com quem trocou ideias na fila, das quais saiu com a sensação de que ser brasileiro deveria tornar-se modalidade olímpica, com grandes chances de conquistarmos medalhas de ouro. Afinal, ninguém consegue passar por tantas humilhações e continuar sendo tão brasileiro quanto o brasileiro.
Por algum motivo, meu amigo, com mais de 50 anos de trabalho real, não conseguiu comprovar igual tempo de “contribuição”. Daí foi aposentado por idade, uma benesse que o sistema oferece aos que preferem envelhecer aos poucos em vez de morrer logo. Com isso, o dinheiro a que fará jus é menor ainda do que esperava, suficiente apenas para, segundo ele, suas compras mensais de supermercado —se ele não abusar muito do açafrão espanhol, da manteiga trufada e do caviar de esturjão apaixonado.
O primeiro salário ainda nem entrou em sua conta e meu amigo já começou a receber telefonemas de bancos e de toda espécie de instituições financeiras oferecendo-lhe crédito. São pelo menos dez telefonemas por dia. De repente, todos querem lhe emprestar dinheiro. A cada telefonema, meu amigo imagina ver um abutre pousado em sua varanda.
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