Por Vera Magalhães - Estadão
Um dos fenômenos mais bizarros e extemporâneos da eleição de 2018 é a profusão de candidatos de si mesmos. Eles sabem que, no fim do dia, não serão candidatos. O eleitor não os conhece e não dá a mínima para sua existência.
A imprensa sabe que, mais cedo ou mais tarde, eles vão cair fora, mas cumpre o constrangedor dever de entrevistá-los, convidá-los para sabatinas, pedir a suas assessorias seus planos de governo (!) para esta ou aquela área.
Os partidos sabem que só estão usando os não-candidatos para ganhar algum cacife na negociação das alianças de sempre. Em off, caciques assumem a estratégia, pouco se lixando se estão gastando o parco dinheiro do Fundo Partidário para promover uma farsa.
Mais do que isso: a permanência desses candidatos fake no páreo impede que se dê um mínimo de nitidez ideológica e programática à campanha, que se meça o potencial dos verdadeiros candidatos e que se tenha clareza sobre quem tem chances de avançar na disputa para a cada vez mais inglória tarefa de governar o Brasil a partir de 2019.
Alguns deles já se preparam para tirar o time de campo. Perceberam que o prolongamento dessa estratégia cafona e de eficácia duvidosa não lhes ajudou em nada, a não ser a pagar mico em público.
Não porque tenham traço ou quase isso nas pesquisas. Há candidatos que, mesmo tendo esses índices, são identificados com ideias, grupos de representação ou propósitos, à esquerda e à direita, e, assim sendo, têm uma postulação legítima.
Quando falo do teatro de postulações me refiro àqueles que estão no jogo ou porque têm dinheiro suficiente para bancar o capricho, ou porque são teimosos e não aceitam que seu partido esteja prestes a apoiar um adversário pessoal e político, ou porque querem se projetar para a disputa real que vão travar e fazer seu partido abocanhar uma vice aqui, uma candidatura ao Senado ali.
Esses são os candidatos de si mesmo, que optam por levar seu interesse próprio – ou, mais ridículo, um sonho de infância – às últimas consequências, quando o cenário econômico e político do País cobra dos políticos maturidade, desprendimento, senso de responsabilidade e espírito público.
Enquanto as postulações de papelão são mantidas e a campanha de verdade é empurrada para depois da Copa, o eleitor órfão se inclina pelo não-voto, quando não para a polarização raivosa, que faz com que despontem opções que flertam com ideias populistas na economia, voluntarismo na relação com o Congresso e propostas radicais e simplistas para problemas sociais complexos.
Certamente não é essa receita de coquetel molotov que vai fazer o Brasil sair do atoleiro em que Dilma Rousseff o enfiou e no qual seu companheiro de chapa Michel Temer segue chafurdando.
Diante de um quadro em que a economia quando muito vai andar de lado num ano em que se esperava que ela crescesse com mais vigor, a incerteza quanto a uma nova paralisação de caminhoneiros paira como uma espada sobre a cabeça de um governo desnorteado e o mercado precifica tudo isso dia a dia, o que os candidatos têm a propor? Nada.
Os reais estão mais preocupados em, até agosto, angariar o apoio dos imaginários e consolidar alianças para ganhar musculatura nas pesquisas. Os imaginários seguem fazendo campanhas como hologramas (caso de Lula) ou figurantes de produção ruim, como a meia dúzia de candidatos de si mesmos.
Nesse ritmo, o eleitor terá razão se chegar a outubro com a sensação de que a classe política não aprendeu nada com o sacolejão que levou da Lava Jato. O que esse eleitor fará com o desalento deveria ser razão para todos os candidatos perderem o sono, mas eles preferem perder tempo. O deles e o nosso.
Um dos fenômenos mais bizarros e extemporâneos da eleição de 2018 é a profusão de candidatos de si mesmos. Eles sabem que, no fim do dia, não serão candidatos. O eleitor não os conhece e não dá a mínima para sua existência.
A imprensa sabe que, mais cedo ou mais tarde, eles vão cair fora, mas cumpre o constrangedor dever de entrevistá-los, convidá-los para sabatinas, pedir a suas assessorias seus planos de governo (!) para esta ou aquela área.
Os partidos sabem que só estão usando os não-candidatos para ganhar algum cacife na negociação das alianças de sempre. Em off, caciques assumem a estratégia, pouco se lixando se estão gastando o parco dinheiro do Fundo Partidário para promover uma farsa.
Mais do que isso: a permanência desses candidatos fake no páreo impede que se dê um mínimo de nitidez ideológica e programática à campanha, que se meça o potencial dos verdadeiros candidatos e que se tenha clareza sobre quem tem chances de avançar na disputa para a cada vez mais inglória tarefa de governar o Brasil a partir de 2019.
Alguns deles já se preparam para tirar o time de campo. Perceberam que o prolongamento dessa estratégia cafona e de eficácia duvidosa não lhes ajudou em nada, a não ser a pagar mico em público.
Não porque tenham traço ou quase isso nas pesquisas. Há candidatos que, mesmo tendo esses índices, são identificados com ideias, grupos de representação ou propósitos, à esquerda e à direita, e, assim sendo, têm uma postulação legítima.
Quando falo do teatro de postulações me refiro àqueles que estão no jogo ou porque têm dinheiro suficiente para bancar o capricho, ou porque são teimosos e não aceitam que seu partido esteja prestes a apoiar um adversário pessoal e político, ou porque querem se projetar para a disputa real que vão travar e fazer seu partido abocanhar uma vice aqui, uma candidatura ao Senado ali.
Esses são os candidatos de si mesmo, que optam por levar seu interesse próprio – ou, mais ridículo, um sonho de infância – às últimas consequências, quando o cenário econômico e político do País cobra dos políticos maturidade, desprendimento, senso de responsabilidade e espírito público.
Enquanto as postulações de papelão são mantidas e a campanha de verdade é empurrada para depois da Copa, o eleitor órfão se inclina pelo não-voto, quando não para a polarização raivosa, que faz com que despontem opções que flertam com ideias populistas na economia, voluntarismo na relação com o Congresso e propostas radicais e simplistas para problemas sociais complexos.
Certamente não é essa receita de coquetel molotov que vai fazer o Brasil sair do atoleiro em que Dilma Rousseff o enfiou e no qual seu companheiro de chapa Michel Temer segue chafurdando.
Diante de um quadro em que a economia quando muito vai andar de lado num ano em que se esperava que ela crescesse com mais vigor, a incerteza quanto a uma nova paralisação de caminhoneiros paira como uma espada sobre a cabeça de um governo desnorteado e o mercado precifica tudo isso dia a dia, o que os candidatos têm a propor? Nada.
Os reais estão mais preocupados em, até agosto, angariar o apoio dos imaginários e consolidar alianças para ganhar musculatura nas pesquisas. Os imaginários seguem fazendo campanhas como hologramas (caso de Lula) ou figurantes de produção ruim, como a meia dúzia de candidatos de si mesmos.
Nesse ritmo, o eleitor terá razão se chegar a outubro com a sensação de que a classe política não aprendeu nada com o sacolejão que levou da Lava Jato. O que esse eleitor fará com o desalento deveria ser razão para todos os candidatos perderem o sono, mas eles preferem perder tempo. O deles e o nosso.
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