Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
26 Agosto 2018 | 05h00
Lula é imbatível ao usar (e abusar) da mídia e estar sempre nos jornais, rádios, TVs e revistas. Bolsonaro viu antes de todos o poder multiplicador das redes sociais. Alckmin dispõe de um latifúndio da propaganda eleitoral no rádio e na TV. Marina e Ciro vão ter de enfrentar essa artilharia no gogó.
Lula foi condenado e preso, o PT afundou até vencer numa única capital – a pequena Rio Branco, no Acre – e, apesar de tudo isso, o ex-presidente foi se recuperando e hoje é o campeão nas pesquisas de primeiro e segundo turnos. Como explicar?
Fácil. Ele e o PT são mestres no marketing, na propaganda, sabem criar notícia, garantir visibilidade e usar a patrulha para acuar os críticos. Lembram do “Fome Zero”? Um plano vazio, mas de efeito midiático acachapante. No final, virou um selinho escondido nos programas sociais da era PT, na verdade uma fusão dos herdados de FHC.
Aliás, que tal a “herança maldita”? Como diz Marina Silva, Fernando Henrique escancarou o seu governo para Lula, na mais civilizada transição pós-redemocratização, mas a primeira coisa que Lula fez ao assumir foi escrachar a “herança maldita”. Colou, apesar do Plano Real, da blindagem do sistema financeiro, das agências reguladoras e dos planos sociais, como o Bolsa Família. Tudo que Lula “vende” cola.
E, aí, temos Lula campeão de votos, mesmo preso, mas Jair Bolsonaro não é bobo. Político medíocre, do “baixo clero” da Câmara, ele foi esperto e viu antes o poder multiplicador da internet. Enquanto os adversários trabalhavam ou se viam às voltas com a Justiça, como Lula, ele amealhava multidões na nuvem e mergulhava nelas viajando pelo País afora.
O resultado é que ninguém dava bola para Bolsonaro e ele hoje não é apenas o número um no cenário sem Lula como tem 5,5 milhões de seguidores só no Facebook. Lula, que lá atrás, há muitos anos, foi o primeiro a usar as redes para reagir a notícias negativas e detratar críticos e jornalistas, tem 3,7 milhões. Geraldo Alckmin, na lanterna, 913 mil. Perdeu essa guerra. Por teimosia e por uma visão antiquada das campanhas – ou do mundo? –, o candidato tucano dava de ombros para esse negócio de Facebook, Twitter, WhatsApp... “Quem ganha eleição é a televisão”, dizia. Além da rima pobre, há controvérsias...
Alckmin tem 5 minutos e 434 inserções de TV para usar como palanque: falar o que bem entende, sem ser contestado. Bolsonaro tem 8 segundos e onze inserções. O que dizer em 8 segundos? “Meu nome é Jair”? Ele deveria controlar o pavor de controvérsia e ir a debates e entrevistas, inclusive à do Estadão-Faap, nesta semana, para não sumir. Marina vai muito bem nessa fase e é a segunda colocada no cenário sem Lula. O risco é perder fôlego na fase decisiva, como em 2014, mesmo sem o PT jogando sujo com a versão de que ela “tiraria a comida do prato do povo”.
E Ciro, depois de jogado fora pelo PT e recusado pelo DEM, não se destaca nem na mídia, nem nas redes, nem na propaganda gratuita: tem 38 segundinhos e 51 inserções. Talvez por isso, ele está mais leve, mais simpático. O pânico de vencer passou? Como me disse a psicanalista Marta Suplicy: “Ciro, claramente, não quer ganhar”.
Assim, Lula, Bolsonaro e Alckmin têm artilharia, mas Lula tem mais. Abusa de ações, questionamentos e habeas corpus para efeito jornalístico e vai bem nas searas de Bolsonaro e Alckmin. Líder no uso da mídia, é o segundo na internet (3,7 milhões no Facebook) e na TV (2 minutos e 189 inserções). Tudo somado, Fernando Haddad já entra na guerra armado até os dentes. Nem pode reclamar da real “herança maldita”.
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