Por Eliane Cantanhêde- Estadão
Às vésperas do Natal e da posse de Jair Bolsonaro na Presidência, as bruxas estão soltas em Brasília, com decisões contundentes, ou chocantes, para todo lado. A reverência do ministro Marco Aurélio Mello ao ex-presidente Lula, o pendor corporativista do ministro Ricardo Lewandowski, o deputado Rodrigo Maia esquecendo que é economista...
E mais: a PGR na cola do presidente Michel Temer nos estertores do mandato, a PF revirando imóveis de Aécio Neves, as revelações sobre Gilberto Kassab ameaçando sua posse na Casa Civil de Doria e a condenação de Ricardo Salles por improbidade administrativa pairando sobre sua vaga no Meio Ambiente de Bolsonaro.
E o motorista milionário do gabinete do senador eleito Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio? Esse fantasma incomoda o clã Bolsonaro e pode incorporar hoje, quando Fabrício Queiroz finalmente deve depor ao Ministério Público sobre suas movimentações bancárias “atípicas”.
Fabrício deporia na quarta-feira passada, mas seus advogados alegaram que ele não passava bem e que eles próprios não tinham tido tempo suficiente para se inteirar de todos os detalhes do processo. Todo mundo estava voltado para o solta-não-solta o ex-presidente Lula e daria pouca atenção ao funcionário. Hoje, a história é outra. Sem assunto, o grande assunto será ele.
A dedução geral, certa ou errada, é que Fabrício Queiroz não apareceu na quarta-feira por um motivo bem mais explosivo: a falta de explicações. Por que, com um salário de pouco mais de R$ 8 mil, ele movimentou R$ 1,2 milhão num ano? Os valores entravam e saíam de sua conta em dinheiro vivo? Os depositantes eram os outros funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro? E o cheque para Michelle Bolsonaro?
Flávio diz que não tem nada a ver com isso, mas qualquer deslize ou incongruência no depoimento de Fabrício, hoje, vai cair naturalmente nas costas de Flávio. Tudo acontecia no seu gabinete, envolvendo seus funcionários, tendo como pivô um motorista que era amigo dos Bolsonaro e que empregava ali a própria família. E, afinal, o gabinete não era do motorista, era do deputado Flávio.
Para tensionar ainda mais o ambiente, o ministro Marco Aurélio concedeu liminar para soltar os condenados só em segunda instância no exato dia em que Bolsonaro fazia a primeira reunião com o vice, Hamilton Mourão, e seus 22 ministros. A liminar parecia encomendada para Lula, ficou pairando sobre a reunião na Granja do Torto, mais do que as preocupações com Saúde e Educação, por exemplo.
Mello, que virou ministro pelas mãos do seu primo Fernando Collor, parece ter um fetiche político por Lula, o adversário de Collor em 1989, ícone das esquerdas. O ministro, porém, jura que sua liminar não foi para Lula: “Nem olho a capa dos processos, só o conteúdo. E nem sei qual a situação do ex-presidente hoje”. A percepção generalizada em Brasília é outra.
O fato é que, ao agir como o desembargador Rogério Favreto, que decidiu soltar Lula durante um plantão do TRF-4, Mello faz o ano terminar com o STF divididíssimo no plenário e no foco da irritação popular. Além disso, Lewandowski obrigou o governo a antecipar o reajuste do funcionalismo, uma bagatela de R$ 4 bilhões, e o saco de bondades não foi exclusividade dele. No exercício da Presidência, Rodrigo Maia dispensou os municípios de cumprirem a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Para completar, as posses de Kassab, em São Paulo, e de Salles, em Brasília, viraram dúvidas, apesar de o caso de Kassab ser tão assustador quanto o de Aécio, mas o de Salles não envolver corrupção, só administração. E a PGR acabou com a alegria de Temer ao apresentar a terceira denúncia contra ele. Temer sai da Presidência, mas os processos não saem dele.
Às vésperas do Natal e da posse de Jair Bolsonaro na Presidência, as bruxas estão soltas em Brasília, com decisões contundentes, ou chocantes, para todo lado. A reverência do ministro Marco Aurélio Mello ao ex-presidente Lula, o pendor corporativista do ministro Ricardo Lewandowski, o deputado Rodrigo Maia esquecendo que é economista...
E mais: a PGR na cola do presidente Michel Temer nos estertores do mandato, a PF revirando imóveis de Aécio Neves, as revelações sobre Gilberto Kassab ameaçando sua posse na Casa Civil de Doria e a condenação de Ricardo Salles por improbidade administrativa pairando sobre sua vaga no Meio Ambiente de Bolsonaro.
E o motorista milionário do gabinete do senador eleito Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio? Esse fantasma incomoda o clã Bolsonaro e pode incorporar hoje, quando Fabrício Queiroz finalmente deve depor ao Ministério Público sobre suas movimentações bancárias “atípicas”.
Fabrício deporia na quarta-feira passada, mas seus advogados alegaram que ele não passava bem e que eles próprios não tinham tido tempo suficiente para se inteirar de todos os detalhes do processo. Todo mundo estava voltado para o solta-não-solta o ex-presidente Lula e daria pouca atenção ao funcionário. Hoje, a história é outra. Sem assunto, o grande assunto será ele.
A dedução geral, certa ou errada, é que Fabrício Queiroz não apareceu na quarta-feira por um motivo bem mais explosivo: a falta de explicações. Por que, com um salário de pouco mais de R$ 8 mil, ele movimentou R$ 1,2 milhão num ano? Os valores entravam e saíam de sua conta em dinheiro vivo? Os depositantes eram os outros funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro? E o cheque para Michelle Bolsonaro?
Flávio diz que não tem nada a ver com isso, mas qualquer deslize ou incongruência no depoimento de Fabrício, hoje, vai cair naturalmente nas costas de Flávio. Tudo acontecia no seu gabinete, envolvendo seus funcionários, tendo como pivô um motorista que era amigo dos Bolsonaro e que empregava ali a própria família. E, afinal, o gabinete não era do motorista, era do deputado Flávio.
Para tensionar ainda mais o ambiente, o ministro Marco Aurélio concedeu liminar para soltar os condenados só em segunda instância no exato dia em que Bolsonaro fazia a primeira reunião com o vice, Hamilton Mourão, e seus 22 ministros. A liminar parecia encomendada para Lula, ficou pairando sobre a reunião na Granja do Torto, mais do que as preocupações com Saúde e Educação, por exemplo.
Mello, que virou ministro pelas mãos do seu primo Fernando Collor, parece ter um fetiche político por Lula, o adversário de Collor em 1989, ícone das esquerdas. O ministro, porém, jura que sua liminar não foi para Lula: “Nem olho a capa dos processos, só o conteúdo. E nem sei qual a situação do ex-presidente hoje”. A percepção generalizada em Brasília é outra.
O fato é que, ao agir como o desembargador Rogério Favreto, que decidiu soltar Lula durante um plantão do TRF-4, Mello faz o ano terminar com o STF divididíssimo no plenário e no foco da irritação popular. Além disso, Lewandowski obrigou o governo a antecipar o reajuste do funcionalismo, uma bagatela de R$ 4 bilhões, e o saco de bondades não foi exclusividade dele. No exercício da Presidência, Rodrigo Maia dispensou os municípios de cumprirem a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Para completar, as posses de Kassab, em São Paulo, e de Salles, em Brasília, viraram dúvidas, apesar de o caso de Kassab ser tão assustador quanto o de Aécio, mas o de Salles não envolver corrupção, só administração. E a PGR acabou com a alegria de Temer ao apresentar a terceira denúncia contra ele. Temer sai da Presidência, mas os processos não saem dele.
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