*** RECANTO DE POETAS E ESCRITORES ***
O SONHO DE DOIS AMIGOS (Capitulo I)
Autor: José Wilson Malheiros
Fatos verídicos serão aqui narrados. Ouvi da minha mãe desde a minha infância e estão guardados na minha memória. O que vão ler aqui, portanto, são lembranças de histórias maternas.Tenho que começar por um dos protagonistas desta estória: meu avô materno Vicente Malheiros. Caboclo do Aritapera, chegou a Santarém quase um menino, decidido a vencer na vida. Começou como Caixeiro (hoje se chama Balconista) em estabelecimento de portugueses. Ele dizia que levantava ainda de madrugada, pegava cascudos dos patrões rígidos e se alimentava apenas de bananas, para guardar dinheiro, pois já sonhava em ser comerciante. Durante anos foi se alimentando com frugalidade, vestindo-se com extrema modéstia, calçando tamancos, até conseguir um pequeno capital, com o qual montou seu primeiro comércio chamado A Porta Larga, venda de frutas e verduras. Por esse tempo, conheceu e começou a namorar com a minha avó materna Eula Hennington, descendente de Richard Hennington, Pastor Metodista norte-americano, do grupo de Confederados que vieram se estabelecer em Santarém. O pai avisou logo: pode namorar minha filha, mas, só vai casar quando comprovar que tem condições. Jacó teve que esperar sete anos para ficar com Raquel (Genesis 29,11...)
Meu avô esperou pacientemente seis anos, namorando. Ela na janela e ele na calçada. E a Porta Larga prosperou, graças à pertinácia e ao tino empresarial do jovem. Cresceu e tornou-se um estabelecimento que vendia de tudo, não mais apenas frutas e verduras. Ali encontravam arroz, feijão, charque, farinha etc. Sentiu, então, que já estava na hora de casar com a filha do americano. E assim foi feito. Tiveram seis filhos. ⁸A vida sorria para o aritaperense, mas o destino ainda tinha mais presentes para ele. Certa vez, passou por Santarém um transatlântico alemão. A bordo, um jovem chamado Albert Meschede. O destino (nada acontece por acaso) fez com que os dois se encontrassem no trapiche da cidade. Malheiros não falava alemão. Meschede não conhecia nossa língua.
Ninguém sabe como se entenderam. Surgia ali uma grande amizade, uma parceria de muita lealdade, em benefício de ambos.
Desde o primeiro encontro a empatia foi tanta, que o alemão começou a planejar que iria ficar em Santarém.
O SONHO DE DOIS AMIGOS (Capítulo II)
José Wilson Malheiros
Enfatizo que na década de 1930, obviamente, os tempos eram outros, os costumes eram diferentes, o mundo possuía outra ética e ótica diversa a respeito dos animais silvestres e ainda não havia IBAMA ou similar.
Pelos olhos de hoje, com certeza seria um absurdo.
Malheiros e Meschede combinaram o seguinte.
O alemão viajava para a Europa e aqui deixava uma boa quantia em marcos (a moeda alemã era a mais forte, na época).
Existia um pacto de absoluta lealdade e confiança entre eles.
O aritaperense, então, comprava e armazenava no quintal de sua casa, cobras, onças, tatus, araras, macacos, enfim, uma diversidade de animais exóticos da Amazônia.
Na volta do transatlântico, o alemão levava os animais, devidamente despachados, e os vendia a preço de ouro para os zoológicos europeus.
Novamente de regresso, na base da confiança recíproca, os lucros eram repartidos, na moeda mais forte do mundo, na época.
Foram diversas viagens, o suficiente para os amigos ganharem uma fortuna.
Já imaginaram o sucesso que faziam na Europa as nossas cobras, onças, macacos etc?
Deviam ter o mesmo impacto de um extraterrestre chegando à Terra.
Minha mãe contava que durante algum tempo ficou acostumada em ver no quintal da casa, um verdadeiro museu amazônico.
Já imaginaram uma onça urrando na escuridão da noite, já que na época a cidade não tinha luz elétrica?
Já pensaram numa sucuriju imensa, assistindo você enquanto tomava banho?
É que as jaulas eram precárias e feitas de madeira.
Pois é. Na casa do meu avô foi assim.
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