O auditório da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) ficou lotado ontem à tarde durante reunião que discutiu os impactos sociais que serão sentidos pelos moradores da área e do entorno onde se pretende construir a usina hidrelétrica de Belo Monte.
Membros da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal participaram do encontro, que contou também com a presença de representantes de instituições políticas, educacionais, ambientais, econômicas e tantas outras. O entendimento durante o debate era quase que uníssono em todos os discursos: Belo Monte é uma tragédia anunciada e sem volta para a região.
O procurador da República, Felício Pontes, explicou aos presentes que todas as dez ações que o MP tem contra a realização de Belo Monte se apóiam em irregularidades e situações de desrespeito aos direitos humanos encontrados no projeto. "Não adianta dizer que só a área é afetada, o entorno também é. Altamira vai para o fundo, mas não se sabe dizer o quão fundo ela vai. 273 espécies de peixe desaparecerão e o governo federal diz que as comunidades indígenas e ribeirinhas não serão afetados pela hidrelétrica. Me desculpem a franqueza, mas não é sério um governo que diz isso", disparou. O bispo do Xingu, dom Erwin Kräutler, também presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), abriu sua fala dizendo que Belo Monte é um projeto constituído de mentiras. "Me deu vergonha ver nosso ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, falando em entrevistas recentes, que Brasil é exemplo porque trata seus indígenas muito bem. Outra grande mentira. Nunca houve oitiva e as comunidades foram meramente informadas do que iria acontecer, sem que a elas fosse dada uma oportunidade de se manifestar", queixou-se. Obras em usina hidrelétrica não irão parar, garante ministro O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) afirmou ontem que as obras de construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA), não vão parar. A declaração foi dada logo após um encontro entre a presidente Dilma Rousseff e o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens). No evento, o movimento pediu a paralisação de Belo Monte. Na última sexta-feira, a OEA (Organização dos Estados Americanos) pediu que o governo brasileiro suspenda o licenciamento e a construção da hidrelétrica de Belo Monte. O pedido irritou a diplomacia brasileira. Em nota divulgada no dia 5, o Ministério das Relações Exteriores chamou hoje as declarações da entidade de "precipitadas e injustificáveis". O pedido foi feito na sexta-feira passada pela CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), órgão da OEA. O Brasil tem até o dia 15 para respondê-la. "Belo Monte é um ponto que não dá para avançar porque não vamos deixar de fazer. Agora dá para fazer de forma mais humana, mais respeitadora, levando em conta os direitos das comunidades atingidas", afirmou Carvalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário