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sábado, 4 de junho de 2011

O kit anti-corrupção

Um brasileirinho com fome, em 2011, primeiro ano da segunda década do século XXI

Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa:

O mais necessário deles, nunca foi mencionado. Para a quase totalidade da população brasileira, seria o único kit a resolver nossos problemas. Certamente prejudicaria a ínfima parcela que impede sua confecção, mas isso não nos impede de perguntar: cadê o kit anti-corrupção?

Deveria ser confeccionado urgentemente, em vários tipos, para ser distribuído nas creches, jardins, escolas, colégios, universidades e repartições públicas.

Para começar, deveríamos trocar o nome do estojo de material de ensino: kit, se me permitem a sinceridade, é a mãe. O português, língua falada por mais de 240 milhões de pessoas em todo o mundo, com cerca de 228 500 entradas, 376 500 acepções, 415 500 sinônimos, 26 400 antônimos e 57 000 palavras arcaicas, é lexicamente muito rico e não precisa dessas três letrinhas estrangeiras para nominar um estojo (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).

O material traria explicações sobre os males da corrupção. Naturalmente, tudo de acordo com a idade do usuário. Fichas com o verbete corrupção e seus significados, para que a palavra não fosse usada assim à toa, sem que seu

sentido ficasse bem claro na mente de quem fala ou ouve.

Deveria deixar bem claro que corruptor e corrupto são farinha do mesmo saco. O que os distingue é a posição que ocupam, que é intercambiável: um vende, outro compra; um suborna, outro se deixa subornar; um estraga, outro se deixa estragar; um contamina quem toca, outro se deixa contaminar.

Muitas vezes as palavras, de tão usadas, perdem seu impacto e acabam sendo empregadas de modo ligeiro, sem que seu real sentido penetre em nossa mente: um corrupto é um corrompido que corrompe outra pessoa que se deixa corromper e, portanto, passa a ser corrompida ela também.

O estojo se destinaria a interromper esse toma lá dá cá e faria com que as crianças crescessem com um solene preconceito contra corruptos, de qualquer tipo e feitio.

E antes que a palavra preconceito cause chiliques em quem a usa sem nem sequer se dar ao trabalho de apreender seu significado, esclareço que ter preconceito contra corruptos e corruptores é sinal de sanidade mental e mais, de entranhado amor à Pátria.

Devemos, sim, ter preconceito contra o espetáculo da miséria feia, suja, monstruosa, que debilita crianças em formação e nos torna uma nação doente; contra o analfabetismo, terreno fértil que nem precisa de adubo para que ali brote o espetáculo da sordidez mais vil: o excesso indecente para a minoria e a escassez quase absoluta para grande parte da maioria.

O todo filho dileto da corrupção.

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