Os doze médicos traumatologistas e ortopedistas que atuam em cinco hospitais particulares conveniados ao Sistema Único de Saúde e que haviam decidido se descredenciar do Sistema voltaram atrás da decisão ontem, após fechar acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) e a Secretaria Estadual de Saúde (Sespa). Eles aceitaram a proposta de aumento de 200% no valor que recebem do SUS para a realização de cirurgia, apesar de, inicialmente, estarem pedindo 350% de aumento para cirurgias de baixa e média complexidades e 500% para as de alta complexidade. O Estado vai arcar com 125% e o Município com 75% do reajuste. 'Isso tudo para a gente resolver o problema, porque tem mais de 80 crianças aguardando cirurgia. Em janeiro a gente senta de novo e vamos tornar a ver isso aí, porque realmente os valores estavam defasados', declarou o titular da Sespa, Hélio Franco.
De acordo ele, os médicos se comprometeram a voltar ontem mesmo ao trabalho. 'Ao mesmo tempo nós conseguimos também fazer um convênio com Marituba, para que o Divina Providência faça atendimento em traumato-ortopedia', informou o secretário.
Os traumatologistas estiveram reunidos, na manhã de ontem, com Hélio Franco e a titular da Sesma, Sylvia Santos, para discutir o assunto. 'A gente trabalha muito, ganha pouco e ainda é tratado como bandido', reclamou o médico João Alberto Maradei, sobre a declaração do promotor militar Armando Brasil, que afirmou que os médicos que se recusassem a prestar atendimento seriam presos. Além dos baixos valores pagos pelo atendimento, os profissionais reclamam também no atraso do pagamento do salário.
Na reunião, os médicos apresentaram uma tabela com os valores que recebem do SUS. Eles ganham, por exemplo, R$ 29,92 por uma cirurgia de fratura da clavícula, que está entre os procedimentos mais frequentes realizados em Belém, de janeiro a maio. 'E vale ressaltar que quase todo paciente de traumatologia a gente acompanha por meses, até ano. A gente fala em 350% e parece exploração, mas é dentro de um valor irrisório', declarou Márcia Maradei.
O prefeito de Belém, Duciomar Costa, anunciou na tarde de ontem o fim da paralisação das cirurgias de ortopedia e traumatologia nas redes privadas conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) em Belém. O Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa) reconhece que o reajuste de 200% concedido aos médicos especialistas pode provocar o engajamento de outros profissionais da Medicina na busca de melhores remunerações pela prestação de serviços.
De acordo com informações publicadas no portal do Fundo Nacional de Saúde (www.fns.saude.gov.br), o Fundo Municipal de Saúde de Belém recebeu em recursos para o atendimento do bloco de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar 17.091.982,42 milhões de reais somente no mês de julho.
Desde o início do ano, foram repassados do FNS ao município a quantia de 122.892.797,80 milhões.
Mesmo com a verba da federação disponível, o prefeito garantiu que não será possível estender o benefício, concedido em comum acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), para outras especialidades. 'Os valores estão realmente defasados e o reajuste foi uma maneira de reconhecer esta reivindicação e impedir que a população fosse prejudicada', ele disse. 'Mas fazemos um apelo à classe médica de Belém para que entenda que o problema deve ser resolvido pelo Ministério da Saúde. O que nós vamos fazer em nível local é complementar este pagamento. Por uma questão orçamentária, não podemos tornar uma regra para todos os profissionais de saúde', reforçou Duciomar Costa.
A secretária Sylvia Santos, que estava presente na entrevista com a imprensa no Palácio Antônio Lemos, afirma que por conta da carência médicos especialistas - cerca de 140 em todo o Pará - não seria possível contratar novos profissionais caso as negociações não tivessem sido bem-sucedidas. A paralisação dos traumatologistas durou pouco menos de uma semana, mas foi o tempo suficiente para contribuir com a superlotação Pronto-Socorro Municipal (PSM) da travessa 14 de Março e do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência do Estado (HMUE). 'O diálogo foi a melhor forma de resolver o problema. Se eles não aceitassem nossa proposta, seria muito difícil contratar novos médicos', destaca a secretária.
O Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa) considerou a concessão um avanço para a categoria. 'A defasagem da tabela do SUS é uma realidade nacional e que gera insatisfação em toda a classe médica. A demora do poder público em tomar providências faz com que atos extremos, como a paralisação dos serviços, passem a ocorrer com maior frequência', avaliou Wilson Machado. (No Amazônia)
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