A obra, por outro lado, chegou a 50% dos 978 km prometidos entre Santarém (PA) e Guarantã do Norte (MT). Os dados são de análise do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) com base em informações do governo.
Segundo a análise, o ponto mais crítico é o de ordenamento fundiário (legalização de terras e realização de assentamentos rurais): 75% das ações não foram feitas e 13% estão em execução. Em relação ao uso sustentável, 40% dos projetos não saíram do papel.
Os dados estatísticos, porém, não traduzem a situação que movimentos sociais, indígenas, extrativistas e trabalhadores rurais, que ajudaram a elaborar o plano, vivem na prática.
Há oito anos, quando o governo federal anunciou a retomada de obras na rodovia, que estava asfaltada só em Mato Grosso, o temor do aumento de desmate levou à elaboração do plano. Foram reunidos 17 ministérios e inúmeras organizações que vivem no local. Essas entidades que alertam para os problemas.
Reunidas no navio Rainbow Warrior, do Greenpeace, em Santarém, na quarta-feira, cerca de 60 pessoas avaliaram o relatório do GTA e elaboraram uma carta que será enviada à Casa Civil. O grupo avaliou a qualidade das ações consideradas executadas e disseram que, na prática, a pressão sobre a mata continua. Nesses seis anos, o desmate no local aumentou cerca de 6 mil km².
Eles afirmam, por exemplo, que as reservas extrativistas (Resex) Verde Para Sempre, Renascer e Tapajós-Arapiuns enfrentam a invasão de madeireiros e fazendeiros. De acordo com Rosa Maria Moraes Viegas, que trabalha na Diocese de Santarém na Renascer, moradores estão vendendo suas terras. "Tem muita gente sendo convencida pelo pessoal que está comprando as terras de que eles não poderão mais tirar seu sustento da floresta. No lugar entram os bois. E o Estado não está presente", diz.
Sobrevoo. De acordo com Rubens Gomes, diretor do GTA, os movimentos devem apresentar as metas que consideram mais urgentes em uma reunião com 11 ministros para tentar apressar a retomada das ações. Ele alerta também para o roubo de madeira nas unidades de conservação. "Temos notícia que o montante retirado da Floresta Nacional de Trairão chega a 100 m³/ano. Não é pequena operação."
Após a reunião, a reportagem realizou um sobrevoo em um avião do Greenpeace na região da BR-163 entre Santarém e Moraes de Almeida, ao sul no Pará, para visualizar o problema.
É possível ver no entorno de Santarém plantações de soja que ilham a floresta, tapetes verdes com isoladas castanheiras, que não podem ser derrubadas, mas que não vão sobreviver sem a mata. Logo depois, aparece o maciço preservado da Floresta de Tapajós e outras unidades de conservação. Mas estradas de terra denunciam a extração ilegal de madeira, e pastos degradados pressionam a vegetação natural.
O local mais crítico é a Floresta Nacional de Trairão, onde pátios com várias árvores derrubadas mostram que a atividade madeireira é permanente ali. Em Moraes de Almeida, do alto, tudo o que vemos são madeireiras.
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