A
morte de Kelvys Simão dos Santos, de 2 anos, comoveu o distrito de
Cotijuba na tarde de ontem. A versão sustentada pela família e pela
vizinhança é que o menino teria sido velado vivo e em seguida faleceu de
fato. A confirmação do óbito da criança, por insuficiência
respiratória, ocorreu no hospital estadual Abelardo Santos, na última
sexta-feira. Mas durante o velório, no sábado, ele teria levantado e
pedido um copo d’água. Instantes depois, sua pulsação parou de vez.
Os
pais de Kelvys registraram na terça-feira Boletim de Ocorrência (BO)
contra o hospital na delegacia de Outeiro, que está investigando se a
criança foi vítima de um erro médico. O documento registrado na Polícia
Civil (PC) é o primeiro passo para pedir a exumação do cadáver. A
perícia vai atestar qual foi o verdadeiro horário da morte do menino.
Ele estava com pneumonia.
De
acordo com o pai de Kelvys, Antônio Carlos Freitas dos Santos, 38, após
informar a morte, um representante do hospital ofereceu um caixão para o
enterro do corpo, que foi liberado por volta de 23h. 'O caixão ficou
fechado por pelo menos três horas. Quando abrimos para começar o
velório, percebemos que o corpo não estava rígido, nem com os lábios
roxos. Tiramos os algodões do nariz e da garganta', ele relatou. 'Por
volta de duas horas da tarde, meu filho começou a se mexer, levantou e
pediu água. O sentamos em uma cadeira. Quando chegamos ao posto de saúde
para que ele fosse atendido, já estava morto', contou, com tristeza.
Na
avaliação do pai, a medicação dada ao filho por conta de uma parada
cardiorrespiratória fez com que ele entrasse em coma. Conforme as
informações da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), o paciente foi
levado para a sala de graves às 19h30 e o óbito foi constatado às 19h40.
'Foi um espaço de tempo muito rápido. Se ele tinha sido medicado, era
necessário esperar as drogas fazerem efeito no organismo dele. Isso
começou a acontecer no velório. Mas ele ficou tempo demais sem poder
respirar por ter passado horas dentro do caixão e ainda por conta dos
algodões no nariz', lamentou Antônio.
A
Sespa comunicou ainda por meio de sua assessoria de imprensa que a
causa da morte da criança foi por insuficiência respiratória,
broncopneumonia e desidratação. Entretanto, no documento entregue à
família, assinado pela assistente social Edna Maria da Silva, consta
apenas a primeira causa.
A
mãe do menino, Thelma Simão Costa, 31, estava presente quando o filho
acordou. 'Foi a maior alegria. Pensamos ter sido um milagre de Deus. Nem
pensamos na possibilidade de registrar o momento, porque ninguém
pensava mais que ele viria a falecer. Vamos pedir a exumação do cadáver
para esclarecer a história. Temos várias testemunhas oculares', afirmou.
Kelvys foi enterrado por volta das 17 horas de sábado, momentos depois
de ter a morte confirmada pelo médico da unidade de saúde do distrito.
Protesto em frente a hospital pedia esclarecimento do óbito
As
pessoas presentes no velório do garoto e a vizinhança foram unânimes -
todos viram a criança sair do caixão com as próprias pernas. A amiga da
família, Maria Raimunda dos Santos, 42, foi uma delas. 'Quem chegava ao
velório estranhava o aspecto saudável da criança. Ela se mexia às vezes,
a pulsação estava bem fraca e até que acordou. Para nós foi um susto
muito grande. Muitos começaram a rezar. A avó dele até desmaiou quando
viu o neto levantar', ela disse.
A
avó, Maria das Graças Simão, 52, contou a sua versão. 'Mesmo sem
parecer um cadáver, não esperávamos que ele estivesse vivo. Pensei que
fosse uma coisa sobrenatural. Quando me recuperei, me falaram que ele
tinha mesmo morrido. Foi muito triste. Agora nos resta ir atrás da
Justiça. Nós também erramos, pois deveríamos ter levado o corpo
imediatamente ao IML. O Kelvys estava doente, mas não estava em estado
terminal. Na quinta-feira ele estava brincando com as outras crianças da
rua', declarou a agricultora.
Revoltada
com o possível descaso da equipe médica do hospital, a população do
distrito se reuniu na frente do Abelardo Santos para protestar durante a
manhã de ontem. Com faixas, pediram que a morte do garoto fosse
esclarecida. A empregada doméstica Monique Duarte, 45, vizinha, se
arrumava para ir ao velório quando escutou a gritaria na casa em frente.
'Eu vi o menino sair daqui. Ele estava acordado, no colo dos pais. Foi
um tumulto, todo mundo queria ajudar para que eles conseguissem chegar
ao posto médico', disse. A população de Cotijuba se solidarizou com o
caso e se agora se mobiliza para arrecadar fundos, para a família que
ainda tem duas meninas, se manter. 'Eles, que estão desempregados, vão
ter gastos maiores. Vão precisar de advogado e precisar ir até Belém',
argumentou Monique.
Sespa garante que garoto estava morto
A
Sespa garante que a criança estava mesmo morta no hospital. Informa que
Kelvys foi internado às 15h34. O menino foi examinado pela médica de
plantão, que constatou desidratação e pneumonia, solicitando exames de
laboratório e raios-X.
Às
19h30, a plantonista da noite foi chamada para atender à criança com
parada cardiorrespiratória. O paciente foi levado à sala de graves, onde
passou por procedimentos de reanimação, sem ter respondido aos
estímulos.
O
pai foi acolhido pelo Serviço Social do HRAS. Na oportunidade, ele
informou que não tinha condições de arcar com o funeral, por isso foi
acionado o auxílio funeral da Fundação Papa João XXIII (Funpapa). O
corpo foi liberado às 23h08.
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