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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Criança acorda no velório


A morte de Kelvys Simão dos Santos, de 2 anos, comoveu o distrito de Cotijuba na tarde de ontem. A versão sustentada pela família e pela vizinhança é que o menino teria sido velado vivo e em seguida faleceu de fato. A confirmação do óbito da criança, por insuficiência respiratória, ocorreu no hospital estadual Abelardo Santos, na última sexta-feira. Mas durante o velório, no sábado, ele teria levantado e pedido um copo d’água. Instantes depois, sua pulsação parou de vez. 

Os pais de Kelvys registraram na terça-feira Boletim de Ocorrência (BO) contra o hospital na delegacia de Outeiro, que está investigando se a criança foi vítima de um erro médico. O documento registrado na Polícia Civil (PC) é o primeiro passo para pedir a exumação do cadáver. A perícia vai atestar qual foi o verdadeiro horário da morte do menino. Ele estava com pneumonia. 

De acordo com o pai de Kelvys, Antônio Carlos Freitas dos Santos, 38, após informar a morte, um representante do hospital ofereceu um caixão para o enterro do corpo, que foi liberado por volta de 23h. 'O caixão ficou fechado por pelo menos três horas. Quando abrimos para começar o velório, percebemos que o corpo não estava rígido, nem com os lábios roxos. Tiramos os algodões do nariz e da garganta', ele relatou. 'Por volta de duas horas da tarde, meu filho começou a se mexer, levantou e pediu água. O sentamos em uma cadeira. Quando chegamos ao posto de saúde para que ele fosse atendido, já estava morto', contou, com tristeza. 

Na avaliação do pai, a medicação dada ao filho por conta de uma parada cardiorrespiratória fez com que ele entrasse em coma. Conforme as informações da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), o paciente foi levado para a sala de graves às 19h30 e o óbito foi constatado às 19h40. 'Foi um espaço de tempo muito rápido. Se ele tinha sido medicado, era necessário esperar as drogas fazerem efeito no organismo dele. Isso começou a acontecer no velório. Mas ele ficou tempo demais sem poder respirar por ter passado horas dentro do caixão e ainda por conta dos algodões no nariz', lamentou Antônio. 

A Sespa comunicou ainda por meio de sua assessoria de imprensa que a causa da morte da criança foi por insuficiência respiratória, broncopneumonia e desidratação. Entretanto, no documento entregue à família, assinado pela assistente social Edna Maria da Silva, consta apenas a primeira causa. 

A mãe do menino, Thelma Simão Costa, 31, estava presente quando o filho acordou. 'Foi a maior alegria. Pensamos ter sido um milagre de Deus. Nem pensamos na possibilidade de registrar o momento, porque ninguém pensava mais que ele viria a falecer. Vamos pedir a exumação do cadáver para esclarecer a história. Temos várias testemunhas oculares', afirmou. Kelvys foi enterrado por volta das 17 horas de sábado, momentos depois de ter a morte confirmada pelo médico da unidade de saúde do distrito. 

Protesto em frente a hospital pedia esclarecimento do óbito
As pessoas presentes no velório do garoto e a vizinhança foram unânimes - todos viram a criança sair do caixão com as próprias pernas. A amiga da família, Maria Raimunda dos Santos, 42, foi uma delas. 'Quem chegava ao velório estranhava o aspecto saudável da criança. Ela se mexia às vezes, a pulsação estava bem fraca e até que acordou. Para nós foi um susto muito grande. Muitos começaram a rezar. A avó dele até desmaiou quando viu o neto levantar', ela disse. 

A avó, Maria das Graças Simão, 52, contou a sua versão. 'Mesmo sem parecer um cadáver, não esperávamos que ele estivesse vivo. Pensei que fosse uma coisa sobrenatural. Quando me recuperei, me falaram que ele tinha mesmo morrido. Foi muito triste. Agora nos resta ir atrás da Justiça. Nós também erramos, pois deveríamos ter levado o corpo imediatamente ao IML. O Kelvys estava doente, mas não estava em estado terminal. Na quinta-feira ele estava brincando com as outras crianças da rua', declarou a agricultora. 

Revoltada com o possível descaso da equipe médica do hospital, a população do distrito se reuniu na frente do Abelardo Santos para protestar durante a manhã de ontem. Com faixas, pediram que a morte do garoto fosse esclarecida. A empregada doméstica Monique Duarte, 45, vizinha, se arrumava para ir ao velório quando escutou a gritaria na casa em frente. 'Eu vi o menino sair daqui. Ele estava acordado, no colo dos pais. Foi um tumulto, todo mundo queria ajudar para que eles conseguissem chegar ao posto médico', disse. A população de Cotijuba se solidarizou com o caso e se agora se mobiliza para arrecadar fundos, para a família que ainda tem duas meninas, se manter. 'Eles, que estão desempregados, vão ter gastos maiores. Vão precisar de advogado e precisar ir até Belém', argumentou Monique. 

Sespa garante que garoto estava morto
A Sespa garante que a criança estava mesmo morta no hospital. Informa que Kelvys foi internado às 15h34. O menino foi examinado pela médica de plantão, que constatou desidratação e pneumonia, solicitando exames de laboratório e raios-X. 

Às 19h30, a plantonista da noite foi chamada para atender à criança com parada cardiorrespiratória. O paciente foi levado à sala de graves, onde passou por procedimentos de reanimação, sem ter respondido aos estímulos.

O pai foi acolhido pelo Serviço Social do HRAS. Na oportunidade, ele informou que não tinha condições de arcar com o funeral, por isso foi acionado o auxílio funeral da Fundação Papa João XXIII (Funpapa). O corpo foi liberado às 23h08. 

A direção do hospital disse ao pai da criança que também tem interesse em esclarecer o episódio, o que só será possível se a família entrar com uma ação na Justiça, para que haja exumação do corpo do bebê. O órgão estadual de saúde pública não informou se vai abrir um processo interno para apurar as responsabilidades da equipe médica que atendia naquela noite de sexta-feira.  (Amazônia)

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