O conteúdo do depoimento foi tornado público nesta quinta (2). Condenado na Lava Jato, Cerveró está preso desde janeiro de 2015.
Segundo Cerveró, "não corresponde à realidade" a afirmação de Dilma de que aprovou a compra da refinaria, adquirida pela Petrobras em 2006, porque não tinha informações completas. Na época, Dilma era presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Cerveró disse que "houve certa pressa" na aprovação do projeto pelo conselho.
"Que o declarante conhece há muito tempo a presidente da República Dilma Rousseff [...] Que Dilma Rousseff tinha todas as informações sobre a refinaria de Pasadena; que o Conselho de Administração não aprova temas com base em resumo executivo; que o projeto foi aprovado na Diretoria Executiva da Petrobras numa quinta e na sexta o projeto foi aprovado no Conselho de Administração; que esse procedimento não era usual", disse.
"Que sempre que havia dúvidas sobre algum tema a ser analisado, o Conselho de Administração solicitava, esclarecimentos, que não foi solicitado nenhum tipo de esclarecimento quanto à aquisição da refinaria de Pasadena; que isso indica que não havia dúvida nenhuma quanto à aquisição da refinaria de Pasadena", diz.
E completou: "que não corresponde à realidade a afirmativa de Dilma Rousseff de que somente aprovou a aquisição porque não sabia dessas cláusulas; que o declarante não tem conhecimento de irregularidade na aprovação da aquisição da refinaria pelo Conselho de Administração da Petrobras".
Em depoimento para o juiz auxiliar do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato, Cerveró reforçou sua versão sobre Pasadena.
"Eu fui... No ano passado eu permaneci muito em evidência por conta da afirmativa da presidente Dilma que eu tinha feito a apresentação sobre uma refinaria que foi comprada nos Estados Unidos e que ela... –que a responsabilidade de aprovação é dela, é do Conselho– e que ela disse que só tinha aprovado porque não tinha as informações suficientes, o que não é verdade. Mas isso, eu estou só me permitindo um recuo", contou.
Intimidade - Cerveró afirmou que Dilma acompanhava, de "perto os assuntos referentes" à Petrobras, frequentando constantemente a empresa, e que "conhecia com detalhes os negócios" da estatal.
"Que o declarante supõe que Dilma Rousseff sabia que políticos do Partido dos Trabalhadores recebiam propina oriunda da Petrobras, que, no entanto, o declarante nunca tratou diretamente com Dilma, sobre o repasse de propina, seja para ela, seja para políticos, seja para o PT."
Meninos - Cerveró também afirmou aos investigadores que ouviu de seu advogado que Delcídio do Amaral teria lhe dito que Dilma agiria para tirá-lo da prisão assim como o ex-diretor da estatal Renato Duque, considerado operador do PT. Segundo Cerveró, Delcídio relatou que Dilma teria dito que "cuidaria dos meninos".
Histórico - Em 2006, a Petrobras comprou do grupo belga Astra metade da refinaria de Pasadena por US$ 360 milhões, aí incluídos estoques de petróleo. Os sócios brigaram por causa do custo da reforma que a Petrobras queria fazer na refinaria, que chegavam a US$ 2,5 bilhões, considerado alto pela Astra.
A Petrobras então enviou proposta de US$ 550 milhões pelo restante de Pasadena, mas a Astra queria US$ 1 bilhão. Os sócios acabaram fazendo um acordo de US$ 788 milhões. Mas sem aprovação do conselho da estatal brasileira, ele não foi fechado, o que levou a uma disputa judicial nos EUA.
No final, após uma batalha judicial encerrada em 2012, a Petrobras acabou pagando US$ 885 milhões pelo 50% da refinaria. No total, a estatal brasileira desembolsou US$ 1,25 bilhão por um negócio comprado pela Astra por apenas US$ 42,5 milhões em 2005. O ex-presidente da Estatal, José Sérgio Gabrielli, diz que a Astra fez investimentos de US$ 360 milhões na refinaria após a aquisição de 2005.
Em 2014, quando o TCU (Tribunal de Contas da União) apurava os prejuízos nessa aquisição, Dilma afirmou que o Conselho de Administração, que ela presidia, não teve conhecimento de todos os atos tomados pelos diretores e que algumas cláusulas do contrato não forma informadas aos conselheiros, responsabilizando os diretores pelo prejuízo.
Ao fim da apuração, o TCU considerou que as operações para adquirira Pasadena deram um prejuízo US$ 792 milhões à estatal e está exigindo a devolução desses recursos a 14 ex-diretores. No julgamento, os ministros entenderam que os conselheiros não poderiam ser apontados como responsáveis pelo dano, mas que isso poderia vir a ocorrer na fase atual do processo, onde cada diretor está se defendendo.
Cerveró vai deixar prisão e devolver R$ 18 milhões
Ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró terá que devolver aos cofres públicos cerca de R$ 18 milhões por sua participação no esquema de corrupção da Petrobras. Ele também deixará a prisão no próximo dia 24 de junho –sendo que está preso desde janeiro de 2015.
A devolução dos recursos foi acerta por Cerveró em seu acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República e que foi homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A verba inclui, por exemplo, 1 milhão de libras esterlinas mantido em bancos de Londres, R$ 9,7 milhões, além de US$ 495 mil em contas sob controle da offshore Russel em Nassau, Bahamas. Se não cumprir o acordo, poderá perder fazenda ou imóveis na zona sul do Rio.
Ficou definido ainda que Cerveró só poderá ser condenado a no máximo 25 anos. Ele cumprirá um ano, cinco meses e nove dias em regime fechado na carceragem da PF e continuará a cumprir pena em casa a partir de 24 de junho. O ex-diretor da Petrobras terá que usar tornozeleira eletrônica até dezembro de 2018. Ele ficará em Petrópolis (RJ).
A delação foi homologada no fim do ano passado pelo Supremo. Ele fechou o acordo depois que foi descoberta uma trama com a participação do ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) para evitar que Cerveró falasse. A PGR ofereceu denúncia ao STF acusando, além de Delcídio, o ex-presidente Lula, o banqueiro André Esteves, e o pecuarista José Carlos Bumlai, entre outros, por tentativa de obstrução à justiça. Todos negam ligação com a tentativa de compra do silêncio de Cerveró.
Em sua delação, Cerveró faz implicações a integrantes do PMDB, disse supor que a presidente afastada Dilma Rousseff tinha conhecimento de que políticos do PT recebiam propina da Petrobras
Ele afirmou ainda que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu-lhe um cargo público em 2008 como "reconhecimento" pela ajuda que ele prestou para quitar um empréstimo de R$ 12 milhões considerado fraudulento pela Operação Lava Jato.
Cerveró também atribuiu a Lula decisão de ter "concedido influência sobre a BR Distribuidora" ao senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL). Poder semelhante teria sido dado ao alagoano pela presidente Dilma Rousseff, conforme o delator alegou ter ouvido do senador.
Segundo Cerveró, por volta de setembro de 2013 ele foi chamado a Brasília para uma reunião com Collor na Casa da Dinda, residência do senador. Na ocasião, o senador disse ter falado com Dilma, "a qual teria dito que estavam à disposição de Fernando Collor a presidência e todas as diretorias da BR Distribuidora". Na delação, Cerveró contou ainda que chegou a perder parte de seu dinheiro no exterior em 2008. Segundo ele, parte da propina foi depositada num fundo do Madoff, tendo aplicado US$ 2 milhões. O ex-diretor disse ainda que "com a quebra desses fundos, perdeu cerca de US$ 700 mil dólares".
A devolução dos recursos foi acerta por Cerveró em seu acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República e que foi homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A verba inclui, por exemplo, 1 milhão de libras esterlinas mantido em bancos de Londres, R$ 9,7 milhões, além de US$ 495 mil em contas sob controle da offshore Russel em Nassau, Bahamas. Se não cumprir o acordo, poderá perder fazenda ou imóveis na zona sul do Rio.
Ficou definido ainda que Cerveró só poderá ser condenado a no máximo 25 anos. Ele cumprirá um ano, cinco meses e nove dias em regime fechado na carceragem da PF e continuará a cumprir pena em casa a partir de 24 de junho. O ex-diretor da Petrobras terá que usar tornozeleira eletrônica até dezembro de 2018. Ele ficará em Petrópolis (RJ).
A delação foi homologada no fim do ano passado pelo Supremo. Ele fechou o acordo depois que foi descoberta uma trama com a participação do ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) para evitar que Cerveró falasse. A PGR ofereceu denúncia ao STF acusando, além de Delcídio, o ex-presidente Lula, o banqueiro André Esteves, e o pecuarista José Carlos Bumlai, entre outros, por tentativa de obstrução à justiça. Todos negam ligação com a tentativa de compra do silêncio de Cerveró.
Em sua delação, Cerveró faz implicações a integrantes do PMDB, disse supor que a presidente afastada Dilma Rousseff tinha conhecimento de que políticos do PT recebiam propina da Petrobras
Ele afirmou ainda que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu-lhe um cargo público em 2008 como "reconhecimento" pela ajuda que ele prestou para quitar um empréstimo de R$ 12 milhões considerado fraudulento pela Operação Lava Jato.
Cerveró também atribuiu a Lula decisão de ter "concedido influência sobre a BR Distribuidora" ao senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL). Poder semelhante teria sido dado ao alagoano pela presidente Dilma Rousseff, conforme o delator alegou ter ouvido do senador.
Segundo Cerveró, por volta de setembro de 2013 ele foi chamado a Brasília para uma reunião com Collor na Casa da Dinda, residência do senador. Na ocasião, o senador disse ter falado com Dilma, "a qual teria dito que estavam à disposição de Fernando Collor a presidência e todas as diretorias da BR Distribuidora". Na delação, Cerveró contou ainda que chegou a perder parte de seu dinheiro no exterior em 2008. Segundo ele, parte da propina foi depositada num fundo do Madoff, tendo aplicado US$ 2 milhões. O ex-diretor disse ainda que "com a quebra desses fundos, perdeu cerca de US$ 700 mil dólares".
Nenhum comentário:
Postar um comentário