Morrendo pela boca
Por Eliane Cantanhede - Estadão
Depois vão dizer que é implicância da imprensa, mas como não publicar e não comentar essa profusão de notícias negativas para a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência? Quem cria os fatos, as notícias e os vexames não é a imprensa, é ele e a própria campanha.
Depois de admitir que não entende nada de nada, muito menos de economia, Bolsonaro saiu-se com uma gracinha: “Chama o Posto Ipiranga!”. Depois, esfaqueado brutalmente e internado no hospital, foi poupado de debates e entrevistas, mas toda hora dá uma bronca, ora no vice, ora no próprio Posto Ipiranga.
O economista Paulo Guedes, que é o tal posto (não poste, hein?), já teve de dizer que a ideia de recriar a CPMF não era bem assim e cancelou a ida a todos os debates, um atrás do outro. Já o vice, general Hamilton Mourão, não se emenda. Famoso por ter defendido a hipótese de intervenção militar quando ainda estava na ativa, ele é uma festa para repórteres ávidos por notícias, deslizes e manchetes.
Tem a história da “indolência” dos índios e da “malandragem” dos negros, que deram nisso aqui, o Brasil. Depois, a proposta de mudar a Constituição passando por cima do Congresso eleito por voto direto. Agora essa contra o que chamou de “jabuticabas brasileiras”: o 13.º salário e o adicional de férias para o trabalhador.
Às vésperas de ter alta do hospital, Bolsonaro subiu nas tamancas. Pelo Twitter, o capitão desautorizou o general, dizendo que o que ele andou falando, “além de uma ofensa a quem trabalha, é desconhecer a Constituição”.
O disse, o não disse e a sensação de total descontrole da candidatura confirmam o temor de setores militares responsáveis: essa campanha, com Bolsonaro e Mourão à frente, está tendo um efeito oposto ao que imaginavam. Em vez de ser favorável, pode ser negativa para as Forças Armadas, que não deveriam estar metidas nessa confusão.
Mas, se Bolsonaro fica bravo com Mourão e com Paulo Guedes, quem vai ficar furioso com ele próprio? Bobagem por bobagem, nenhum dos dois consegue ser pior do que o próprio Bolsonaro. No impeachment de Dilma Rousseff, fez loas ao coronel Brilhante Ustra, um dos símbolos da tortura no regime militar, e continuou colecionando manifestações ou patéticas ou escandalosas.
Segundo Bolsonaro, em resumo, mulheres devem ganhar menos que os homens, é melhor ter um filho morto do que gay e o erro das ditaduras foi não ter matado muito mais gente. E ele explica que, apesar de ter apartamento em Brasília, usava imóvel funcional da Câmara “pra comer gente”. E a imagem do candidato ensinando a criancinha a simular uma arma com as mãos?
A pergunta que fica é simples e angustiante: se na campanha já é assim, como seria, ou será, um governo de Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão e Paulo Guedes?
Na campanha de Geraldo Alckmin, as declarações chocantes não são de economia, política, democracia e costumes, como na de Bolsonaro. No caso dos tucanos, são contra o próprio candidato e o próprio PSDB! Fernando Henrique, João Doria, Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Bruno Araujo e Cássio Cunha Lima fizeram fila para esculhambar o partido, a campanha, o candidato. Bem no meio da eleição.
No PT, a presidente Gleisi Hoffmann parou de defender Nicolás Maduro e sumiu. E algum petista abriu a boca contra Fernando Haddad? Muitos eram contra ele, mas todos trabalham a favor, como se faz em partidos com organicidade e objetivo. Se há uma campanha em que todos batem continência ao comandante, não é a de tucanos nem a do capitão e do general, mas a do PT.
Assim se constroem derrotas e vitórias, e o PT sabe construir vitórias. Não venham praguejar depois.
Por Eliane Cantanhede - Estadão
Depois vão dizer que é implicância da imprensa, mas como não publicar e não comentar essa profusão de notícias negativas para a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência? Quem cria os fatos, as notícias e os vexames não é a imprensa, é ele e a própria campanha.
Depois de admitir que não entende nada de nada, muito menos de economia, Bolsonaro saiu-se com uma gracinha: “Chama o Posto Ipiranga!”. Depois, esfaqueado brutalmente e internado no hospital, foi poupado de debates e entrevistas, mas toda hora dá uma bronca, ora no vice, ora no próprio Posto Ipiranga.
O economista Paulo Guedes, que é o tal posto (não poste, hein?), já teve de dizer que a ideia de recriar a CPMF não era bem assim e cancelou a ida a todos os debates, um atrás do outro. Já o vice, general Hamilton Mourão, não se emenda. Famoso por ter defendido a hipótese de intervenção militar quando ainda estava na ativa, ele é uma festa para repórteres ávidos por notícias, deslizes e manchetes.
Tem a história da “indolência” dos índios e da “malandragem” dos negros, que deram nisso aqui, o Brasil. Depois, a proposta de mudar a Constituição passando por cima do Congresso eleito por voto direto. Agora essa contra o que chamou de “jabuticabas brasileiras”: o 13.º salário e o adicional de férias para o trabalhador.
Às vésperas de ter alta do hospital, Bolsonaro subiu nas tamancas. Pelo Twitter, o capitão desautorizou o general, dizendo que o que ele andou falando, “além de uma ofensa a quem trabalha, é desconhecer a Constituição”.
O disse, o não disse e a sensação de total descontrole da candidatura confirmam o temor de setores militares responsáveis: essa campanha, com Bolsonaro e Mourão à frente, está tendo um efeito oposto ao que imaginavam. Em vez de ser favorável, pode ser negativa para as Forças Armadas, que não deveriam estar metidas nessa confusão.
Mas, se Bolsonaro fica bravo com Mourão e com Paulo Guedes, quem vai ficar furioso com ele próprio? Bobagem por bobagem, nenhum dos dois consegue ser pior do que o próprio Bolsonaro. No impeachment de Dilma Rousseff, fez loas ao coronel Brilhante Ustra, um dos símbolos da tortura no regime militar, e continuou colecionando manifestações ou patéticas ou escandalosas.
Segundo Bolsonaro, em resumo, mulheres devem ganhar menos que os homens, é melhor ter um filho morto do que gay e o erro das ditaduras foi não ter matado muito mais gente. E ele explica que, apesar de ter apartamento em Brasília, usava imóvel funcional da Câmara “pra comer gente”. E a imagem do candidato ensinando a criancinha a simular uma arma com as mãos?
A pergunta que fica é simples e angustiante: se na campanha já é assim, como seria, ou será, um governo de Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão e Paulo Guedes?
Na campanha de Geraldo Alckmin, as declarações chocantes não são de economia, política, democracia e costumes, como na de Bolsonaro. No caso dos tucanos, são contra o próprio candidato e o próprio PSDB! Fernando Henrique, João Doria, Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Bruno Araujo e Cássio Cunha Lima fizeram fila para esculhambar o partido, a campanha, o candidato. Bem no meio da eleição.
No PT, a presidente Gleisi Hoffmann parou de defender Nicolás Maduro e sumiu. E algum petista abriu a boca contra Fernando Haddad? Muitos eram contra ele, mas todos trabalham a favor, como se faz em partidos com organicidade e objetivo. Se há uma campanha em que todos batem continência ao comandante, não é a de tucanos nem a do capitão e do general, mas a do PT.
Assim se constroem derrotas e vitórias, e o PT sabe construir vitórias. Não venham praguejar depois.
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