Dia 17 foi lançada, em Santarém, uma revista alusiva aos 50 anos da Rádio Rural, completados no corrente ano. A pedido do meu amigo e jornalista Manuel Dutra, escrevi um artigo (leia abaixo) contando alguns fatos referentes ao tempo em que atuei como locutor e apresentador de programas na referida emissora.
MINHA ESCOLA, MINHA PAIXÃO!
Por Ercio Bemerguy
O COMEÇO
Lembro-me
muito bem... Em fevereiro de 1965, estimulado pelo saudoso amigo e mestre Osmar
Simões, fui fazer um teste para preencher uma vaga no quadro de locutores da
Rádio Educadora de Santarém (hoje, Rádio Rural). Eram dez concorrentes e, após
o julgamento do desempenho de cada um na leitura de textos comerciais e
improvisação de um comentário obedecendo ao tema fornecido na hora, por Osmar,
fui classificado em primeiro lugar, sendo logo escalado para apresentar,
diariamente, o "Correspondente E-29", programa destinado a transmitir
mensagens aos habitantes das localidades do interior do município de Santarém e
cidades circunvizinhas.
No
estúdio instalado no pequeno prédio localizado no bairro Carananzal, ainda
muito nervoso e emocionado eu anunciava, por exemplo: "Alô, alô, Agapito Figueira, em Arapixuna! Sua esposa avisa que
chegou bem e está com muita saudade do Oswaldinho (o competente
profissional apresentador de programas em emissora de rádio FM e na televisão
de Santarém). Quem ouviu esta mensagem
favor transmiti-la ao destinatário".
A TRAJETÓRIA
Sempre
desfrutando da confiança e da generosidade dos gerentes (Antônio Pereira,
Francisca Carvalho, Haroldo Sena, Anadir Brito, Frei Juvenal e Manuel Dutra) e
demais dirigentes da emissora, passei a apresentar programas de variedades por
mim produzidos, sendo o primeiro deles o "Clube das Fãs" e,
posteriormente, o "Desperta Amazônia" e o "EB Faz o
Sucesso". Além destes, fazendo parceria com Osmar Simões, apresentei o
"Domingo Após a Missa", primeiro programa de auditório da nossa
querida rádio, na Casa Cristo Rei, das 9 às 12h, ou seja, após a missa das 8h
celebrada na Catedral de Nossa Senhora da Conceição. Tempos depois, o nome foi
mudado para "E-29 Show", e passou a ser apresentado aos domingos, das
20 às 22h no mesmo local, com transmissão ´ao vivo` pela Rádio Rural.
No
"EB faz o Sucesso" ou em transmissões externas, como repórter, tive a
grata satisfação de entrevistar muitas personalidades importantes: governadores
do Pará (Jarbas Passarinho, Fernando Guilhon, Aloisio Chaves e Jader Barbalho),
presidente da República (Emílio Garrastazu Médici), artistas (Jerry Adriani,
Wanderley Cardoso, Agnaldo Timoteo, Reginaldo Rossi, Jamelão e outros),
jogadores de futebol (Garrincha, Pelé e Zico), religiosos (arcebispo Dom
Alberto Ramos, bispos Dom Tiago e Dom Tadeu), prefeitos de Santarém (Paulo
Lisboa, Ubaldo Correa, Ronan Liberal, Everaldo Martins, Antônio Guerreiro
Guimarães, Jerônimo Diniz, Elinaldo Barbosa dos Santos e Ronaldo Campos).
O E-29 SHOW
Desembaraço,
inteligência, disposição, humildade e carisma, foram as qualidades que fizeram
do Edinaldo Mota, desde o início de sua carreira como radialista, um autêntico
ídolo, sempre sendo alvo da admiração, do respeito, da simpatia e do carinho
por parte de seus ouvintes. Por tudo isso, e muito mais, foi por mim convidado
e prontamente aceitou ser o meu parceiro, o “animador” do “E-29 Show”. Na sua
estréia, como é natural acontecer, ao enfrentar o grande público, mostrou-se
nervoso (ele afirma que foi até vaiado), mas, logo, logo, reverteu a situação e
demonstrou ser a pessoa certa para fazer a galera vibrar com o seu senso de
humor admirável. Foi uma época marcante na história do rádio santareno,
surgindo e sendo revelados através do nosso programa, inúmeros intérpretes,
compositores, instrumentistas e grupos musicais, com muito sucesso. Entre eles
e elas, Shirley Lima, Ray Brito, Fátima Oliveira, Leneide Bastos, Conceição
Rebelo, Luiz de Assis, Antônio Wanghon e Teddy Max.
A
atração que aglutinou maior número de espectadores do E-29 Show foi o “Festival
Estudantil” em suas 5 etapas e cujos jurados eram Expedito Toscano, Machadinho,
Wilson Fonseca e Emir Bemerguy. Os vencedores foram: Vera Silva (Melhor Cantora),
Antônio Wanghon (Melhor Cantor) e Bianor Lima (Revelação).
Por
ser um grande sucesso de público, de renda e de audiência, o “E-29 Show” foi
inovando, inclusive contratando artistas de renome do cenário artístico
nacional, mas, quando isto acontecia, as apresentações eram feitas em um palco
armado no gramado do Estádio Municipal Elinaldo Barbosa, com o público
acomodado nas arquibancadas. Jerry Adriani, José Roberto, o palhaço Carequinha,
Waldick Soriano, Jamelão, Wanderley Cardoso, Agnaldo Timoteo, Teixeirinha, Trio
Nordestino e Lindomar Castilho, em suas apresentações, atraíram número
expressivo de espectadores.
DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO
Durante
os seus 50 anos de fecunda existência, a Rádio Rural sempre desfrutou de grande
audiência e, sobretudo, da credibilidade de seus ouvintes. Sempre foi e
continua sendo, um respeitado veículo da informação atualizada, da mensagem
evangélica que conforta, da música que enleva, do esporte que emociona. E mais:
através da palavra dos competentes e corajosos profissionais que fizeram ontem
ou que fazem hoje o uso de seus microfones, a Rádio Rural tornou-se porta-voz
da população santarena que reclama, que pede providências, que sugere soluções
para que possa viver melhor.
Do
passado, merecem destaque os programas “Poemas e Canções”, apresentado pelos
saudosos Emir Bemerguy e Osmar Simões; “Show da Tarde”, de Santino Soares; “A
Tribuna Popular” e “O Assunto é Este”, do Osmar Simões; “Nossa Serenata”, de
Eriberto Santos; “Trenzinho do Sucesso”, do Edinaldo Mota e os esportivos, cuja
equipe era ´nota 10`: Dario Tavares, Tadeu Matos, Claudio Serique, Oti Santos,
Guarany Júnior, Abib Bechara, Luiz Carlos Botelho, Jota Parente, Bena Santana,
Miracildo Correa e muitos outros talentosos narradores, comentaristas e
repórteres, todos comandados por Osmar Simões.
Eu
guardo na memória, com muito carinho, os nomes dos ótimos locutores (Sinval
Ferreira, Natalino Souza, Eduardo Ferreira, Leal de Souza, Gervasio Bandeira,
Eulálio Belizário, Tony Reis e Walter Pinheiro, entre outros); dos
´controlistas de som` (Cesário Torres, irmãos Tadeu e Erasmo Maia, João Brito,
Jubal Cabral, Silvério Rodrigues, Juredir Braga, Evadir Cardoso e Wilton
Dolzanes); do pessoal do escritório (Getulio Sarmento e Conceição Castro), da
discotecária (Maria dos Remédios); do pessoal da assistência técnica (Frei
Nestor, Frei Roberto, Rostand Malheiros, Djalma Serique e Fernando Guarany),
enfim, de todos os colegas com os quais tive a felicidade de trabalhar e
conviver em clima de fraterna amizade e, acima de tudo, de entusiasmo e de
dedicação para fazermos, juntos, a grandeza da nossa emissora que sempre foi e
será o "xodó do povo".
COPA DO MUNDO DE 70
Já
que estamos em clima de Copa do Mundo, destaco aqui um fato interessante: na
Copa de 70, os santarenos dispunham de uma única opção para acompanhar os
jogos: ouviam as rádios - Rural ou Clube (ZYR-9) - que retransmitiam o som da
Rádio Globo, captado com a utilização de potentes aparelhos receptores de 6
faixas que, apesar do som que não era de boa qualidade, com muita ´chiadeira`
em alguns momentos, o público-ouvinte acompanhava atentamente e com muita
emoção, o relato das geniais jogadas dos craques da seleção brasileira: Pelé,
Rivelino, Jairzinho, Clodoaldo, Gerson e demais ´canarinhos`, que naquele ano
conquistaram o tricampeonato.
O
estúdio da Rádio Rural era na travessa dos Mártires, em frente à Casa Cristo
Rei. Ao lado do prédio havia uma grande área e, ali, debaixo de uma frondosa
mangueira, nos dias de jogos na nossa seleção, era estacionado o famoso jeep do
Otávio Pereira (Serviço de Propaganda Volante Guarany), com possantes
alto-falantes que retransmitiam o som da Rural. Vendedores de bebidas
´bamburravam` no faturamento, vendendo muitas ´geladas` às centenas de pessoas
que se juntavam naquele local em clima de muita euforia, muita festa.
Certamente,
se dispuséssemos naquela época dos recursos tecnológicos de hoje, naquele
aprazível espaço assistiríamos todos os jogos em grandes telões, ao vivo, pela
televisão. Faltava isso, é verdade, mas não faltava a empolgação, o entusiasmo,
para torcermos juntos pelo Brasil.
MINHA ESCOLA, MINHA PAIXÃO!
Ao
longo desses seus 50 anos, a Rádio Rural prosperou bastante. Transformou-se
numa emissora moderna, operando com o que existe de melhor em termos de
recursos tecnológicos e humanos, produzindo excelente programação. Para isso,
conta com profissionais altamente qualificados, em sua maioria gente nascida na
Pérola do Tapajós, prova de valorização dos talentos locais. E, da minha parte,
tenho o privilégio de dizer como o poeta: “meninos, eu vi”... como tudo isso
começou, e sinto saudade do convívio diário e fraterno com os meus colegas de
trabalho, pois atuávamos à base de colaboração mútua, transpondo todas as
dificuldades na mais perfeita sintonia do sentir, do pensar e do querer fazer
sempre o melhor, superando até mesmo as nossas próprias limitações. Valeu!
Parabéns, Rádio Rural, minha escola, minha paixão!
Finalizo
estas ´mal traçadas linhas` com este versinho que uma ouvinte enviou, em 1967,
ao meu programa “EB Faz o Sucesso”, por ocasião dos festejos do 3°aniversário
da nossa querida rádio:
Parabéns! ´Família Rural`
Gente boa, gente competente, gente
capaz
Gente amiga, gente trabalhadora, gente
leal
Colocando amor no que fez e no que faz