Depois de negarem dois conjuntos de benesses oferecidos pelo governo de Michel Temer, os caminhoneiros chegam ao nono dia de protesto nas rodovias do país. A paralisação desencadeou uma crise de desabastecimento de combustíveis.
Nesta segunda-feira, o presidente Michel Temer disse que a crise deve acabar logo, "se Deus quiser". Mais cedo, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) disse que as negociações se esgotaram. O governo agora pressiona a Polícia Federal para que faça prisões. Leia abaixo perguntas e respostas sobre o movimento.
Qual o motivo da manifestação?
O motivo é o custo do diesel. Hoje, ele remonta a valores de 2008,
quando o petróleo explodiu. Desde 2016, a política de preços da
Petrobras é repassar as flutuações nas cotações internacionais às
refinarias, o que significa que a alta do dólar impactou o custo do
frete, incomodando o setor de transporte.
No domingo (27), o presidente Michel Temer anunciou
que o reajuste passará a ser feito mensalmente (e não diariamente).
Visando atender as reivindicações dos manifestantes, Temer congelou o
preço do diesel por 60 dias, valor esse com desconto de R$ 0,46 nas
refinarias. O governo também se comprometeu a fazer que este valor chega
às bombas dos postos.
O que o governo ofereceu para eles no último acordo?
- Desconto de R$ 0,46 centavos no preços do diesel (redução corresponde a soma dos valores do PIS/Cofins e da Cide)
- O preço do óleo diesel, já com o desconto, será válido por 60 dias.
Depois período, os reajustes serão mensais e não mais diários
- Isenção da cobrança do eixo suspenso em todo o país via medida provisória
- Caminhoneiros autônomos terão 30%, pelo menos, dos fretes da Conab,
a Companhia Nacional de Abastecimento (medida estabelecida também via
medida provisória)
- Estabelecimento da tabela mínima de frete, conforme a lei 121 (também via medida provisória)
Por que os caminhoneiros ainda não estão satisfeitos?
Após o anúncio do presidente, a Abcam
(Associação
Brasileira dos Caminhoneiros) chegou a afirmar que a situação estava
resolvida e que os manifestantes poderiam voltar para casa. Mas não foi
isso que aconteceu. Na Régis Bittencourt, inclusive, mais pessoas se
juntaram aos protestos.
A redução de R$ 0,46 no preço do diesel ainda gera muita insatisfação
entre os caminhoneiros que estão nos protestos. Eles também pedem 90
dias de congelamento no valor do diesel.
Outras reivindicações iniciais atendidas pelo governo foram a
suspensão do pagamento de pedágio dos eixos suspensos (quando o caminhão
está vazio) e o preço mínimo para o frete.
A reportagem da Folha conversou com caminhoneiros em
protestos de diferentes regiões do país. Em Porto Alegre, Alexandre
Bastos de Araujo, 46, disse que a proposta oferecida por Temer "é uma
conta injusta, quem vai pagar é a sociedade e ele vai colocar a sociedade contra nós”, diz. Para o motorista, as medidas colocarão a sociedade contra os manifestantes.
Em São Paulo, na Anhanguera, João Paulo "Coco Seco" disse que "a greve não vai parar, só vai aumentar. R$ 0,46 não resolve nada". Proprietário de seis caminhões, Fábio Correia, 31, disse que precisa diminuir pelo menos R$ 1 do valor do óleo.
Nos protestos, muitos manifestantes pedem intervenção militar e o fim do governo Temer.
Quem lidera o movimento?
Não há uma linha direta entre os caminhoneiros autônomos e seus
"representantes". O governo Temer tem feito negociações ciente de que as
entidades não representam a totalidade da categoria, o que aumenta a
imprevisibilidade dos protestos.
O primeiro acordo, feito na quinta-feira (24), foi assinado pela
Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Confederação
Nacional do Transporte (CNT), Federação dos Caminhoneiros Autônomos de
Cargas em Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens) e outros sindicatos.
A Abcam, que abandonou a primeira reunião, disse que o "o assunto
está resolvido" após o anúncio do presidente no domingo. O presidente da
entidade, José da Fonseca Lopes, afirmou nesta segunda-feira (28) que o protesto "não é mais de caminhoneiro, mas de quem quer derrubar o governo".
Quem são os caminhoneiros bloqueando as estradas?
Quem protesta e faz bloqueios são caminhoneiros autônomos, que
representam cerca de 40% da categoria. As transportadoras (donas dos
veículos fretados, em oposição aos autônomos) não aderiram oficialmente
ao movimento, mas deixaram de fazer entregas, alegando preocupações com
segurança.
Há empresas apoiando o movimento?
Muitos caminhoneiros se organizam de forma autônoma, via grupos de WhatsApp, mas o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann,
disse que a área de inteligência do governo identificou indícios de
participação do setor empresarial, que, se comprovada, vai exigir ação
da Polícia Federal.
Por que o envolvimento de empresas seria problemático?
Enquanto o direito de greve é legítimo, garantido por lei, o locaute (pressão exercida por empresários para negociar com trabalhadores ou com o governo) é ilícito e pode ser considerado crime.
Esse é o ponto que será explorado pelo governo. O presidente Temer tem pressionado a Polícia Federal para acelerar as investigações e prender suspeitos de dar suporte ilegal ao movimento.